São Paulo, sábado, 03 de julho de 2004

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PROGRAMAÇÃO

Emissora estatal inaugura hoje nova fase e tenta voltar a ser referência como nas décadas de 40 e 50

Rádio Nacional reestréia no dial

Alexandre Campbell/Folha Imagem
A partir da esq., Marlene, Cauby Peixoto e Emilinha Borba, que se apresentavam na Rádio Nacional


ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

A Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, estreará hoje sua nova programação com o desafio de voltar a ser referência no rádio depois de um longo período de declínio. Criada em 1936, a emissora estatal tenta recuperar parte do prestígio que teve nas décadas de 40 e 50, quando inovou criando programas e uma grade de programação que inspira até hoje as grandes redes de televisão, misturando no horário nobre novela, jornalismo e humor.
Sua influência no modo de fazer entretenimento de massa no Brasil foi tão grande que há programas na TV que seguem atualmente quase o mesmo formato de produções como o jornalístico "Repórter Esso", os humorísticos "Balança, mas Não Cai" e "PRK-30" ou o programa de auditório de César de Alencar.
Isso sem falar nas novelas, que foram popularizadas em todo o Brasil depois do sucesso de produções como "O Direito de Nascer" ou "Jerônimo, o Herói do Sertão".
Cinqüenta anos após sua fase mais gloriosa, a emissora reaparece com planos mais modestos, mas tentando voltar a ser referência no rádio. Sua programação mesclará radiojornalismo (principalmente pela manhã) com programas musicais que serão feitos ao vivo no mesmo auditório onde, há 50 anos, se apresentavam artistas como Cauby Peixoto, Nelson Gonçalves, Marlene e Emilinha Borba.
O diretor da rádio, Cristiano Menezes, afirma que a emissora tentará explorar o fato de não ser comercial para inovar no formato de alguns programas e na escolha de um repertório musical que, além de dar espaço para músicos que fizeram a história da rádio, apresente grupos e cantores que estão fora do circuito comercial da maioria das emissoras.
Menezes conta que está também conversando com o grupo de teatro Nós do Morro com o objetivo de voltar a fazer radiodramaturgia, utilizando o mesmo estúdio onde eram gravadas as radionovelas. "Estamos discutindo um novo formato, diferente daquele das radionovelas longas que fizeram sucesso na década de 50, mas que chame a atenção do público", afirma o diretor.
Na parte da programação que já entrará no ar a partir de segunda, além dos programas jornalísticos, haverá atrações como o "Ponto do Samba", que será apresentado pela sambista Dorina Barros e será transmitido ao vivo do auditório da emissora. O programa pretende reapresentar antigos compositores e lançar novos nomes.
Na parte de jornalismo, o desafio é ser independente, mesmo sendo uma emissora estatal. O presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci, diz não haver risco de o jornalismo da Rádio Nacional ou de outras emissoras da Radiobrás ser considerado "chapa-branca". "Isso está fora de cogitação e não faz sentido numa sociedade democrática. Já não fazemos um jornalismo pautado apenas pelo governo, e isso pode ser checado em qualquer programa jornalístico das nossas quatro emissoras de rádio", afirma.
Para Luiz Carlos Saroldi, autor do livro "Rádio Nacional: O Brasil em Sintonia" (em parceria com Sônia Virgínia Moreira), o desafio de voltar a ser referência não será fácil para a Nacional porque a rádio será sintonizada em AM (na freqüência 1.130), em que há uma disseminação de rádios a serviço de igrejas e políticos que afugentam o público que busca uma programação um pouco mais sofisticada ou popular de qualidade.
A tentativa de revitalizar a rádio, no entanto, é considerada por Saroldi como fundamental para a memória da cultura nacional, já que a emissora é considerada por muitos pesquisadores a primeira estação a integrar todo o país com uma programação transmitida, nas décadas de 40 e 50, por meio de ondas curtas.
O jornalista e diretor Nelson Hoineff, que está produzindo um documentário ("PRE-8: No Ar a Rádio Nacional") sobre a emissora, concorda: "A Rádio Nacional exerce sobre a minha geração uma influência extraordinária, principalmente em quem foi trabalhar na TV, no cinema e no jornalismo. Ela tem uma importância extraordinária na construção da nossa cultura".
A nova cara da Rádio Nacional foi possível graças a um patrocínio da Petrobras de R$ 2,5 milhões. As obras tiveram início em 2003. O dinheiro serviu para comprar novos equipamentos de transmissão, reformar o auditório e ainda para restaurar os estúdios onde eram feitas as radionovelas.
Ela poderá ser ouvida pela internet, no site da Radiobrás (www.radiobras.gov.br).
A cerimônia de reinauguração da rádio estava prevista para acontecer ontem (após o fechamento desta edição), com a presença do presidente Lula.


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