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Projeto foca período anterior à repressão
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Coube ao arquiteto Haron
Cohen, 65, transformar o lugar que foi palco de tortura
em espaço para a arte.
Resgatando um passado
bem anterior aos anos 1960,
o futuro Museu do Imaginário do Povo Brasileiro opta
por evocar o prédio construído em 1914 por Ramos
de Azevedo, para armazéns
e escritórios ferroviários, em
vez do uso feito pelo Departamento Estadual de Ordem
Pública e Social.
A estrutura do prédio,
composto de duas alas laterais ligadas por um bloco
central, serviu de elemento
ordenador do novo espaço.
Projetar um museu não
significa somente contemplar os fundamentais aspectos técnicos, mas também
determinar um fluxo para a
visita que atenda bem às intenções curatoriais. Nesse
aspecto, Cohen adota uma
solução inovadora, ao separar, em duas entradas, estudantes do público em geral.
Enquanto os escolares entram pela frente do edifício
(sendo encaminhados para
uma sala com tatames, onde
receberão orientação de um
monitor), o público geral
usa a lateral esquerda ou a
parte de trás, onde fica o estacionamento. No hall lateral há ainda café e loja, que se
abrem também para a rua.
O centro e a ala esquerda
do primeiro andar servem à
parte museológica e administrativa; a lateral esquerda
é um salão para eventos.
A visitação, idealmente,
começa pelo quarto andar,
um grande salão de pé-direito duplo que, em princípio,
terá mostras temporárias.
As laterais do terceiro andar, antes isoladas pelo bloco central de altura dupla
(correspondente ao segundo
e terceiro pisos), ganharam
comunicação, no projeto de
Cohen, por um mezanino.
Rastros do cárcere
As marcas do período militar estão atrás do museu,
no alpendre adaptado para
prisão política pelo Dops,
onde funcionará o Memorial
da Liberdade: quatro celas,
com suas portas e janelas
gradeadas, servem de registro do passado carcerário.
O secretário da Cultura,
Marcos Mendonça, 57, lembra que, após a extinção do
Dops (83), o prédio passou a
abrigar o Departamento de
Polícia do Consumidor. "Virou prisão de muambeiro",
diz, contando que os rastros,
como inscrições nas paredes, foram apagados com o
uso do lugar pelo Decon.
O memorial terá obras de
tema político e computadores nos quais se poderá ouvir
testemunhos de ex-presos,
familiares e ex-funcionários.
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