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REPERCUSSÃO
Adorável, irritante, divertido: genial
DA REPORTAGEM LOCAL
Todos os atores e diretores do
mundo têm uma palavra a dar sobre a morte de Marlon Brando. O
cineasta Francis Ford Coppola,
que o dirigiu em "O Poderoso
Chefão", encurtou a conversa:
"Marlon odiava a idéia de pessoas
se exibindo para comentar a morte dele. Tudo o que vou dizer é que
estou triste com sua partida".
De Coppola, o diretor brasileiro
Carlos Diegues ouviu há tempos
uma história de bastidores. "Ele
[Coppola] queria Brando em "O
Poderoso Chefão", mas o produtor era contra, por causa da fama
de Brando de ser impontual e
quebrar contratos", diz Diegues.
"Ambos foram visitar Brando
em sua casa, e ele os recebeu vestido como [o personagem] Don
Corleone, inclusive com algodões
na boca, que usou para alterar a
dicção."
O diretor italiano Gillo Pontecorvo comenta a tumultuada relação que teve com o ator quando o
dirigiu em "Queimada" (1969)
-"Eu o fiz repetir uma cena 41
vezes, e em todas ele buscou um
pretexto para discutirmos"-,
para concluir que, "apesar das
brigas figadais", foi o melhor ator
com quem trabalhou.
O desempenho de Brando era
capaz de exasperar até mesmo à
distância. "Às vezes, não suportava quando ele se exercitava em cima de maneirismos", diz o ator
brasileiro Sérgio Britto. Mas a irritação acabava cedendo lugar à admiração: "Dali a pouco, via que
aqueles vícios e truques, na verdade, davam resultados esplêndidos. A questão de bom gosto, nele, foi uma força da natureza".
A enorme influência de Brando
sobre os atores de sua geração (e
as subseqüentes) foi transformada em boutade por Al Pacino. "O
tanto que ele era bom é incompreensível. Tenho orgulho de dizer que o estarei imitando até o
dia da minha morte."
As atrizes, por sua vez, não deixam de mencionar, ao lado do
respeito artístico, o fascínio pela
beleza física. "Quando eu era jovem, adorava esse homem. Ele era
lindo! E corajoso, sempre inventou uma coisa para a frente", diz
Tonia Carrero.
Irene Ravache assegura que "a
interpretação em cinema se divide em antes e depois de Brando".
Depois de se referir ao minimalismo de Brando como "um jeito
muito bonito de interpretar, guardando mais o sentimento e demonstrando menos", Marília Pêra escancara a fã: "Além disso, era
um homem lindo, deslumbrante.
Ainda bem que há muitos filmes
dele que a gente pode rever".
A sintetizar todas elas, a italiana
Sophia Loren, que dividiu o set
com Brando, sob a batuta de
Charlie Chaplin, em "A Condessa
de Hong Kong", diz: "Atores como ele deveriam ser eternos".
No Brasil, o ator Raul Cortez diz
o mesmo, de outra forma. "Cada
um de nós, atores, devemos carregar o luto na camisa. Ele era extraordinário. Nunca vi outro ator
igual no seu tempo, na sua medida. Era uma pessoa de temperamento interessante, um "angry
man" [irado], o que faz parte do
ser artista."
Das memórias de quem contracenou com Brando, surgem outras facetas de sua personalidade.
"Não levava nem a si mesmo nem
a vida muito a sério. E era o cara
mais divertido que conheci", diz o
britânico Terence Stamp, seu parceiro em "Super-Homem".
Robert Duvall, que esteve ao lado de Brando nos elencos de "O
Poderoso Chefão" e "Apocalipse
Now", cita a obesidade do ator como "uma forma autodestrutiva",
provavelmente relacionada às
suas tragédias familiares.
Elizabeth Taylor prefere passar
ao largo do possível estado em
que Brando deixou a vida, para falar das saudades que ficam. "Vou
sentir falta dele além do que é possível imaginar." Provavelmente,
não será a única.
Com agências internacionais
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