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Sucesso do musical "Hair" surpreende a Broadway
As
filas dobram o quarteirão e lotam a calçada sob a fachada do
teatro Al Hirschfeld
Há quem veja aí um reflexo
da "nova frugalidade" nos EUA, a volta a hábitos
simples forçada pela crise após
uma era de excessos
Sara Krulwich/The New York Times
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Atores em cena do musical "Hair', sucesso de bilheteria que está agora em cartaz no Al Hirschfeld Theater, em Nova York
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
A Lua entra na sétima casa
uma vez por dia, informam os
astrólogos, e não é raro Júpiter
se alinhar com Marte, pré-requisitos para o começo da Era
de Aquário segundo os versos
iniciais do musical "Hair".
Ainda assim, há algo novo no
ar, algo que tem levado milhares de pessoas a esgotar os ingressos das oito sessões semanais da remontagem na Broadway dessa peça de 1967 que fala
de hippies, amor livre, o poder
da flor, a Guerra do Vietnã -e, é
claro, os cabelos do título.
Encenada inicialmente ao ar
livre no Central Park, a remontagem do Public Theatre fez
tanto sucesso que atiçou produtores a levantar dinheiro para levá-la a um teatro fechado, o
que aconteceria no mês passado. O problema é que entre o
parque e o palco houve o "setembro negro", em que o banco
de investimentos Lehman Brothers quebrou, e a atual crise
iniciou sua fase mais aguda.
Nas semanas seguintes, seria
comum a cena de funcionários
tirando cartazes de peças que
estavam fechando. Uma delas,
a remontagem de "Godspell",
consumiu US$ 4,5 milhões e
nem estreou; outra, a versão
musical de "A Tale of Two Cities", clássico de Charles Dickens, custou US$ 16 milhões e
ficou só dois meses em cartaz.
Nesse contexto, o sucesso
inesperado de "Hair" pegou os
próprios produtores de surpresa. Em um mês, o investimento
inicial de US$ 5,5 milhões foi
recuperado, e hoje a peça dá lucro. Há quem veja aí um reflexo
da "nova frugalidade" norte-americana, a volta a hábitos
simples forçada pela crise após
uma era de excessos.
Nesse sentido, a trama de
"Hair" se encaixaria no novo
espírito, com seu grupo de hippies pregando o amor, não a
guerra, uma volta aos valores
simples. "Eu achei que a peça
fosse datada, mas acabou se revelando um clássico", disse à
Folha Elizabeth Wollman, autora do livro "The Theater Will
Rock" (ed. University of Michigan Press, 2006), uma história
dos musicais de rock.
Em 1914, dois anos antes de
se tornar juiz da Suprema Corte americana, Louis Brandeis
escreveu que "a luz do Sol é tida
como o melhor desinfetante",
defendendo a transparência
nos negócios do governo. Oito
décadas depois, setores como o
automobilístico e o bancário só
sobrevivem por causa dos negócios do governo dos EUA, numa crise sem precedentes.
Enquanto isso, na rua 45, as
filas dobram o quarteirão e lotam a calçada sob a fachada do
teatro Al Hirschfeld, enfeitada
com desenhos psicodélicos e a
frase "let the sun shine in"
-deixe o brilho do sol entrar.
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