São Paulo, segunda, 3 de agosto de 1998

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DISCO LANÇAMENTO
Ringo Starr retorna brilhante com uma pequena ajuda de seus amigos

THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

"Vertical Man", novo e melhor álbum de Ringo Starr, prova mais uma vez a principal qualidade do homem que tocava bateria nos Beatles: ele é um aglutinador social e musical.
O grande papel de Ringo na cultura pop foi ter ajudado a manter os Beatles juntos até 1970. Se dependesse da tranquilidade zen de George Harrison, sempre para lá de Marrakech, o delicado equilíbrio entre as personalidades marcantes de John Lennon e Paul McCartney teria implodido o grupo um bom tempo antes.
Ringo era o bonachão, aquele que era querido por todos e servia de muro das lamentações para cada um. Assim, a banda continuava e produzia discos geniais.
No novo trabalho de sua bissexta carreira solo, Ringo encheu o estúdio de amigos feras e, mais uma vez, conseguiu que cada um desse o máximo. O resultado é um CD primoroso, com canções pop muito sofisticadas, mas que grudam no ouvido. Ou seja, bem Beatles.
A lista de convidados é um "hall of fame" do pop: o exímio e veterano guitarrista Joe Walsh, Steven Tyler (vocalista do Aerosmith), Scott Weiland (ex-vocalista do Stone Temple Pilots, agora em carreira solo), o soberano do metal Ozzy Osbourne, a lenda Brian Wilson (ex-líder dos Beach Boys), o trovador americano Tom Petty, a cantora Alanis Morissette e mais dois carinhas iniciantes, Paul McCartney e George Harrison.
Descontada a grande força desse "dream team", o CD comprova também que a sociabilidade não é o único talento de Ringo. Se existe alguém que ainda acredite na balela das "limitações musicais" do ex-Beatle, as 13 faixas de "Vertical Man" reduzem essa teoria a pó.
Ringo continua um cantor interessante, mas com deslizes. Seu vozeirão empostado cai melhor em baladas meio aceleradas, tipo canção de cabaré. Nas faixas mais lentas (que são poucas no álbum), ele soa meio canhestro.
No entanto, irrepreensível é sua noção de harmonia, sua capacidade de encontrar o arranjo certo para valorizar a melodia que tem nas mãos. Comparando, é um Paul McCartney sem lapidação.
Hits em potencial abundam. "Mindfield" e "One" são o sonho de qualquer grupo do britpop. "Drift Away", com Ringo dividindo as estrofes da música com Tom Petty e Alanis, é impecável.
Por tudo isso, a regravação de "Love Me Do", clássico de primeira hora do Beatles, soa equivocada. Num álbum tão bom, é melhor ficar com o repertório novo.



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