|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Artista faz jogo entre passado e futuro
da Redação
Ao final da entrevista, na tarde
de anteontem, enquanto Miguel
Rio Branco montava a exposição,
o sol irrompeu pelo interior da galeria, projetando-se exatamente
sobre um de seus quadros.
Ele sacou uma máquina fotográfica da bolsa e registrou a cena. "O
acaso sempre concorre", disse.
Sim, o acaso concorre, ainda que
Rio Branco componha meticulosamente as cores no espaço do fotograma como um pintor elege os
tons da sua palheta. Em geral, suas
fotos possuem uma cor dominante e pinceladas de outros tons.
Rio Branco é um tipo raro de fotógrafo. Ele fotografa uma pessoa
ou um cenário não para mostrar a
pessoa ou o cenário, mas para revelar uma tensão existente entre o
tempo que acaba de passar e o
tempo seguinte. É a tensão entre o
passado imediato, o brilho de luz
eclipsado, e o futuro imediato, o
indeterminado, a sombra.
Podemos dizer que toda fotografia é um fragmento de tempo morto represado num pedaço de papel. Rio Branco enfatiza isso, mas,
pelo visor quadrado da sua rolleyflex, ele sempre deixa um ponto de
fuga orientado para fora do quadro. Nesse pequeno detalhe, ávido
de cor e luminosidade, ele viceja a
possibilidade da vida. O tempo futuro. É ali que o pulso ainda pulsa.
No pequeno microcosmo de
uma academia de boxe repousam
todas as inquietações, tudo o que
só um olhar atento pode perceber.
É nesse intrincado labirinto de
tempos traduzidos em cores, luzes
e sombras que o artista nos convida para entrar num outro tempo,
abrir a porta da abstração e se deixar levar por instantes de impermanência.
(EC)
Exposição: Miguel Rio Branco
Quando: hoje, às 20h (abertura); de seg. à
sex., das 10h às 19h, sáb., das 10h às 14h
Onde: galeria Camargo Vilaça (r. Fradique
Coutinho, 1.500, Vila Madalena, tel.
011/210-7390)
Preço das obras: de US$ 3.000 a US$
8.000
Patrocinador: Fundação Vitae
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|