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São Paulo, sábado, 03 de maio de 2003

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"DEPOIS DO ESPETÁCULO"

Em seu 12º livro, crítico traz ensaios e palestras sobre encenadores, dramaturgos e atores

Magaldi soma recorte à memória teatral

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Há 53 anos revezando as funções de crítico e historiador, o mineiro Sábato Magaldi, 75, aprendeu que, quando o assunto é teatro, é preciso transitar com desenvoltura pelos planos da memória e da consciência.
Apesar de ter abandonado a crítica jornalística há 15 anos, ele segue esquadrinhando a história do teatro brasileiro, fiel à caneta e à velha máquina de escrever.
Mal lança "Depois do Espetáculo", conjunto de ensaios, palestras e análises que sai agora pela editora Perspectiva, e seu segundo volume já está quase pronto.
No entanto, há mais memórias nesse baú do que a vã consciência possa imaginar. E a "Crônica da Vida Teatral", que alimenta desde 1963 e já soma 47 cadernos de 400 páginas cada um?
E a adaptação de sua tese de doutorado sobre Oswald de Andrade? E o ensaio no qual estuda a simbiose do encenador Antunes Filho com o dramaturgo Nelson Rodrigues? São alguns exemplos de projetos que Magaldi desenvolve com a devida parcimônia.
"Depois do Espetáculo", o 12º livro do autor, elenca 57 textos sobre dramaturgos, encenadores, atores, cenógrafos ou tendências da cena local e mundial.
Estão lá, por exemplo, os colegas críticos e teóricos Decio de Almeida Prado, o italiano Ruggero Jacobbi e o alemão Anatol Rosenfeld; o dramaturgo norte-americano Eugene O'Neill, o irlandês Samuel Beckett, o santista Plínio Marcos e o pernambucano Nelson Rodrigues; os atores Procópio Ferreira, Sérgio Cardoso, Fernanda Montenegro, Maria Della Costa e Dercy Gonçalves; e o cenógrafo Flávio Império.
No último capítulo, ele retoma a peleja com o Oficina de José Celso Martinez Corrêa por ocasião da montagem de "Gracias Señor" (1972), criação coletiva. Sua crítica, à época, ganhou "carta aberta" de Zé Celso, que o chamou de "reacionário". No livro, "como um rompimento definitivo", Magaldi republica sua resposta, escrita naquele ano.
A seguir, a entrevista que o historiador respondeu por escrito.
 
Folha - Entre os perfis de algumas personalidades ou análises, quais artigos o sr. aponta como inéditos?
Sábato Magaldi -
Por incrível que pareça, não me lembro o que era inédito. Talvez somente a "Síntese Histórica" do início, "Teatro Hoje e no Futuro", a palestra sobre os dramaturgos da Academia Brasileira de Letras no ano do centenário, a saudação que fiz, também na academia, a Václav Havel, dramaturgo e presidente da República Tcheca, e, naturalmente, a resposta a uma agressão recebida.

Folha - A seleção desse "panorama", em todos os aspectos, pode ser entendida, também, como um recorte das preferências estéticas ou afetivas do crítico e historiador?
Magaldi -
Não chego a ter tanta coisa escrita para publicar apenas as preferências. Um livro se completa, sem dúvida, com o que não satisfaz muito, também, ao autor.

Folha - Passados mais de cinco décadas de dedicação à prática ou reflexão da crítica teatral, o sr., em algum momento, se viu traído por algum ponto de vista conservador? "O tempo não nos converte em conservadores", escreve o sr. no artigo "A Função da Crítica Teatral".
Magaldi -
Não é vaidade, não, mas não tenho na consciência nenhum pecado de ter defendido uma posição conservadora. Ainda estudante, em Paris, divulguei com entusiasmo, no "Diário Carioca", tudo o que se apresentava como vanguarda. Minha crítica sobre "Esperando Godot", de Samuel Beckett, foi das primeiras a sair não só na França.

Folha - O sr. vem trabalhando em outros volumes?
Magaldi -
Venho trabalhando em três projetos: a publicação de minha tese de doutoramento sobre o teatro de Oswald de Andrade, defendida no longínquo ano de 1972; o segundo volume de "Depois do Espetáculo", a que darei novo título; e a continuação de "Moderna Dramaturgia Brasileira". Acalento ainda a esperança de escrever um livro sobre o "Don Juan", de Molière, peça que me fascina.

Folha - O ensaísta tem saudade do crítico, do corpo-a-corpo diário com o teatro?
Magaldi -
Deixei a crítica jornalística porque, no último ano [1988", escrevi sobre 152 espetáculos. Não há interesse que resista a esse acúmulo. Mas me consolo com os comentários que faço em cadernos, já em número de 47 (de 400 páginas cada um), a que dei o título de "Crônica da Vida Teatral", e cujo destino ainda ignoro.


DEPOIS DO ESPETÁCULO. Autor: Sábato Magaldi. Editora: Perspectiva. Quanto: R$ 40 (327 págs.)


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