SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA

"Como uma pintura, vamos nos apagando." A frase do pintor mexicano Juan O'Gorman (1905-1982) parece conduzir a caminhada do protagonista de "Baixo Califórnia", que estréia hoje.
Damian é de Los Angeles, casado com uma americana prestes a dar à luz e tem, nos EUA, uma carreira de sucesso como artista plástico. Uma noite, dirigindo por uma rodovia perto da fronteira com o México, Damian atropela uma mulher grávida e foge.
O arrependimento por não ter prestado ajuda e a dúvida sobre se a matou ou não o torturam, e ele decide partir em direção à pequena cidade de San Francisco de la Sierra, no México, de onde partiram seus avós no passado.
A viagem de Damian coloca frente a frente diferentes aspectos da cultura e da religião mexicanas. Para expiar sua culpa, ele recorre a uma penitência da tradição cristã, a peregrinação. Já no México, seu remorso depara-se com visões diferentes sobre a culpa e a morte, herança do passado anterior aos europeus.
Damian encontra descendentes de seus ancestrais. Os Arce vivem há séculos num lugar árido e de cavernas com pinturas primitivas. Com o tempo, formaram ali uma sociedade endogâmica.
A procura de Damian ganha novo sentido a partir das conversas com um dos primos. Os diálogos de ambos confrontam o México que imigrou para os EUA com o que ficou. Em princípio, é difícil para Damian até mesmo convencer o primo de que são parentes. "Como? De onde você é?", ele pergunta. Para os Arce da serra, a ligação com a terra estabelece os laços mais do que o sangue.
O primo o guia, então, até as pinturas gravadas na pedra. Ali dialogam sobre o tempo e o protagonista parece encontrar o momento da cisão dos dois Méxicos. Damian lamenta, "é preciso conservar as pinturas". E o primo retruca: "Por quê? Quem as pintou também já se apagou".

Baixo Califórnia - O Limite do Tempo
Bajo Califórnia - El Limite del Tiempo
   
Direção: Carlos Bolado
Produção: México, 1998
Com: Damien Alcazar, Jesus Uchoa
Quando: a partir de hoje no Unibanco Arteplex