São Paulo, Sábado, 03 de Abril de 1999
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ARTES CÊNICAS
Peça relembra Calvário

CLÁUDIA GURFINKEL
free-lance para a Folha

Uma das três peças brasileiras convidadas a participar do Festival de Teatro de Avignon, o mais famoso e tradicional evento da França dedicado às artes cênicas, estará hoje e amanhã no Sesc Pompéia. "O Auto da Paixão - 12 Cânticos de Amor e Morte", de Romero de Andrade Lima, narra a paixão e morte de Cristo por meio de cânticos e encenações, com 13 pastorinhas e um pastor percorrendo 12 esculturas.
O diretor retrata a tradição nordestina dos reisados e pastoris, realizando uma procissão que une o sagrado e o profano.
A religião, na peça de Lima, é o elemento central, refletindo diretamente o chamado sentimento nacional. "Tudo o que melhor se produziu de arte no mundo estava ligado à religião", diz o diretor.
O espetáculo surgiu a partir de uma exposição de Lima, que além de autor e diretor é artista plástico, em maio de 1993. Ele teve a idéia de criar cenas para uma vernissage sua que acontecia numa galeria de São Paulo, fazendo com que as esculturas "ganhassem vida" interagindo com a forma humana e com a música.
O que seriam três apresentações acabou virando uma peça. Os atores se juntaram e criaram a companhia teatral Circo Branco, hoje com 14 membros.
A montagem, que completa seis anos no dia 13 de maio, não sofreu nenhuma modificação desde que foi encenada pela primeira vez. Já tendo sido apresentada na Itália, irá participar do Festival de Almada, em Portugal, antes de seguir para Avignon.
Por retratar um tema sacro, a peça não é só atemporal, mas também universal. A história é conhecida em todo o mundo. Por isso Lima acha que os franceses vão gostar muito e se encantar com as melodias populares do Nordeste brasileiro.
"O espetáculo é um cartão de visita do Brasil, uma viagem sonora por um país ingênuo e brejeiro", afirma Mônica Nassif, uma das pastorinhas.
As toadas presentes no espetáculo, como "A Chamada das Pastorinhas", costumavam ser ouvidas por Lima em sua infância, na casa de seu tio, o escritor Ariano Suassuna.
Mas não é só a música que dá o tom do espetáculo. A arte visual, com os oratórios em madeira e as estátuas em materiais como gesso e concreto, chama a atenção do público durante a encenação. Além disso, a iluminação é feita com velas.

Peça: O Auto da Paixão Quando: hoje e amanhã, às 20h Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, tel. 3871-7777) Quanto: entrada franca


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