São Paulo, sábado, 03 de agosto de 2002

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"POESIAS COMPLETAS"

Obra tenta restaurar texto do ultra-romântico à versão mais fidedigna e traz um poema inédito

Edição crítica corrige Álvares de Azevedo

CRÍTICO DA FOLHA

Ele morreu aos 20 anos, em 1852. Em menos de cinco, produziu uma obra que o alçou à categoria de um dos maiores poetas do romantismo brasileiro, ao lado de Gonçalves Dias e Castro Alves. Mesmo assim, não se podia fiar em muito do que dele se havia publicado nestes últimos 150 anos. Até agora.
É provável que qualquer poema que você tenha de Manoel Antônio Álvares de Azevedo em coletânea, livro escolar ou obra de referência apresente pelo menos um equívoco ou outro.
O problema está no fato de toda a sua obra ser póstuma. Também restaram pouquíssimos manuscritos. A partir da quarta edição pelo menos, os organizadores introduziram inúmeras alterações de texto, que chegaram a lhe desfigurar o sentido original.
A questão poderia ter sido resolvida no final da década de 70, quando o poeta, tradutor de Byron e estudioso do romantismo Péricles Eugênio da Silva Ramos preparou uma edição crítica para a coleção Biblioteca Universitária de Literatura Brasileira. A coleção foi interrompida, Silva Ramos morreu em 1993 e a edição quase se perdeu não fosse uma única cópia xerográfica encontrada numa pasta perdida.
Se o livro logrou sair agora, foi sobretudo por empenho da professora Iumna Maria Simon, que insistiu na cata à edição crítica, reconstituindo-lhes as correções e cotejando-as com as primeiras publicações dos versos de Álvares de Azevedo.
Segundo Simon, estas "Poesias Completas" procuram "eliminar os maus-tratos sofridos pela obra ao longo de edições antigas e recentes, completas ou parciais, restituindo o texto à sua forma mais fidedigna".
O resultado é a mais autorizada, exaustiva e confiável edição da poesia de Álvares de Azevedo até hoje. Trata-se da mais longa também, considerando as centenas de notas com possíveis variantes textuais e a inclusão de esparsos, com poemas nunca arrolados no corpo da obra e o inédito "A Morte e o Amor". Há ainda trechos de cartas do poeta com poesias suas e fotos de manuscritos raros.
As discrepâncias entre as várias edições não confiáveis fizeram até mesmo críticos reputados como Antonio Candido e Alfredo Bosi reproduzirem em seus ensaios versões diferentes dos versos do poeta. Nem Silva Ramos escapou. Na edição Saraiva, organizada por ele na década de 50, introduziu uma desnecessária "correção".
Precisamos levar em conta a dificuldade inerente ao texto azevediano e o fato de que, sobretudo nos primeiros versos, o poeta pontuava com excessiva parcimônia.
Se a leitura de seus poemas mais famosos, como "Meu Sonho" ("Cavaleiro das armas escuras,/ Onde vais pelas trevas impuras/ Com a espada sangrenta na mão?") e "O Poeta Moribundo" ("Poetas! amanhã ao meu cadáver/Minha tripa cortai mais sonorosa!..."), pouco se altera com as correções de Silva Ramos, em outros, como "Virgem Morta" e "Anjinho", a interpretação pode resultar nova e surpreendente.
Para amantes da poesia e admiradores do poeta, bibliotecários e bibliófilos, estudantes e estudiosos, esta obra é a chance de aproximar o máximo possível do que nosso bardo ultra-romântico quis nos dizer.
(MARCELO PEN)


Poesias Completas
    
Autor: Álvares de Azevedo
Edição crítica: Péricles Eugênio da Silva Ramos
Organizadora: Iumna Maria Simon
Editora: Unicamp
Quanto: R$ 60 (601 págs.)



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