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Montagem adapta Jabor dos anos 60
PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO
"Não tenho idéia de quem sejam essas pessoas. Mande que me
procurem... Se me pedissem, eu liberaria." Assim Arnaldo Jabor,
60, recebe a notícia de que a sua
peça "A Estória do Formiguinho
ou Deus Ajuda os Bão" estréia hoje em São Paulo.
Segundo o grupo Sátiros Gagás,
responsável pela adaptação do
texto que inicia temporada dentro
da quarta fase do projeto Mutirão,
entretanto, o aval foi dado. "Solicitamos uma autorização no ano
passado, concedida", afirma a diretora do espetáculo, Estela Lapponi, 29. A versão é confirmada
pela secretária de Jabor. "Só se me
pediram isso há muito tempo e eu
me esqueci", emenda o autor.
A memória do dramaturgo de
então, hoje cronista, comentarista
político, porém, não claudica
quando ele principia a falar da
obra, gestada nos anos 60.
"Essa peça foi escrita há milhões
de anos atrás, em 62. Tinha me
metido na União Nacional dos Estudantes (UNE) e no Centro Popular de Cultura (CPC). Havia nela as influências de uma outra peça, que ninguém mais conhece: "A
Mais-Valia Vai Acabar, Seu Edgar", de Oduvaldo Vianna Filho."
Formiguinho quer construir
uma porta no seu barraco. Sem
conseguir uma licença para tal fito, ele empreende um périplo por
várias instâncias e chega a aportar
nos EUA, onde se encontra com o
presidente norte-americano, em
busca de uma solução. Após o giro malogrado, retorna à favela e
realiza o intento "no peito". "Tinha aquela coisa de assumir politicamente um desejo", diz Arnaldo Jabor, que considera o texto
"uma transação antiga, juvenil".
Ele declara não se recordar de
nenhuma iniciativa de levar a saga
ao palco nas últimas décadas.
"Depois de 64, acabou, mas antes
o espetáculo era encenado por
sindicatos, igrejas." Lapponi já
montou a peça, em 96.
Sua adaptação com os Sátiros
Gagás, realizada no Teatro Escola
Macunaíma em julho passado,
com temporada profissional em
outubro de 2002, no Studio das
Artes, introduz um coro de rap,
referências contemporâneas
-Saddam Hussein, "Big Brother"-, desloca a trama do Rio
para São Paulo e varia o desfecho.
O protagonista não erige a portinhola. Nem deflagra a revolução.
"Na montagem, tudo não passa
de um devaneio de Formiguinho,
de sua imaginação", responde a
encenadora, atriz do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos.
A ESTÓRIA DO FORMIGUINHO OU
DEUS AJUDA OS BÃO. Texto: Arnaldo
Jabor. Direção: Estela Lapponi.
Adaptação e interpretação: grupo
Sátiros Gagás. Onde: teatro Plínio Marcos
(r. Clélia, 33, SP, tel. 0/xx/11/3864-3129).
Quando: sáb., às 21h; até 28/6. 60 min.
Dez anos. Quanto: R$ 12.
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