São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2000


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MÚSICA

"Estou aprendendo muito com Milton", diz Gil

Cristian Cravo/Folha Imagem
O cantor e compositor baiano Gilberto Gil, que grava disco com Milton Nascimento, planeja álbum em homenagem a Bob Marley, organiza festival de percussão e participa de trilhas para filmes


TOM CARDOSO
especial para a Folha

Gilberto Gil tem contrariado os ensinamentos de Dorival Caymmi. Beirando os 60 anos, não sabe o que é preguiça. Assina trilhas sonoras, organiza festivais, apresenta documentários na TV, dá canja em discos, faz shows e ainda reserva tempo para entrar em estúdio e gravar um CD com o perfeccionista Milton Nascimento.
O compositor concedeu entrevista à Folha de seu escritório no Rio de Janeiro. A pedido de Milton, não pode falar muito do disco inédito em parceria, que começou a ser gravado em março, durante o Carnaval baiano, e chega às lojas em agosto. Porém algumas músicas já estão confirmadas no repertório, como "Cravo e Canela" e "Canção do Sal", esta última gravada por Milton na época em que eles se conheceram em São Paulo, quando Gil apresentou-o a Elis Regina.
Gil já gravou discos em parceria com Caetano Veloso, Jorge Ben Jor, Rita Lee, compôs com Chico Buarque, mas nunca tinha feito nada com Milton. "Ele sempre foi uma pessoa reservada, tímida, a gente se encontrou muito pouco", conta Gil, que se aproximou de Milton durante uma recente viagem de avião, quando ambos voltavam de Salvador para o Rio de Janeiro. "Sentamos juntos e conversamos longamente, observando a paisagem de Belo Horizonte lá do alto. Depois disso, um empresário dele me ligou dizendo que Milton gostaria de gravar um disco comigo e desde então tem sido ótimo trabalhar com ele."
Os dois já compuseram três canções inéditas em parceria e pretendem gravar mais duas. O repertório terá ainda versões dos Beatles, Ary Barroso e Dorival Caymmi. No pouco tempo que passou com Milton dentro do estúdio, Gil se impressionou com o perfeccionismo do parceiro. "Achei que o Milton, com esse jeito tímido, poderia denotar uma certa insegurança, mas não. Pelo contrário. É muito seguro e preciso, cobra imediatamente se eu esqueci um detalhe, tenho aprendido muito com ele."
Com o convite de Milton, Gil teve de adiar as gravações do disco em homenagem a Bob Marley, um de seus maiores ídolos. Principal precursor do reggae no país, autor de "Vamos Fugir", "A Raça Humana" e "A Mão da Limpeza", o músico deve ter convidados ilustres no CD, como Ziggy Marley, Djavan e Paralamas do Sucesso. "Não será um disco de covers. Vou fazer novos arranjos, com uma boa pitada de samba e de baião", adianta o músico, que pretende escrever uma canção em homenagem a Marley.
Antes de partir para a edição de Paris do Percpan, onde vai se apresentar ao lado de Egberto Gismonti, Milton Nascimento, Martinho da Vila, Alceu Valença e outras atrações, Gil irá acompanhar, neste mês, o lançamento nacional de "Eu, Tu, Eles", longa-metragem de estréia do diretor Andrucha Waddington. O compositor baiano assina a direção musical do filme e toda a trilha sonora, que terá três canções inéditas: "O Amor Daqui da Casa", "Pegadas do Amor", "Xote dos Meninos" e regravações de clássicos de Luiz Gonzaga, como "Asa Branca", "Juazeiro", "Assum Preto", "Baião da Penha" e "A Volta da Asa Branca".
Fanático por cinema, Gil compôs a trilha sonora para os filmes "Brasil Ano 2000", de Walter Lima Junior, "Jubiabá", de Nelson Pereira dos Santos, "Quilombo" e "Um Trem para as Estrelas", ambos de Cacá Diegues.
Gil ficou surpreso com a qualidade do filme. "Além de ser essa presença forte da nordestinidade (o longa é todo rodado em Juazeiro, na Bahia), os atores estão ótimos. Lima (Duarte) e Stênio Garcia arrasaram, e a Regina (Casé) voltou a fazer um grande trabalho de atriz", elogia Gil, que atualmente pode ser visto apresentando o documentário "Música do Brasil", na MTV, produção de 15 programas sobre os diversos gêneros da música brasileira.


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