São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2006

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Stálin espião será tema de outro livro do autor

DA REDAÇÃO

Montefiore levanta uma hipótese um tanto impressionante em "Stálin - A Corte do Czar Vermelho", mas, mesmo que você atravesse as exaustivas 727 páginas do livro, continuará sem saber se ela é verdadeira ou não.
O historiador, que deve vir ao Brasil no segundo semestre para divulgá-lo, considera possível, por conta de evidências que não explica muito bem, que Stálin poderia ter sido um colaborador da Okhrana, a polícia secreta do czar. Isso porque teria recebido, sempre que preso durante a vida clandestina, penas muito leves, o que denotaria um certo favorecimento por conta de serviços prestados. "É preciso levar em conta o fato de que, na clandestinidade, a espionagem e a contra-espionagem eram comuns. Stálin era um mestre da espionagem."
Porém, para saber mais sobre essa possibilidade um tanto extraordinária, devemos esperar até o ano que vem, quando Montefiore lança, no Reino Unido, o livro no qual está trabalhando agora, "The Young Stálin" (o jovem Stálin).
Por enquanto, resta a descrição de como os bolcheviques transpuseram ao regime esse clima de boataria e vigilância mútua dos tempos em que atuaram às escuras. Por isso construíram o novo governo sobre a paranóia, os boatos, o glamour pela violência, o melodrama heróico e o gestual teatral.
A preocupação com a saúde, vinculada ao desgaste com a luta pelo poder, também era obsessiva. Stálin surge como um obcecado por seu estado físico, e Montefiore define a correspondência entre os líderes como "atas de uma convenção de hipocondríacos".
Sabemos, ainda, pela descrição do autor, que Stálin tinha certa vergonha de sua aparência, pois seu braço esquerdo era menor do que o direito (o que pode parecer um tanto irônico). Mas era enérgico, carismático, charmoso com as mulheres e talentoso para cantar -dizia-se, inclusive, que poderia ter se tornado um cantor profissional (ao que Montefiore acrescenta, com graça, "possibilidade histórica difícil de imaginar"). E, diferentemente do que se costuma pensar, era um voraz leitor.
Mas Montefiore não ficou imune a críticas. Por exemplo, a de que teria ignorado além da conta o contexto político internacional da época. A ação, de fato, ocorre mais dentro do próprio Kremlin, expondo o ambiente de promiscuidade do poder, do que fora dele ou mesmo dos limites do território soviético. O escritor rebate. "Eu não poderia ter sido mais claro na introdução, quando digo que esse não é um livro de história política, nem militar, nem diplomática, nem ideológica. É uma história da corte de Stálin. Se tivesse feito um panorama histórico amplo, não poderia me deter aos detalhes, que eram o que me interessava." (SC)


Stálin - A Corte do Czar Vermelho
Autor:
Simon Sebag Montefiore
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 69 (727 págs.)



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