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GASTRONOMIA
DEPOIS DO SUSHI
Além de pratos conhecidos, restaurantes inovam receitas
Japoneses hamonizam tradicional com ocidental
JOSIMAR MELO
COLUNISTA DA FOLHA
O sushi já ganhou São Paulo faz
tempo. Não fica mais recluso no
bairro da Liberdade e não é feito
somente por japoneses. A cozinha
quente do Japão, embora desperte menos frisson no público, também tornou-se familiar. O yakisoba (macarrão frito com legumes e
carnes), o tempura (legumes e
peixes empanados) e o teppan
(carnes e peixes preparados na
chapa de ferro) são conhecidos e
populares.
Mas não é somente nesse universo tradicional que transita a
cozinha de alguns dos melhores
restaurantes japoneses da cidade.
Em nenhum deles faltam sushis e
sashimis, tampouco, os pratos
quentes mais conhecidos. Alguns
chefs, porém, não mais se contentam com o tradicional e passam a
servir pratos inovadores, que
mesclam as características da cozinha ocidental com a japonesa.
Curiosamente, o restaurante
que mais longe leva a experimentação é o mais discreto deles. Longe dos Jardins, o Kinoshita fica
pacificamente instalado na velha
Liberdade, entre alguns outros
bons japoneses. Tem a fachada
simples, uma ambientação típica
do bairro e, acredite, um cardápio
absolutamente convencional.
Mas é onde está o chef Tsuyoshi
Murakami, cujas habilidades extra-cardápio atraem uma legião
de empedernidos admiradores.
Um cliente que pede a lista de
pratos não verá nada de diferente.
Se pedir sushis e sashimis, não comerá nada de excepcional, apesar
da boa qualidade. Por algum mistério que ele não explica de forma
convincente, Murakami não inclui suas criações no cardápio.
"Faço pratos diferentes só para
os clientes que pedem. Por enquanto, não tenho interesse em
colocá-los no cardápio. E, quando
pedem, eu gosto de ir para a cozinha inventar. Trabalho o equilíbrio de sabores, preservando as
raízes japonesas e o equilíbrio da
matéria-prima, preservando a
personalidade de cada produto."
O que faz de Murakami o mais
interessante criador entre os japoneses de São Paulo é a síntese de
diversas cozinhas. Ali não se produz cozinha japonesa com ingredientes franceses, nem pratos ocidentais com produtos franceses.
É algo de novo e renovado a cada
dia de acordo com o que há na cozinha, do pé de porco ao macarrão italiano.
Os clientes mais aficionados
costumam pedir um menu-degustação, que tem por volta de
dez pratos decididos na hora (R$
80). Pode haver uma entrada de
mozzarella artesanal de búfalo
com gengibre ralado e cebolinha;
uma excitante taça de ostras abertas na hora temperadas com sake,
limão e tabasco. Quando há ouriço do mar, é acrescido de ova de
salmão e gema de ovo de codorna.
Como prato principal, a opção
do dia pode ser a posta de atum
grelhada só por fora, fatiada e servida com molho de miso e cebolão (R$ 30). Ou um sashimi de salmão marinado uma hora em sal e
uma hora em vinagre de arroz:
"Para tirar o enjoativo e deixar o
salmão mais elegante" (R$ 35),
explica o chef Murakami, cujo
aprendizado se deu na prática em
passagens por restaurantes no Japão, nos EUA e em Barcelona.
No caso do restaurante Jun Sakamoto, o panorama é diverso.
Neste, instalado em setembro
passado em Pinheiros, o que brilha são os sushis impecáveis preparados pelo proprietário. Mas há
uma cozinha quente interessante,
embora neste caso os pratos mais
curiosos estejam mais presos à
fórmula de ser uma cozinha basicamente francesa com um tratamento oriental.
"Nossa proposta básica é o sushi, que eu preparo há 17 anos, e
não pretendo inovar muito", conta Jun, que, desde a saída de seu irmão Marcelo da sociedade, passou a supervisionar os pratos
quentes. "Já que a cozinha francesa moderna buscou influências
no Japão, é natural que um restaurante japonês utilize as práticas francesas", diz.
Mesmo na área do sushi ele introduz novidades como o sushi de
atum com foie gras picadinho (R$
6 cada).
Mas é na cozinha quente que o
lado francês mais se manifesta.
Exemplo: o confit de pato (pato
cozido e conservado na gordura)
desfiado refogado, servido com
purê de batata aromatizado com
gengibre e molho de vinho do
Porto (R$ 13,50).
Ou ainda, toda a seção de teppans (carnes na chapa), em que
utiliza ingredientes como o peito
de pato ou costeletas de cordeiro.
Na linha mais japonesa, há pratos
como o chawan mushi, um creme
de ovos nos quais acrescenta lagostins e lascas de limão siciliano.
Uma linha semelhante é a adotada pelo Rangetsu de Tokyo, outro japonês de Pinheiros, onde está instalado numa casa ampla e
confortável, com requintes ocidentais. Propriedade de uma
grande empresa japonesa de incenso, o Rangetsu existe no Japão
e nos Estados Unidos.
Ele serve sushis de qualidade e,
ao lado dos pratos convencionais
da cozinha, serve também opções
afrancesadas. "A cozinha japonesa se internacionalizou; os sushis
ganharam o mundo e passaram
até a ter versões que se adaptaram
ao gosto ocidental. Agora há também pratos ocidentais que usam
as técnicas japonesas", diz o consultor Toshio Furihata, que orienta as operações do restaurante no
Brasil desde sua inauguração, em
maio de 2000.
"O chef Inoue, que cuida da
nossa cozinha, é japonês, mas
passou por uma experiência nos
EUA, ganhando uma visão internacional", acrescenta Furihata.
Seu cardápio oferece os pratos
tradicionais, como o chabu-chabu ou o sukiyaki (pratos de carne
preparados em panela, à mesa).
Mas há também um setor dedicado a pratos descritos como contemporâneos.
É onde entra, por exemplo, o filé
mignon grelhado com molho mas
no lugar da mostarda, tipicamente francesa, o molho é de wasabi
(raiz-forte), a R$ 26 (no jantar) e
R$ 24 (no almoço).
Seguem na mesma linha o salmão grelhado ao molho de miso
com maracujá (R$ 26) e o combinado de filé mignon e filé de frango grelhado ao molho teriyaki (R$
24).
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