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livros
CRÍTICA ROMANCE
Lodge faz divertidíssimo tratado a respeito de um mundo doente
MARCELINO FREIRE
ESPECIAL PARA A FOLHA
- Quem?, eu perguntei.
- Lodge.
- Jim Dodge?
- Não, David Lodge.
Confusão na audição. Ao
telefone. Não. Não era o autor de "Fup". Fui convidado
para escrever na Folha sobre
o autor de "A Arte da Ficção"
-esse, o único livro que li
deste premiado ficcionista
inglês nascido em 1935.
- Lodge acaba de lançar o
romance "Surdo e Mudo". É a
história de um professor aposentado e a sua luta contra a
velhice e a surdez.
Oba! Quase gritei. Gosto de
aventuras decrépitas. Desventuras patéticas e caducas.
Uma horinha depois da conversa acima, o livro chegou.
Um calhamaço de mais de
300 páginas. E que eu li de
uma arrancada só, para o
meu espanto. Divertidíssimo, irônico, inventivo.
Um tratado sobre a deficiência auditiva e outras deficiências à vista. Quando chega o cansaço. E o tempo impiedoso. Sobretudo para
quem precisa, repetidas vezes, da paciência dos outros.
- O quê? O que você falou?
Hilárias e comoventes são
as trapalhadas do protagonista Desmond Bates, o tal
professor. De linguística.
Ele reclama em alto e bom
som: "Não temos nenhum sinal visível que desperte a
compaixão alheia".
No caso de Bates, eis que
aparece Alex, uma problemática e gostosa aluna, toda-ouvidos, que o convida para
orientá-la em um doutorado.
A saber: "Uma análise estilística de bilhetes de suicidas".
- Como? Não entendi.
Não dá para explicar. Nem
para resumir. O tanto de mal-entendidos que percorre a vida do coitado do velho.
Os ruídos na comunicação, os diálogos que não dialogam. A falência múltipla de
órgãos. Sistemas e pilhas.
Ecos de um mundo assim, digamos, cada vez mais doente. E individualista. Quem escuta quem hoje em dia?
- Quem? Hein? Me diga.
MARCELINO FREIRE é autor, entre outros,
do livro de contos "RASIF - Mar que
Arrebenta" (Record)
SURDO E MUDO
AUTOR David Lodge
TRADUÇÃO Guilherme da Silva
Braga
EDITORA L&PM
QUANTO R$ 49
AVALIAÇÃO ótimo
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