São Paulo, Terça-feira, 03 de Agosto de 1999
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"UMA NOITE NA LUA"

Dramaturgia brasileira vive bom momento

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Marco Nanini, que protagoniza a peça "Uma Noite na Lua"


especial para a Folha

Apesar da insistência da jovem atriz brasileira em comprar os direitos autorais da peça do jovem autor-revelação irlandês, desconhecido por essas praias, e apesar de muitas companhias teatrais locais insistirem no autor russo Anton Tchecov (só neste ano, há duas montagens do texto "As Três Irmãs"), os dramaturgos patropi não dão sinais de xenofobia nem viajam a Brasília para exigir protecionismo.
Seus produtos (seus textos) têm levado um grande público pagante aos teatros paulistanos.
Autores contemporâneos como Marcos Caruso ("Trair e Coçar É Só Começar" e "Porca Miséria", em parceria com Jandira Martini), Juca de Oliveira ("Meno Male", "Caixa 2" e "Qualquer Gato Vira-Lata Tem uma Vida Sexual Mais Sadia que a Nossa"), Mauro Rasi ("Pérola" e ""O Crime do Dr. Alvarenga") e Sandra Louzada ("Somos Irmãs') têm pouco a reclamar e muito a contabilizar: suas peças foram ou continuam indo muito bem em São Paulo.
Juntam-se a eles o veterano Zé Celso ("Cacilda!"), os criadores do besteirol Pedro Cardoso ("Os Ignorantes"), Miguel Falabella ("Submarino" e "Louro, Alto, Solteiro Procura") e a Cia. Baiana de Patifaria ("A Bofetada"), além dos premiados Renata Melo ("Domésticas") e João Falcão ("A Dona da História"), que estréia nesta sexta "Uma Noite na Lua".
Falcão, que apesar dos 20 anos de teatro era desconhecido do grande público paulista, como diria Galvão Bueno, "é só sorriso".
Depois do sucesso de sua montagem de "O Burguês Ridículo" (adaptação do texto de Molière), "A Dona da História", de sua autoria e direção, com Andréa Beltrão e Marieta Severo, veio para ficar uma curta temporada, no imenso teatro Alfa Real (1.200 lugares). Foram obrigados a fazer sessões extras e a estender a temporada ao Cultura Artística.
"Alguns críticos conhecem em detalhes o currículo de um autor irlandês e dizem que vim da TV. Mal sabem que já dirigi mais de 20 peças. Não pesquisam sobre autores brasileiros. Não sabem nada sobre nós", conta Falcão.
"A gente está falando do Brasil. Em "A Dona da História", a personagem é uma garota brasileira que sonha com uma história de amor parecida com as que vê na "Sessão da Tarde". É Brasil. O público sente falta de um texto nacional. Mas a mídia dá espaço para a entrega do prêmio de Nova York e dá notinhas sobre os nossos prêmios", completa Falcão.
"O autor brasileiro sempre foi bem recebido. Na época do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), instalou-se um teatro mais americano. Com a censura, vieram as peças experimentais. Essa fase tomou conta. De repente, ressurgiu o vulgarmente conhecido "teatrão", enquanto a vanguarda ficou de lado", diz Juca de Oliveira.
"A vanguarda injeta muita energia, mas reinou sozinha até os anos 80. O público, hoje, identifica-se com o que o autor brasileiro diz sobre os seus políticos e sua vida sexual. Antigamente, eu discutia isso nos restaurantes. Agora, escrevo", completa.
Do teatrão à vanguarda, do drama do passado à comédia dos tempos atuais, público e produtores paulistanos fizeram a sua escolha: nada contra o amor que três irmãs russas sentem pelo mesmo homem. "Deus lhe Pague", de Joracy Camargo (com Adriane Galisteu), dá o tom da temporada. O sucesso é uma associação entre o humor e estrelas da TV, com exceções.
O grupo Tapa exibe no teatro Aliança Francesa (r. General Jardim, 182, Vila Buarque), de terça a domingo, montagens de vários autores brasileiros, como Nelson Rodrigues, Plínio Marcos, Arthur Azevedo, Oduvaldo Vianna Filho e Jorge Andrade. O grupo vende pacotes para o público. Por R$ 30 assistem-se a quatro peças. Por R$ 40 assistem-se a seis.
No coro dos contentes, há uma voz dissonante. O crítico de teatro Sábato Magaldi aplaude a popularidade de autores nacionais. Mas pergunta se há espaço para autores novos no competitivo terreno das leis de incentivo.
"É mais fácil montar textos brasileiros devido à proximidade dos subsídios. Antes, havia mais condições de autores novos aparecerem, sem a necessidade de terem estrelas da Globo. Era o Estado, através de conselhos estaduais, que patrocinava os textos. Hoje, o teatro está nas mãos dos empresários", reclama Magaldi.
"O governo deveria destinar uma verba para a cultura, e não jogar tudo nas mãos da iniciativa privada. O resultado seria incomparavelmente melhor", afirma. (MARCELO RUBENS PAIVA)


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