São Paulo, terça-feira, 03 de agosto de 2010

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Ciclo sobre crenças aborda crise na política

Organizada por Adauto Novaes, série de palestras começa na quinta em SP

Quarta edição do evento "Mutações" terá conferências com Sergio Paulo Rouanet, Antonio Cicero e estrangeiros


DO RIO

Desde "O Silêncio dos Intelectuais", realizado em 2005 sob o calor das denúncias do mensalão, os ciclos de conferências organizados pelo filósofo Adauto Novaes não são observados em função dos acontecimentos do momento.
Mas é enganoso pensar que "Mutações - A Invenção das Crenças", que começa na próxima quinta-feira em São Paulo no Sesc Vila Mariana -e passará pelo Rio, por Belo Horizonte e por Brasília-, não tangencie temas como a campanha presidencial.
"A crença na política é fundamental, mas ela está em baixa hoje. O que vemos hoje é uma discussão sobre quem será o melhor gestor, o melhor administrador. Não se apresentam plataformas políticas. É uma luta pelo poder. E essa não é uma situação particular do Brasil", diz Novaes.
O francês Jean-Pierre Dupuy, por exemplo, falará de "Sagração da Economia, Violência sem Limite". A crença excessiva na economia seria uma das responsáveis pela queda da política.
A crença que mais será abordada pelos 22 conferencistas é na ciência e na tecnologia. O tema já predominou nos outros três ciclos da série "Mutações", realizados entre 2007 e 2009 -o do ano passado, "A Experiência do Pensamento", sairá em livro neste ano.
"Acredita-se hoje na ciência e na tecnologia como se pudessem desvendar todos os segredos do homem e do mundo", ressalta Novaes.

CIÊNCIA-PODER
Ele afirma, no entanto, que não há nenhuma "visão doutrinária da anticiência". Isto soaria absurdo diante de tantos avanços, como as pesquisas com células-tronco.
"Fazemos uma distinção entre ciência-saber e ciência-poder. Queremos discutir os limites da ciência-poder. A ciência faz coisas, mas não costuma pensar sobre elas."
A expressão "vazio do pensamento" é recorrente na fala de Novaes e base de "Mutações". Num tempo em que predomina a técnica e em que tudo se dá em extrema velocidade, pensar se tornou um luxo tido como dispensável.
Sobram as opiniões, fartamente distribuídas nos meios de comunicação.
Marcelo Coelho, colunista da Folha, abordará o assunto e a ideia de "formadores de opinião" na conferência "Opinião e Crença".
É significativo que o ciclo comece com uma palestra que trate de arte: José Miguel Wisnik combinará Fernando Pessoa, Machado de Assis e Guimarães Rosa em "A Crença no Espelho".
O conceito de "coisas vagas" (arte, filosofia etc.), do escritor francês Paul Valéry (1871-1945), é um dos fundamentos do ciclo.
A razão, que foi imaginada no século 18, pelo iluminismo, como capaz de superar todas as crenças, estará em conferências como as de Sergio Paulo Rouanet e do ensaísta e colunista da Folha Antonio Cicero.
O franco-tunisiano Abdelwahab Meddeb, que falará de islamismo, e o francês François Jullien, que abordará as relações entre crenças orientais e ocidentais, são as novidades entre os palestrantes. (LUIZ FERNANDO VIANNA)


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