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Stálin espião será
tema de outro
livro do autor
DA REDAÇÃO
Montefiore levanta uma
hipótese um tanto impressionante em "Stálin - A Corte do Czar Vermelho", mas,
mesmo que você atravesse
as exaustivas 727 páginas do
livro, continuará sem saber
se ela é verdadeira ou não.
O historiador, que deve vir
ao Brasil no segundo semestre para divulgá-lo, considera possível, por conta de evidências que não explica
muito bem, que Stálin poderia ter sido um colaborador
da Okhrana, a polícia secreta
do czar. Isso porque teria recebido, sempre que preso
durante a vida clandestina,
penas muito leves, o que denotaria um certo favorecimento por conta de serviços
prestados. "É preciso levar
em conta o fato de que, na
clandestinidade, a espionagem e a contra-espionagem
eram comuns. Stálin era um
mestre da espionagem."
Porém, para saber mais sobre essa possibilidade um
tanto extraordinária, devemos esperar até o ano que
vem, quando Montefiore
lança, no Reino Unido, o livro no qual está trabalhando
agora, "The Young Stálin" (o
jovem Stálin).
Por enquanto, resta a descrição de como os bolcheviques transpuseram ao regime esse clima de boataria e
vigilância mútua dos tempos
em que atuaram às escuras.
Por isso construíram o novo
governo sobre a paranóia, os
boatos, o glamour pela violência, o melodrama heróico
e o gestual teatral.
A preocupação com a saúde, vinculada ao desgaste
com a luta pelo poder, também era obsessiva. Stálin
surge como um obcecado
por seu estado físico, e Montefiore define a correspondência entre os líderes como
"atas de uma convenção de
hipocondríacos".
Sabemos, ainda, pela descrição do autor, que Stálin tinha certa vergonha de sua
aparência, pois seu braço esquerdo era menor do que o
direito (o que pode parecer
um tanto irônico). Mas era
enérgico, carismático, charmoso com as mulheres e talentoso para cantar -dizia-se, inclusive, que poderia ter
se tornado um cantor profissional (ao que Montefiore
acrescenta, com graça, "possibilidade histórica difícil de
imaginar"). E, diferentemente do que se costuma
pensar, era um voraz leitor.
Mas Montefiore não ficou
imune a críticas. Por exemplo, a de que teria ignorado
além da conta o contexto político internacional da época.
A ação, de fato, ocorre mais
dentro do próprio Kremlin,
expondo o ambiente de promiscuidade do poder, do
que fora dele ou mesmo dos
limites do território soviético. O escritor rebate. "Eu
não poderia ter sido mais
claro na introdução, quando
digo que esse não é um livro
de história política, nem militar, nem diplomática, nem
ideológica. É uma história da
corte de Stálin. Se tivesse feito um panorama histórico
amplo, não poderia me deter
aos detalhes, que eram o que
me interessava."
(SC)
Stálin - A Corte do Czar Vermelho
Autor: Simon Sebag Montefiore
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 69 (727 págs.)
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