São Paulo, sexta, 3 de julho de 1998

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MÚSICA ERUDITA
Alagna demonstra suas qualidades em "Romeu"

IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha

Sai finalmente em CD a gravação em que o tenor francês Roberto Alagna canta a ópera que o projetou internacionalmente: "Romeu e Julieta", de Gounod.
Alagna interpretou o papel de Romeu no Covent Garden, em Londres, em 92, logo após ficar viúvo de sua primeira mulher. Regida por Charles Mackerras, a performance está imortalizada em videolaser da Pioneer.
Ao lado da soprano romena Leontina Vaduva, Alagna formou um par romântico jovem e charmoso, com poder de caracterização e "physique du rôle". A crítica delirou e aclamou-o como o "quarto tenor", sucessor da envelhecida trinca formada por Carreras, Domingo e Pavarotti.
De lá para cá, Alagna tem suscitado mais dúvidas que entusiasmo. Permanece soberano entre os tenores de sua geração, mais do que por méritos, pela carência de concorrentes -o argentino José Cura, embora grande músico, mais parece um barítono forçando os agudos, enquanto o italiano Andrea Bocelli é um produto de marketing desprovido de técnica.
Nesse "Romeu e Julieta", gravado em 95, Alagna mostra, de qualquer forma, as qualidades que o projetaram. A caracterização é apaixonada, o francês é idiomático e o fraseado, encantador.
O disco tem ainda duas atrações extras: uma de natureza musical e outra de natureza tecnológica.
A atração musical é a regência de Michel Plasson, à frente da Orquestra do Capitólio de Toulouse.
E a atração tecnológica é o fato de o álbum ser composto de "Enhanced CDs" -discos que, no aparelho de som, funcionam como CDs normais. Porém, se colocados no computador, rodam um programa de multimídia com a sinopse e o libreto da ópera, além de biografias dos artistas.
Alagna não gravou "Romeu e Julieta" com sua parceira de 92, trocando Vaduva por outra romena -sua segunda mulher, Angela Gheorghiu.
Desde que se casou com Gheorghiu, Alagna tem gravado novamente com ela tudo o que já havia feito com outras sopranos. É o caso, por exemplo, da ópera "L'Elisir d'Amore", de Donizetti (cuja gravação anterior do tenor, com a italiana Mariella Devia, é, por sinal, mais satisfatória).
O casamento com a soprano romena é bastante conveniente para Alagna -desprovido de treinamento musical formal, o tenor pôde se educar com uma musicista de técnica superior à sua.
Mas, do lado da romena, as vantagens são também evidentes -o matrimônio foi a melhor maneira de garantir a posse exclusiva de um dos raros tenores jovens talentosos do mercado.
Porém, embora brilhante, a carreira de Gheorghiu tem algumas mentiras. A maior delas é a idade -a soprano divulga ter nascido em 1969, quando, na verdade, é oito anos mais velha. Ela se projetou com uma gravação de "La Traviata", de Verdi, regida por Solti.

Ópera: Romeu e Julieta, de Gounod Lançamento: EMI Quanto: R$ 66 (o CD triplo, em média)


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