São Paulo, sábado, 03 de julho de 2004

Texto Anterior | Índice

REPERCUSSÃO

Adorável, irritante, divertido: genial

DA REPORTAGEM LOCAL

Todos os atores e diretores do mundo têm uma palavra a dar sobre a morte de Marlon Brando. O cineasta Francis Ford Coppola, que o dirigiu em "O Poderoso Chefão", encurtou a conversa: "Marlon odiava a idéia de pessoas se exibindo para comentar a morte dele. Tudo o que vou dizer é que estou triste com sua partida".
De Coppola, o diretor brasileiro Carlos Diegues ouviu há tempos uma história de bastidores. "Ele [Coppola] queria Brando em "O Poderoso Chefão", mas o produtor era contra, por causa da fama de Brando de ser impontual e quebrar contratos", diz Diegues.
"Ambos foram visitar Brando em sua casa, e ele os recebeu vestido como [o personagem] Don Corleone, inclusive com algodões na boca, que usou para alterar a dicção."
O diretor italiano Gillo Pontecorvo comenta a tumultuada relação que teve com o ator quando o dirigiu em "Queimada" (1969) -"Eu o fiz repetir uma cena 41 vezes, e em todas ele buscou um pretexto para discutirmos"-, para concluir que, "apesar das brigas figadais", foi o melhor ator com quem trabalhou.
O desempenho de Brando era capaz de exasperar até mesmo à distância. "Às vezes, não suportava quando ele se exercitava em cima de maneirismos", diz o ator brasileiro Sérgio Britto. Mas a irritação acabava cedendo lugar à admiração: "Dali a pouco, via que aqueles vícios e truques, na verdade, davam resultados esplêndidos. A questão de bom gosto, nele, foi uma força da natureza".
A enorme influência de Brando sobre os atores de sua geração (e as subseqüentes) foi transformada em boutade por Al Pacino. "O tanto que ele era bom é incompreensível. Tenho orgulho de dizer que o estarei imitando até o dia da minha morte."
As atrizes, por sua vez, não deixam de mencionar, ao lado do respeito artístico, o fascínio pela beleza física. "Quando eu era jovem, adorava esse homem. Ele era lindo! E corajoso, sempre inventou uma coisa para a frente", diz Tonia Carrero.
Irene Ravache assegura que "a interpretação em cinema se divide em antes e depois de Brando". Depois de se referir ao minimalismo de Brando como "um jeito muito bonito de interpretar, guardando mais o sentimento e demonstrando menos", Marília Pêra escancara a fã: "Além disso, era um homem lindo, deslumbrante. Ainda bem que há muitos filmes dele que a gente pode rever".
A sintetizar todas elas, a italiana Sophia Loren, que dividiu o set com Brando, sob a batuta de Charlie Chaplin, em "A Condessa de Hong Kong", diz: "Atores como ele deveriam ser eternos".
No Brasil, o ator Raul Cortez diz o mesmo, de outra forma. "Cada um de nós, atores, devemos carregar o luto na camisa. Ele era extraordinário. Nunca vi outro ator igual no seu tempo, na sua medida. Era uma pessoa de temperamento interessante, um "angry man" [irado], o que faz parte do ser artista."
Das memórias de quem contracenou com Brando, surgem outras facetas de sua personalidade. "Não levava nem a si mesmo nem a vida muito a sério. E era o cara mais divertido que conheci", diz o britânico Terence Stamp, seu parceiro em "Super-Homem".
Robert Duvall, que esteve ao lado de Brando nos elencos de "O Poderoso Chefão" e "Apocalipse Now", cita a obesidade do ator como "uma forma autodestrutiva", provavelmente relacionada às suas tragédias familiares.
Elizabeth Taylor prefere passar ao largo do possível estado em que Brando deixou a vida, para falar das saudades que ficam. "Vou sentir falta dele além do que é possível imaginar." Provavelmente, não será a única.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Marlon Brando: Um ator chamado desejo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.