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CRÍTICA BIOGRAFIA
Livro sobre Mahler idealiza vida do músico
Autor se perde na exaltação caricata do artista e falha na tarefa de traçar um guia para a escuta de sua obra
SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA
Segundo Carl Dahlhaus, a
combinação de "estilo elevado" e "trivialidade" -característica das sinfonias de
Gustav Mahler (1860-1911)-
foi interpretada de diferentes
maneiras ao longo de sua vida e nas décadas seguintes à
sua morte.
Primeiro, com um enfoque
polêmico, pela discrepância
entre intenção e realização.
Segundo, com um enfoque
apologético, definido como a
indiferença da substância temática ante a função formal
que cumpre.
Por fim, caberia decidir se
as obras do poderoso diretor
da Ópera de Viena poderiam
ser comparadas às de um
compositor "profissional"
(como Bruckner).
Não é de estranhar, portanto, que seus admiradores
procurassem, desde o início,
enfatizar detalhes de elaboração em detrimento dos
efeitos grandiosos e das associações biográficas lineares.
O compositor Arnold
Schoenberg (1874-1951), por
exemplo, analisa o tema do
"Andante" da "Sinfonia n.6"
para mostrar como ele resulta de uma ampliação minuciosa sobre um padrão clássico de oito compassos.
Nesse sentido, o livro
"Gustav Mahler: um Coração
Angustiado" ("abrumado",
no original) escrito por Arnoldo Liberman, médico e
ensaísta argentino radicado
na Espanha, caminha na
contramão, ao propor mais
uma biografia idealizada.
Publicado originalmente
em 1982, tem tradução para o
português quando se celebram os 150 anos de nascimento do compositor.
Dividido em quatro capítulos (ou "movimentos"), alterna comentários pessoais
("Há um sentido cósmico na
música desse homenzinho
que não tem outro destinatário senão meu próprio peito")
com interpolações arbitrárias ("Ocasionalmente pensei que o Absoluto, qualquer
que fosse sua vestimenta, é o
comunismo dos lúcidos").
A narrativa parte do momento em que o compositor
escreve a "Oitava Sinfonia"
(época da crise conjugal e do
encontro com Freud), volta
ao período áureo na Ópera de
Viena, atinge a infância (e o
início da carreira) e, enfim,
descreve as fases finais.
Subjugado pela música de
Mahler, o autor permanece
entre a biografia incerta e a
exaltação caricata.
Talvez o melhor capítulo
seja o segundo, que traz um
relato do antissemitismo
subjacente à "capa açucarada" que cobria Viena na virada do século 19 para o 20.
Diante de outros volumes
brasileiros, como os livros de
Marc Vignal e Michael Kennedy, nem ao menos tenta
funcionar como guia para a
escuta -coisa tão urgente
hoje como há cem anos.
GUSTAV MAHLER: UM
CORAÇÃO ANGUSTIADO
AUTOR Arnoldo Liberman
LANÇAMENTO Autêntica
QUANTO R$ 42 (160 págs.)
AVALIAÇÃO ruim
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