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"DEPOIS DO ESPETÁCULO"
Em seu 12º livro, crítico traz ensaios e palestras sobre encenadores, dramaturgos e atores
Magaldi soma recorte à memória teatral
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Há 53 anos revezando as funções de crítico e historiador, o mineiro Sábato Magaldi, 75, aprendeu que, quando o assunto é teatro, é preciso transitar com desenvoltura pelos planos da memória
e da consciência.
Apesar de ter abandonado a crítica jornalística há 15 anos, ele segue esquadrinhando a história do
teatro brasileiro, fiel à caneta e à
velha máquina de escrever.
Mal lança "Depois do Espetáculo", conjunto de ensaios, palestras
e análises que sai agora pela editora Perspectiva, e seu segundo volume já está quase pronto.
No entanto, há mais memórias
nesse baú do que a vã consciência
possa imaginar. E a "Crônica da
Vida Teatral", que alimenta desde
1963 e já soma 47 cadernos de 400
páginas cada um?
E a adaptação de sua tese de
doutorado sobre Oswald de Andrade? E o ensaio no qual estuda a
simbiose do encenador Antunes
Filho com o dramaturgo Nelson
Rodrigues? São alguns exemplos
de projetos que Magaldi desenvolve com a devida parcimônia.
"Depois do Espetáculo", o 12º livro do autor, elenca 57 textos sobre dramaturgos, encenadores,
atores, cenógrafos ou tendências
da cena local e mundial.
Estão lá, por exemplo, os colegas críticos e teóricos Decio de Almeida Prado, o italiano Ruggero
Jacobbi e o alemão Anatol Rosenfeld; o dramaturgo norte-americano Eugene O'Neill, o irlandês
Samuel Beckett, o santista Plínio
Marcos e o pernambucano Nelson Rodrigues; os atores Procópio
Ferreira, Sérgio Cardoso, Fernanda Montenegro, Maria Della Costa e Dercy Gonçalves; e o cenógrafo Flávio Império.
No último capítulo, ele retoma a
peleja com o Oficina de José Celso
Martinez Corrêa por ocasião da
montagem de "Gracias Señor"
(1972), criação coletiva. Sua crítica, à época, ganhou "carta aberta"
de Zé Celso, que o chamou de
"reacionário". No livro, "como
um rompimento definitivo", Magaldi republica sua resposta, escrita naquele ano.
A seguir, a entrevista que o historiador respondeu por escrito.
Folha - Entre os perfis de algumas
personalidades ou análises, quais
artigos o sr. aponta como inéditos?
Sábato Magaldi - Por incrível
que pareça, não me lembro o que
era inédito. Talvez somente a
"Síntese Histórica" do início,
"Teatro Hoje e no Futuro", a palestra sobre os dramaturgos da
Academia Brasileira de Letras no
ano do centenário, a saudação
que fiz, também na academia, a
Václav Havel, dramaturgo e presidente da República Tcheca, e,
naturalmente, a resposta a uma
agressão recebida.
Folha - A seleção desse "panorama", em todos os aspectos, pode
ser entendida, também, como um
recorte das preferências estéticas
ou afetivas do crítico e historiador?
Magaldi - Não chego a ter tanta
coisa escrita para publicar apenas
as preferências. Um livro se completa, sem dúvida, com o que não
satisfaz muito, também, ao autor.
Folha - Passados mais de cinco
décadas de dedicação à prática ou
reflexão da crítica teatral, o sr., em
algum momento, se viu traído por
algum ponto de vista conservador?
"O tempo não nos converte em conservadores", escreve o sr. no artigo
"A Função da Crítica Teatral".
Magaldi - Não é vaidade, não,
mas não tenho na consciência nenhum pecado de ter defendido
uma posição conservadora. Ainda estudante, em Paris, divulguei
com entusiasmo, no "Diário Carioca", tudo o que se apresentava
como vanguarda. Minha crítica
sobre "Esperando Godot", de Samuel Beckett, foi das primeiras a
sair não só na França.
Folha - O sr. vem trabalhando em
outros volumes?
Magaldi - Venho trabalhando
em três projetos: a publicação de
minha tese de doutoramento sobre o teatro de Oswald de Andrade, defendida no longínquo ano
de 1972; o segundo volume de
"Depois do Espetáculo", a que darei novo título; e a continuação de
"Moderna Dramaturgia Brasileira". Acalento ainda a esperança
de escrever um livro sobre o "Don
Juan", de Molière, peça que me
fascina.
Folha - O ensaísta tem saudade
do crítico, do corpo-a-corpo diário
com o teatro?
Magaldi - Deixei a crítica jornalística porque, no último ano
[1988", escrevi sobre 152 espetáculos. Não há interesse que resista a
esse acúmulo. Mas me consolo
com os comentários que faço em
cadernos, já em número de 47 (de
400 páginas cada um), a que dei o
título de "Crônica da Vida Teatral", e cujo destino ainda ignoro.
DEPOIS DO ESPETÁCULO. Autor:
Sábato Magaldi. Editora: Perspectiva.
Quanto: R$ 40 (327 págs.)
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