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Ciclo sobre crenças aborda crise na política
Organizada por Adauto Novaes, série
de palestras começa na quinta em SP
Quarta edição do evento
"Mutações" terá
conferências com Sergio
Paulo Rouanet, Antonio
Cicero e estrangeiros
DO RIO
Desde "O Silêncio dos Intelectuais", realizado em
2005 sob o calor das denúncias do mensalão, os ciclos
de conferências organizados
pelo filósofo Adauto Novaes
não são observados em função dos acontecimentos do
momento.
Mas é enganoso pensar
que "Mutações - A Invenção
das Crenças", que começa na
próxima quinta-feira em São
Paulo no Sesc Vila Mariana
-e passará pelo Rio, por Belo
Horizonte e por Brasília-,
não tangencie temas como a
campanha presidencial.
"A crença na política é fundamental, mas ela está em
baixa hoje. O que vemos hoje
é uma discussão sobre quem
será o melhor gestor, o melhor administrador. Não se
apresentam plataformas políticas. É uma luta pelo poder. E essa não é uma situação particular do Brasil", diz
Novaes.
O francês Jean-Pierre Dupuy, por exemplo, falará de
"Sagração da Economia, Violência sem Limite". A crença
excessiva na economia seria
uma das responsáveis pela
queda da política.
A crença que mais será
abordada pelos 22 conferencistas é na ciência e na tecnologia. O tema já predominou
nos outros três ciclos da série
"Mutações", realizados entre
2007 e 2009 -o do ano passado, "A Experiência do Pensamento", sairá em livro neste ano.
"Acredita-se hoje na ciência e na tecnologia como se
pudessem desvendar todos
os segredos do homem e do
mundo", ressalta Novaes.
CIÊNCIA-PODER
Ele afirma, no entanto,
que não há nenhuma "visão
doutrinária da anticiência".
Isto soaria absurdo diante de
tantos avanços, como as pesquisas com células-tronco.
"Fazemos uma distinção
entre ciência-saber e ciência-poder. Queremos discutir os
limites da ciência-poder. A
ciência faz coisas, mas não
costuma pensar sobre elas."
A expressão "vazio do
pensamento" é recorrente na
fala de Novaes e base de
"Mutações". Num tempo em
que predomina a técnica e
em que tudo se dá em extrema velocidade, pensar se tornou um luxo tido como dispensável.
Sobram as opiniões, fartamente distribuídas nos
meios de comunicação.
Marcelo Coelho, colunista
da Folha, abordará o assunto e a ideia de "formadores de
opinião" na conferência
"Opinião e Crença".
É significativo que o ciclo
comece com uma palestra
que trate de arte: José Miguel
Wisnik combinará Fernando
Pessoa, Machado de Assis e
Guimarães Rosa em "A Crença no Espelho".
O conceito de "coisas vagas" (arte, filosofia etc.), do
escritor francês Paul Valéry
(1871-1945), é um dos fundamentos do ciclo.
A razão, que foi imaginada
no século 18, pelo iluminismo, como capaz de superar
todas as crenças, estará em
conferências como as de Sergio Paulo Rouanet e do ensaísta e colunista da Folha
Antonio Cicero.
O franco-tunisiano Abdelwahab Meddeb, que falará
de islamismo, e o francês
François Jullien, que abordará as relações entre crenças
orientais e ocidentais, são as
novidades entre os palestrantes.
(LUIZ FERNANDO VIANNA)
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