São Paulo, sábado, 03 de julho de 2004

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Marlon Brando Junior, mas seu nome do meio era "confusão"

SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se na profissão Marlon Brando alternou performances inesquecíveis (Stanley Kowalski, Terry Malloy, Vito Corleone, coronel Kurtz) com bobagens sem tamanho (Jor-El, dr. Moreau), na vida pessoal ele tinha pelo menos uma constante: estava sempre metido em confusão e polêmica.
Brando não decorava papéis, brigava com a balança pelo menos desde "O Grande Motim" (1962), abraçava causas incendiárias, como quando apoiou o movimento ultrarradical negro dos Panteras Negras nos anos 60, mas principalmente não tinha respeito pelo meio que o consagrou.
Isso ficou patente quando não compareceu à cerimônia de entrega do Oscar em 1973, em que concorria por seu papel em "O Poderoso Chefão" (1972). Em seu lugar, mandou o que seria uma índia, Pluma Pequena, que leria um manifesto de 15 páginas em defesa dos nativos americanos.
Ele ganhou (seu segundo Oscar, de oito indicações), ela subiu ao palco e falou por 45 segundos. Anos depois, descobriu-se que se tratava da atriz Maria Cruz, que de índia só tinha a fantasia e era uma ex-namorada de Brando.
Nesse quesito, aliás, também reina a imprecisão. O número exato de mulheres e filhos confunde seus biógrafos oficiais até hoje: seriam entre oito e dez herdeiros, de pelo menos três ex-mulheres, uma ex-governanta e uma ex-amante. Isso valeu um comentário espirituoso de Christian, o primogênito: "A cada café da manhã, eu via aumentar o número de participantes da família".
Mas dois deles foram motivo da pior dor de cabeça por que passou o ator. Em 1990, o próprio Christian, filho da primeira mulher (a atriz britânica Anna Kashfi), matou o namorado da meia-irmã Cheyenne, filha da terceira mulher (a taitiana Tarita Teriipaia), ao saber que ele a teria violentado.
Christian foi condenado a cumprir pena de dez anos numa penitenciária estadual. Cinco anos depois do julgamento, Cheyenne se enforcaria, depois de tentar se matar duas vezes. Pouco antes, diria: "Eu passei a desprezar meu pai pela maneira como ele me ignorava quando eu era criança".
Deprimido, Marlon Brando passaria boa parte dos anos 90 em sua casa, encravada no topo de uma colina no número 12.900 da Mulholland Drive, vizinho de Jack Nicholson, em Los Angeles. Gostava de ligar para os poucos amigos e falar horas ao telefone. Ou então navegar na internet, entrar em sites sobre ele mesmo, identificar-se e corrigir informações erradas sobre sua vida.
Dois dias antes de ele morrer, foi anunciado o lançamento de uma nova biografia não-autorizada, "Brando in Twilight" (Crepúsculo de Brando), segundo a qual o ator devia US$ 20 milhões, vivia num pequeno apartamento e sobrevivia à custa de uma mesada do sindicato de atores local.
A autora? Patricia Ruiz, "parente distante", segundo a própria, da guatemalteca Christina Ruiz, a ex-governanta com quem Brando teve Ninna Priscilla, Miles e Timothy, agora seus herdeiros...


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