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São Paulo, sábado, 03 de maio de 2003

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Montagem adapta Jabor dos anos 60

PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO

"Não tenho idéia de quem sejam essas pessoas. Mande que me procurem... Se me pedissem, eu liberaria." Assim Arnaldo Jabor, 60, recebe a notícia de que a sua peça "A Estória do Formiguinho ou Deus Ajuda os Bão" estréia hoje em São Paulo.
Segundo o grupo Sátiros Gagás, responsável pela adaptação do texto que inicia temporada dentro da quarta fase do projeto Mutirão, entretanto, o aval foi dado. "Solicitamos uma autorização no ano passado, concedida", afirma a diretora do espetáculo, Estela Lapponi, 29. A versão é confirmada pela secretária de Jabor. "Só se me pediram isso há muito tempo e eu me esqueci", emenda o autor.
A memória do dramaturgo de então, hoje cronista, comentarista político, porém, não claudica quando ele principia a falar da obra, gestada nos anos 60.
"Essa peça foi escrita há milhões de anos atrás, em 62. Tinha me metido na União Nacional dos Estudantes (UNE) e no Centro Popular de Cultura (CPC). Havia nela as influências de uma outra peça, que ninguém mais conhece: "A Mais-Valia Vai Acabar, Seu Edgar", de Oduvaldo Vianna Filho."
Formiguinho quer construir uma porta no seu barraco. Sem conseguir uma licença para tal fito, ele empreende um périplo por várias instâncias e chega a aportar nos EUA, onde se encontra com o presidente norte-americano, em busca de uma solução. Após o giro malogrado, retorna à favela e realiza o intento "no peito". "Tinha aquela coisa de assumir politicamente um desejo", diz Arnaldo Jabor, que considera o texto "uma transação antiga, juvenil".
Ele declara não se recordar de nenhuma iniciativa de levar a saga ao palco nas últimas décadas. "Depois de 64, acabou, mas antes o espetáculo era encenado por sindicatos, igrejas." Lapponi já montou a peça, em 96.
Sua adaptação com os Sátiros Gagás, realizada no Teatro Escola Macunaíma em julho passado, com temporada profissional em outubro de 2002, no Studio das Artes, introduz um coro de rap, referências contemporâneas -Saddam Hussein, "Big Brother"-, desloca a trama do Rio para São Paulo e varia o desfecho. O protagonista não erige a portinhola. Nem deflagra a revolução.
"Na montagem, tudo não passa de um devaneio de Formiguinho, de sua imaginação", responde a encenadora, atriz do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos.


A ESTÓRIA DO FORMIGUINHO OU DEUS AJUDA OS BÃO. Texto: Arnaldo Jabor. Direção: Estela Lapponi. Adaptação e interpretação: grupo Sátiros Gagás. Onde: teatro Plínio Marcos (r. Clélia, 33, SP, tel. 0/xx/11/3864-3129). Quando: sáb., às 21h; até 28/6. 60 min. Dez anos. Quanto: R$ 12.


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