São Paulo, sexta, 3 de abril de 1998

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FESTIVAL DE DOCUMENTÁRIOS
'Eisenstein', o filme, faz jus ao gênio soviético

da Equipe de Articulistas

O soviético Serguei Eisenstein (1898-1948), um dos maiores cineastas de todos os tempos, ganha finalmente um documentário à sua altura: "Eisenstein - A Casa do Mestre", que o festival É Tudo Verdade exibe hoje (em vídeo), às 21h, no MIS.
Dirigido por Naum Kleijman, Marianna Kirejewa e Alexander Askin, o filme é uma co-produção russo-alemã que não deixa na sombra nenhum aspecto relevante da vida e da obra do diretor, roteirista, desenhista e teórico.
A riqueza da documentação visual e sonora do filme é espantosa. Não era para menos: Naum Kleijman é o guardião do espólio artístico e teórico do cineasta e provavelmente o maior entendido em Eisenstein do mundo.
Em ordem cronológica, o documentário articula organicamente a biografia do cineasta com a progressão de suas idéias e o desenvolvimento de seu trabalho. Do nascimento de Eisenstein, em Riga, na Letônia, até a morte, em 1948, acompanhamos passo a passo essa vida extraordinária.
O filme é estruturado sobre o eixo da inquietação do biografado e de seus constantes deslocamentos. Por isso, cada bloco é uma "casa": a "casa do pai", a "casa da revolução" etc.
Eisenstein, como se sabe, começou sua carreira artística no teatro, sob a égide do grande encenador expressionista russo Vsevold Meyerhold. Logo depois da Revolução de 1917, aderiu ao Exército Vermelho e trabalhou ativamente no Proletkult (Teatro de Cultura Proletária).
Antes de dirigir seu primeiro filme - "A Greve", de 1925-, passou por um período efervescente de experimentações, estudos e reflexões, no qual desenvolveu a base de sua teoria da montagem dialética, segundo a qual duas imagens contrapostas de modo não-linear (ou não-narrativo) produzem na mente do espectador uma terceira idéia, virtual e abstrata.
"Eisenstein - A Casa do Mestre" reconstrói de modo vibrante as buscas de Eisenstein, bem como sua educação estética nas artes plásticas, no teatro popular, no cinema expressionista alemão.
Depois disso, mostra a acidentada evolução de sua obra, quase sempre em atrito com o poder soviético (leia-se Stálin).
O documentário recupera a história de cada um dos projetos inacabados ou abortados de Eisenstein: "Que Viva México", "O Prado de Bezhin", a terceira parte de "Ivan, o Terrível".
Há imagens raras e preciosas: Eisenstein dando aulas na universidade, falando no Congresso de Cineastas Soviéticos, desenhando, dirigindo atores, brincando...
Os trechos de filmes do cineasta são escolhidos não apenas de acordo com critério informativo, mas também para sublinhar o clima dramático de sua biografia.
Aliás, o que salta aos olhos, nesse documentário, é o amor de seus realizadores pelo cinema. Não há momentos feios ou enfadonhos. Todos os episódios narrados são ilustrados por cenas de filmes pertinentes, mesmo que não sejam de Eisenstein.
Um exemplo simples: quando se fala do casamento dos pais do cineasta, a imagem apresentada é uma cena da "Marcha Nupcial", de Erich Von Stroheim. Montagem inteligente e dialética, enfim, como queria Eisenstein.
(JOSÉ GERALDO COUTO)

Filme: Eisenstein - A Casa do Mestre Produção: Alemanha/Rússia, 1997 Direção: Naum Klejman, Marianna Kirejewa e Alexander Askin Quando: hoje, às 21h, no MIS


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