São Paulo, domingo, 03 de maio de 2009

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Sucesso do musical "Hair" surpreende a Broadway

As filas dobram o quarteirão e lotam a calçada sob a fachada do teatro Al Hirschfeld

Há quem veja aí um reflexo da "nova frugalidade" nos EUA, a volta a hábitos simples forçada pela crise após uma era de excessos


Sara Krulwich/The New York Times
Atores em cena do musical "Hair', sucesso de bilheteria que está agora em cartaz no Al Hirschfeld Theater, em Nova York

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

A Lua entra na sétima casa uma vez por dia, informam os astrólogos, e não é raro Júpiter se alinhar com Marte, pré-requisitos para o começo da Era de Aquário segundo os versos iniciais do musical "Hair".
Ainda assim, há algo novo no ar, algo que tem levado milhares de pessoas a esgotar os ingressos das oito sessões semanais da remontagem na Broadway dessa peça de 1967 que fala de hippies, amor livre, o poder da flor, a Guerra do Vietnã -e, é claro, os cabelos do título.
Encenada inicialmente ao ar livre no Central Park, a remontagem do Public Theatre fez tanto sucesso que atiçou produtores a levantar dinheiro para levá-la a um teatro fechado, o que aconteceria no mês passado. O problema é que entre o parque e o palco houve o "setembro negro", em que o banco de investimentos Lehman Brothers quebrou, e a atual crise iniciou sua fase mais aguda.
Nas semanas seguintes, seria comum a cena de funcionários tirando cartazes de peças que estavam fechando. Uma delas, a remontagem de "Godspell", consumiu US$ 4,5 milhões e nem estreou; outra, a versão musical de "A Tale of Two Cities", clássico de Charles Dickens, custou US$ 16 milhões e ficou só dois meses em cartaz.
Nesse contexto, o sucesso inesperado de "Hair" pegou os próprios produtores de surpresa. Em um mês, o investimento inicial de US$ 5,5 milhões foi recuperado, e hoje a peça dá lucro. Há quem veja aí um reflexo da "nova frugalidade" norte-americana, a volta a hábitos simples forçada pela crise após uma era de excessos.
Nesse sentido, a trama de "Hair" se encaixaria no novo espírito, com seu grupo de hippies pregando o amor, não a guerra, uma volta aos valores simples. "Eu achei que a peça fosse datada, mas acabou se revelando um clássico", disse à Folha Elizabeth Wollman, autora do livro "The Theater Will Rock" (ed. University of Michigan Press, 2006), uma história dos musicais de rock.
Em 1914, dois anos antes de se tornar juiz da Suprema Corte americana, Louis Brandeis escreveu que "a luz do Sol é tida como o melhor desinfetante", defendendo a transparência nos negócios do governo. Oito décadas depois, setores como o automobilístico e o bancário só sobrevivem por causa dos negócios do governo dos EUA, numa crise sem precedentes.
Enquanto isso, na rua 45, as filas dobram o quarteirão e lotam a calçada sob a fachada do teatro Al Hirschfeld, enfeitada com desenhos psicodélicos e a frase "let the sun shine in" -deixe o brilho do sol entrar.


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