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'Não faço filmes para agradar a fãs gays', diz Dallesandro
PAULO VIEIRA
Editor-adjunto da Ilustrada
Joe Dallesandro, 49, o caminhoneiro homossexual Krassky de
"Paixão Selvagem", é o que se pode chamar de símbolo de uma geração. Um símbolo derrubado, vivendo de uma glória que jamais alcançou, apesar de ser um dos mais
emblemáticos rostos/corpos da
Factory, o centro de produção artística nova-iorquino de Andy
Warhol nos 60/70.
Dallesandro fez com Warhol
"Lonesome Cowboys" (68) e, com
seu pupilo Paul Morrisey, "Flash"
(69), "Trash" (70) e "Heat" (72).
Nos anos 80, assim como havia
acontecido com Alain Delon, foi o
"garoto da capa" de um dos discos
dos Smiths.
"Paixão Selvagem" reafirmou-o
nos anos 70 como um ícone gay,
comenda que ele hoje rejeita amplamente -"faço filmes porque
alguém me chama para fazê-los".
Mas não parece se importar muito
que sites gays da Internet ganhem
dinheiro expondo-o nu.
Com uma filmografia que chega
a 50 atuações, trabalhando com diretores como Louis Malle, ele hoje
se sustenta fazendo filmes de baixo
orçamento. Leia trechos da entrevista que o ator concedeu à Folha,
por telefone, de Los Angeles.
Folha - O sr. continua fazendo filmes?
Joe Dallesandro - Começo em 8
de julho a filmar com um diretor
chamado David Ebersole. É um filme de baixo orçamento. Mostra
um triângulo amoroso, dois amigos, um deles volta à sua cidade
para ver uma mulher. Essa mulher
tem agora um bebê e diz para esse
homem que a criança é filha dele.
Folha - Pelo menos na primeira
parte lembra "Paixão Selvagem".
Dallesandro - Talvez, um pouco... Mas "Paixão Selvagem" é
muito mais interessante. É um filme anterior a seu tempo. Tivemos
dificuldade para conseguir audiência, tem imagens estranhas.
Gainsbourg parecia ser um cara do
Meio-Oeste americano, conseguia
uma estética assim na França.
Folha - O sr. não se importa de
estar ligado a um imaginário gay e
underground?
Dallesandro - Faço filmes porque alguém me chama para fazê-los, não para agradar aos meus
fãs gays. Sou um ator. Já fiz filmes
de arte na França, "Cotton Club",
bad boys na Itália, "Miami Vice"
etc. Relacionar-me apenas com a
Factory e Warhol é um absurdo.
Folha - Como era sua relação
com Gainsbourg?
Dallesandro - Éramos muito
próximos. Ele sabia exatamente o
que queria como diretor e sabia
conseguir a melhor performance
de seus atores. "Paixão Selvagem"
é a história de sua própria vida.
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