São Paulo, domingo, 03 de maio de 2009

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Sidinei Lopes/Folha Imagem
Dudu Vasconcellos posa no meio do time de modelos-garçonetes que servem na Pink Elephant

Como na Londres do príncipe William, São Paulo tem bares que selecionam seus frequentadores e barram quem não tem "nível". O repórter Paulo Sampaio, que ficou de fora em dois deles, conta sua dramática experiência

"Aqui é o Secreto?", pergunta o repórter na entrada de um clube noturno sem letreiro, em Pinheiros. O host Udson responde: "O bar não tem nome. "Secreto" é uma invenção da mídia." A noite promete. Do lado de fora da "invenção sem nome", ouve-se o som de uma música de Donna Summer.
 

Udson é alto, magro e tem os cabelos lisos e compridos presos em um rabo de cavalo displicente. Enquanto ajeita seu paletó multicolorido, ele pergunta se o repórter e o amigo que o acompanha têm nome na lista. Lista? "Então, hoje é festa fechada." Como assim?
 

"O bar é pequeno, frequentado por amigos, gente que se conhece, entende?", diz Udson, entre impaciente e orgulhoso. Ele entra na casa, sai e pergunta em voz alta: "O Paulinho Trevisan está aí?" De um bolo de gente aglomerada na porta, Paulinho Trevisan, famoso instantaneamente, abre caminho em direção à seleta balada.
 

Udson se recusa a informar com quem é possível falar para (pelo amor de Deus!) fazer parte da lista. Diz apenas que um dos donos chama-se Davi. Davi de quê? Tem telefone?
 

O repórter está apreensivo porque, dias antes, foi barrado em um lugar chamado Pink Elephant, no Jardim Europa, frequentado pela nata da nata.
 

Ali, uma das funções da hostess Andréa é desencorajar os, por assim dizer, descapitalizados. "Só trabalhamos com reserva: R$ 2.500, a mesa, com uma garrafa de champanhe francês e um destilado importado. E é só pra casal."
 

Clubes noturnos para poucos não chegam a ser algo exatamente novo, mas despertam curiosidade: quem seriam seus elitizados frequentadores? Em Londres, o Raffles, por exemplo, costuma liberar a entrada para os amigos do príncipe William e de sua namorada, Kate Middletown, e Kate Moss etc.
 

"Não adianta dizer outra coisa, é a classe alta mesmo. Tem que ter um certo nível, entende?", diz Dudu Vasconcellos, da Pink Elephant, depois que a Folha se identifica. Ele controla o acesso à porta da boate, conhece os clientes pelo nome e dirige as "festas temáticas". "Se não tiver uma boa roupa, um rostinho, uma postura, você pode ser barrado, sim."
 

Dudu usa um penteado alto ("passei um spray"), maquiagem leve ("durmo apenas quatro horas por noite") e roupas de grife. Nascido em Ipuiúna, cidade de 7.000 habitantes perto de Poços de Caldas, diz que fez curso de cenografia em Florença e trabalhou como produtor na grife do italiano Roberto Cavalli, onde conheceu a irmã de um dos donos da Pink.
 

Devidamente paramentado, Dudu informa que a casa trabalha com pré-reservas pelo telefone. Se, ao chegar, o cliente não apresentar o tal "rostinho", adeus mesa. "É muita gente. Estamos aumentando o preço pra R$ 3.000", diz.
 

Ele explica que, quanto mais mulheres na casa, mais os homens gastam. Por isso, elas devem ser a maioria. Segundo Dudu, os clientes "classe alta" estabelecem uma espécie de competição para ver quem desembolsa mais dinheiro, no afã de impressionar as moças.
 

Nesse ponto, o Secreto é bem diferente. No "bar invenção sem nome", a precedência é do "povo da moda". Na definição de uma das donas, Karina Mota, ali entram os "amigos e amigos dos amigos".
 

Como "não interessa ao bar divulgação", o Secreto não tem assessoria de imprensa. Mas, quando pinta um amigo dos amigos como Marc Jacobs ou Madonna, a notícia sai em tudo o que é site de fofoca.
 

"Quem te deu meu telefone?", pergunta Karina ao repórter, que não se identificou como tal. Ela sugere: "Tenta aparecer em um dia mais tranquilo, terça, quarta. Ou vê se consegue que alguém te coloque numa lista de festa." Karina logo desliga, dizendo que não quer responder mais nada.
 

Na porta do bar, o repórter continua tentando conversar com Udson. O host conta que, de dia, trabalha em uma grife. Qual? "Surface to Air", diz, olhando para longe.
 

A Surface to Air é uma marca multimídia francesa criada pelo empresário Jéremie Rozan, cujo nome está associado à incensada banda Justice, para a qual ele dirigiu um clipe e criou uma coleção de roupas.
 

Foram Karina Mota e seu marido francês, Sébastien Orth, que trouxeram a grife para o Brasil. Os dois se conheceram estudando na Sorbonne. "Quando o bar abriu, funcionava no tijolo, sem acabamento", continua Udson. Muito despretensioso.
 

Verdade seja dita: as moças da porta da Pink não se levam tão a sério. Com expressão de sadismo cômico, Andréa faz uma careta: "Acabo de mandar um grupo voltar pra casa pra trocar as camisas e os bonés".
 

E Karina, também da Pink: "Hoje já barrei três feias". O que é mais importante? Beleza? Dinheiro?
 

A resposta vem logo em seguida: Zezé Di Camargo desembarca de um Mercedes-Benz preto vestindo botinha de crocodilo bico fino, saltinho carrapeta, calça justa e camisa social. Ele é VIP 00, não paga nada.
 

Nesses casos, Dudu Vasconcellos, em pessoa, vem à porta receber o famoso. No Secreto, bom, sempre existe a possibilidade de sair algum conhecido que resgate o barrado...
 

Eis que surge na porta o estilista André Lima. "O que você tá fazendo aí parado, Paulo? Entra!" O repórter explica que foi barrado. André olha para Udson e ri: "Ele tem de estar na sua lista negra, a dos mais perigosos!" Udson ajeita o paletó megafashion e diz, sem muita convicção: "Barrado, não, eu não cheguei nesse patamar. A gente sempre pode quebrar a lista...". Obrigado. Fica para a próxima.


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