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Coleção do herói pertece à DC Comics
ESPECIAL PARA A FOLHA
A Folha entrevistou Will Eisner
por telefone, onde vive e trabalha,
em Tamarao, na Flórida, em uma
casa que fica nos fundos de um
campo de golfe, onde joga e pratica tênis por hobby, juntamente
com sua mulher Anne.
(AM)
Folha - Hoje, Spirit completa 60
anos. Quantos anos você tem?
Will Eisner - Não sei minha idade
(ri). É um caso psiquiátrico de negação da realidade. Em todo caso,
me sinto bem, trabalho muito e
sou saudável.
Folha - Como é o seu método de
trabalho?
Eisner - Sou muito disciplinado.
Isso vem do tempo em que trabalhei em jornais. Penso e escrevo
regularmente. Escrevo à mão, em
letrinhas e em imagens. Nada de
máquina de escrever. Começo pelo fim. Depois, abro a história e
penso como chegar lá. Há uma tirinha de Bud Fisher, autor de
"Mutt & Jeff", em que o baixinho
escreve uma novela policial com
incrível rapidez. Mutt pergunta
como consegue ser tão rápido.
"Quero saber quem é o assassino", responde o outro (risos).
Meu escritório fica a 3 km da minha casa. É um velho costume,
trabalhar longe, onde apenas penso, diante da piscina.
Folha - Você precisa de dinheiro?
Eisner - Não. Dinheiro, no início
da carreira, era um meio de atingir um fim. Agora...
Folha - Qual é seu acordo com a
DC (editora)?
Eisner - Foi um acordo irrecusável. Seis dígitos. A DC Comics ficou com toda minha coleção de
"The Spirit", inclusive o período
em que estive na Segunda Guerra,
e a série era desenhado por Lou
Fine e Jack Cole. Agora, eles começaram a editar cronologicamente toda a série, em cores, exatamente como foram publicadas
nos jornais. Por isso aprovei. Vão
lançar três volumes por ano.
Creio que terão nove ou dez, no
total. São publicações com 240
páginas, mais um prefácio de
Alan Moore, e custam caro, US$
40. As capas são reproduções de
histórias antigas.
Folha - "The New Spirit", a série
feita por Alan Moore, Neil Gaiman e
outros continua?
Eisner - Sim, a DC está acertando
com meu agente, Dennis Kitchen,
que está comigo desde que a Kitchen Sink Press faliu.
Folha - Qual a diferença entre Spirit nos anos 40 e hoje?
Eisner - Não há mais diferença.
Veja bem, as histórias completas
eram publicadas dentro do jornal,
não nas bancas. Era lido por adultos. Hoje jovens e adultos lêem
"The Spirit". Sempre escrevi para
adultos. Esses adultos continuam
comprando meus livros. Agora,
acredito, mudou apenas o ritmo,
o tempo de leitura, principalmente por causa da MTV, que impôs
um novo ritmo. Há a velocidade
da informação. Isso garante a longevidade dos "comics".
Folha - E as "graphic novels"?
Eisner - Continuo realizando. A
DC tem o direito de escolha ou recusa. Eles têm sido muito atenciosos comigo, mas a Dark Horse fez
melhor oferta pelo meu trabalho
que sai em fins de julho, "O Último Dia no Vietnã". E a Devir, aí
no Brasil, está tentando editar essa obra simultaneamente.
Folha - É o Vietnã de Rambo?
Eisner - (Ri da ironia) Não é uma
história de combate. É um livro
intimista. Uma série de pequenas
lembranças. Inclui a Segunda
Guerra Mundial, a da Coréia e a
do Vietnã. É experimental, inserindo os leitores na narrativa.
Folha - E os livros infantis, como
os editados pela Cia. das Letras?
Eisner - Gosto de fazer isso. Relaxa. "A Princesa e o Sapo" e outros.
Mas não tenho tempo. Desenho
muito rápido. Escrever demora.
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