|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Marlon Brando Junior, mas seu
nome do meio era "confusão"
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Se na profissão Marlon Brando
alternou performances inesquecíveis (Stanley Kowalski, Terry Malloy, Vito Corleone, coronel
Kurtz) com bobagens sem tamanho (Jor-El, dr. Moreau), na vida
pessoal ele tinha pelo menos uma
constante: estava sempre metido
em confusão e polêmica.
Brando não decorava papéis,
brigava com a balança pelo menos desde "O Grande Motim"
(1962), abraçava causas incendiárias, como quando apoiou o movimento ultrarradical negro dos
Panteras Negras nos anos 60, mas
principalmente não tinha respeito pelo meio que o consagrou.
Isso ficou patente quando não
compareceu à cerimônia de entrega do Oscar em 1973, em que
concorria por seu papel em "O
Poderoso Chefão" (1972). Em seu
lugar, mandou o que seria uma
índia, Pluma Pequena, que leria
um manifesto de 15 páginas em
defesa dos nativos americanos.
Ele ganhou (seu segundo Oscar,
de oito indicações), ela subiu ao
palco e falou por 45 segundos.
Anos depois, descobriu-se que se
tratava da atriz Maria Cruz, que
de índia só tinha a fantasia e era
uma ex-namorada de Brando.
Nesse quesito, aliás, também
reina a imprecisão. O número
exato de mulheres e filhos confunde seus biógrafos oficiais até
hoje: seriam entre oito e dez herdeiros, de pelo menos três ex-mulheres, uma ex-governanta e uma
ex-amante. Isso valeu um comentário espirituoso de Christian, o
primogênito: "A cada café da manhã, eu via aumentar o número
de participantes da família".
Mas dois deles foram motivo da
pior dor de cabeça por que passou
o ator. Em 1990, o próprio Christian, filho da primeira mulher (a
atriz britânica Anna Kashfi), matou o namorado da meia-irmã
Cheyenne, filha da terceira mulher (a taitiana Tarita Teriipaia),
ao saber que ele a teria violentado.
Christian foi condenado a cumprir pena de dez anos numa penitenciária estadual. Cinco anos depois do julgamento, Cheyenne se
enforcaria, depois de tentar se
matar duas vezes. Pouco antes, diria: "Eu passei a desprezar meu
pai pela maneira como ele me ignorava quando eu era criança".
Deprimido, Marlon Brando
passaria boa parte dos anos 90 em
sua casa, encravada no topo de
uma colina no número 12.900 da
Mulholland Drive, vizinho de
Jack Nicholson, em Los Angeles.
Gostava de ligar para os poucos
amigos e falar horas ao telefone.
Ou então navegar na internet, entrar em sites sobre ele mesmo,
identificar-se e corrigir informações erradas sobre sua vida.
Dois dias antes de ele morrer,
foi anunciado o lançamento de
uma nova biografia não-autorizada, "Brando in Twilight" (Crepúsculo de Brando), segundo a qual o
ator devia US$ 20 milhões, vivia
num pequeno apartamento e sobrevivia à custa de uma mesada
do sindicato de atores local.
A autora? Patricia Ruiz, "parente distante", segundo a própria,
da guatemalteca Christina Ruiz, a
ex-governanta com quem Brando
teve Ninna Priscilla, Miles e Timothy, agora seus herdeiros...
Texto Anterior: Infância em Omaha e carreira foram marcadas pelo alcoolismo dos pais Próximo Texto: Ator defendeu índios do Brasil antes de Sting Índice
|