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"POESIAS COMPLETAS"
Obra tenta restaurar texto do ultra-romântico à versão mais fidedigna e traz um poema inédito
Edição crítica corrige Álvares de Azevedo
CRÍTICO DA FOLHA
Ele morreu aos 20 anos, em
1852. Em menos de cinco,
produziu uma obra que o alçou à
categoria de um dos maiores poetas do romantismo brasileiro, ao
lado de Gonçalves Dias e Castro
Alves. Mesmo assim, não se podia
fiar em muito do que dele se havia
publicado nestes últimos 150
anos. Até agora.
É provável que qualquer poema
que você tenha de Manoel Antônio Álvares de Azevedo em coletânea, livro escolar ou obra de referência apresente pelo menos
um equívoco ou outro.
O problema está no fato de toda
a sua obra ser póstuma. Também
restaram pouquíssimos manuscritos. A partir da quarta edição
pelo menos, os organizadores introduziram inúmeras alterações
de texto, que chegaram a lhe desfigurar o sentido original.
A questão poderia ter sido resolvida no final da década de 70,
quando o poeta, tradutor de
Byron e estudioso do romantismo
Péricles Eugênio da Silva Ramos
preparou uma edição crítica para
a coleção Biblioteca Universitária
de Literatura Brasileira. A coleção
foi interrompida, Silva Ramos
morreu em 1993 e a edição quase
se perdeu não fosse uma única cópia xerográfica encontrada numa
pasta perdida.
Se o livro logrou sair agora, foi
sobretudo por empenho da professora Iumna Maria Simon, que
insistiu na cata à edição crítica, reconstituindo-lhes as correções e
cotejando-as com as primeiras
publicações dos versos de Álvares
de Azevedo.
Segundo Simon, estas "Poesias
Completas" procuram "eliminar
os maus-tratos sofridos pela obra
ao longo de edições antigas e recentes, completas ou parciais, restituindo o texto à sua forma mais
fidedigna".
O resultado é a mais autorizada,
exaustiva e confiável edição da
poesia de Álvares de Azevedo até
hoje. Trata-se da mais longa também, considerando as centenas de
notas com possíveis variantes textuais e a inclusão de esparsos,
com poemas nunca arrolados no
corpo da obra e o inédito "A Morte e o Amor". Há ainda trechos de
cartas do poeta com poesias suas
e fotos de manuscritos raros.
As discrepâncias entre as várias
edições não confiáveis fizeram até
mesmo críticos reputados como
Antonio Candido e Alfredo Bosi
reproduzirem em seus ensaios
versões diferentes dos versos do
poeta. Nem Silva Ramos escapou.
Na edição Saraiva, organizada por
ele na década de 50, introduziu
uma desnecessária "correção".
Precisamos levar em conta a dificuldade inerente ao texto azevediano e o fato de que, sobretudo
nos primeiros versos, o poeta
pontuava com excessiva parcimônia.
Se a leitura de seus poemas mais
famosos, como "Meu Sonho"
("Cavaleiro das armas escuras,/
Onde vais pelas trevas impuras/
Com a espada sangrenta na
mão?") e "O Poeta Moribundo"
("Poetas! amanhã ao meu cadáver/Minha tripa cortai mais sonorosa!..."), pouco se altera com as
correções de Silva Ramos, em outros, como "Virgem Morta" e
"Anjinho", a interpretação pode
resultar nova e surpreendente.
Para amantes da poesia e admiradores do poeta, bibliotecários e
bibliófilos, estudantes e estudiosos, esta obra é a chance de aproximar o máximo possível do que
nosso bardo ultra-romântico quis
nos dizer.
(MARCELO PEN)
Poesias Completas
Autor: Álvares de Azevedo
Edição crítica: Péricles Eugênio da Silva
Ramos
Organizadora: Iumna Maria Simon
Editora: Unicamp
Quanto: R$ 60 (601 págs.)
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