São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002

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Projeto foca período anterior à repressão

FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Coube ao arquiteto Haron Cohen, 65, transformar o lugar que foi palco de tortura em espaço para a arte.
Resgatando um passado bem anterior aos anos 1960, o futuro Museu do Imaginário do Povo Brasileiro opta por evocar o prédio construído em 1914 por Ramos de Azevedo, para armazéns e escritórios ferroviários, em vez do uso feito pelo Departamento Estadual de Ordem Pública e Social.
A estrutura do prédio, composto de duas alas laterais ligadas por um bloco central, serviu de elemento ordenador do novo espaço.
Projetar um museu não significa somente contemplar os fundamentais aspectos técnicos, mas também determinar um fluxo para a visita que atenda bem às intenções curatoriais. Nesse aspecto, Cohen adota uma solução inovadora, ao separar, em duas entradas, estudantes do público em geral.
Enquanto os escolares entram pela frente do edifício (sendo encaminhados para uma sala com tatames, onde receberão orientação de um monitor), o público geral usa a lateral esquerda ou a parte de trás, onde fica o estacionamento. No hall lateral há ainda café e loja, que se abrem também para a rua.
O centro e a ala esquerda do primeiro andar servem à parte museológica e administrativa; a lateral esquerda é um salão para eventos.
A visitação, idealmente, começa pelo quarto andar, um grande salão de pé-direito duplo que, em princípio, terá mostras temporárias.
As laterais do terceiro andar, antes isoladas pelo bloco central de altura dupla (correspondente ao segundo e terceiro pisos), ganharam comunicação, no projeto de Cohen, por um mezanino.

Rastros do cárcere
As marcas do período militar estão atrás do museu, no alpendre adaptado para prisão política pelo Dops, onde funcionará o Memorial da Liberdade: quatro celas, com suas portas e janelas gradeadas, servem de registro do passado carcerário.
O secretário da Cultura, Marcos Mendonça, 57, lembra que, após a extinção do Dops (83), o prédio passou a abrigar o Departamento de Polícia do Consumidor. "Virou prisão de muambeiro", diz, contando que os rastros, como inscrições nas paredes, foram apagados com o uso do lugar pelo Decon.
O memorial terá obras de tema político e computadores nos quais se poderá ouvir testemunhos de ex-presos, familiares e ex-funcionários.



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