São Paulo, sábado, 03 de julho de 2010

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TRECHO

[...] a Oitava, como dizíamos, lança um grito religioso que tem muito de súplica terrena e de elementar pedido de ajuda. O "Veni Creator Spiritus!" está inserido no exato limite em que a morte próxima, o amor interrogado visceral e a busca de Deus se superpõem a partir da angústia e da fé em um titânico e antagônico esforço para se deslocar e se potencializar reciprocamente. Essa "exagerada" ambição, esse vasto jogo imaginativo feito na medida do espaço cósmico, esse esgar transcendental onde o êxtase, a visão da glória, o esplendor celeste e o desalento da culpa e da finitude jogam dialeticamente, nota por nota, seu xadrez metafísico, essa Oitava em sua portentosa hierofania é um dos auges de intensidade artística a que homem algum jamais chegou. [...] O absoluto tão ansiado se revela a ele mas, ao mesmo tempo, continua inacessível, distante, sempre misterioso. E nessa distância entre o desejo jamais totalmente satisfeito e seu objeto O Reino do Absoluto, surge com desesperada precisão o rosto demiúrgico do deus Mahler.

Extraído de "Gustav Mahler: Um Coração Angustiado"


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