São Paulo, Sábado, 03 de Julho de 1999
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CRÍTICA - "MEDÉIA"
Cortante, mas sem alvo

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

Dois homossexuais, uma "Madame" e sua "Ama", representam "Medéia" numa corruptela cotidiana da tragédia de Eurípides, mas não se trata de uma tragédia. Nem de uma paródia cômica. Por outro lado, frases inteiras de "As Boas", de Jean Genet na tradução de Zé Celso, ecoam na adaptação de Vadim Nikitin para esta "Medéia É um Bom Rapaz".
A peça é do espanhol Luis Riaza, que não esconde o gosto pelas camadas quase barrocas de representação -ou desmascaramento da representação- na obra de Genet. A diferença é que Riaza leva a peça-dentro-da-peça a um paroxismo angustiante e aparentemente, na montagem, sem porquê.
Parece impossível buscar alegorias de política, sexualidade ou qualquer outra no texto. Os diálogos são de grande voltagem, as cenas atormentam quase como em seus dois modelos maiores, mas a cada final de quadro a sensação é de que tudo não passa mesmo, no fundo, de uma ótima brincadeira metalinguística.
É claro que se pode imaginar certo retrato da homossexualidade nos dois personagens, com imagens como opressão e submissão, obsessão por maternidade e feminilidade -mas o que se tem então são caricaturas, entre melodramáticas e farsescas.
Essa é a impressão deixada pela encenação, que muitas vezes aparenta estar a um passo de chegar à qualidade essencial do texto -se é que ela existe- sem nunca alcançá-la inteiramente.
Joaquim Goulartt e José Germano Mello, respectivamente Medéia e a Ama, o primeiro numa chave dramática, o segundo mais farsesco, levam a apresentação com inquestionável competência, ritmo, mas num esforço excessivo -que parece apontar domínio incompleto dos personagens.


Avaliação:    


Peça: Medéia É um Bom Rapaz
Direção: Marco Antonio Braz
Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h
Onde: teatro Augusta (r. Augusta, 943, tel. 3151-4141)
Quanto: R$ 15 (qui.) e R$ 20 (sex. a dom.)


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