|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Peça mostra como o ator sempre quis se livrar da imagem de "palhaço"
Espetáculo comemora os 90 anos de Grande Othelo
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Grande no codinome e pequeno
no tamanho, Grande Othelo
(1915-1993) nunca se sentiu confortável dentro de sua estatura artística. Achava que o viam só como "palhaço" e ele era um ator
completo. Esse desconforto perpassa o espetáculo "Grande Othelo - Eta Moleque Bamba!", que estréia hoje, no Teatro Sesi, no Rio.
"Mostramos como ele sempre
quis se livrar dessa imagem de caricato. Mas o objetivo não é trabalhar de forma negativa a história
dele. Apesar da vida difícil, Othelo
foi grande como ator, cômico,
compositor", ressalta o diretor
André Paes Leme.
A peça, escrita por Douglas
Tourinho, é o primeiro passo no
projeto "Grande Othelo 90 Anos",
da produtora Sarau. Até 18 de outubro de 2005, quando se completariam as nove décadas de vida,
deverão ser lançados uma biografia (feita por Sérgio Cabral), um
documentário (por Evaldo Mocarzel) e uma exposição.
"Estamos com 64 caixas de material e continuamos fazendo descobertas", diz Andréa Alves, dona
da Sarau ao lado de Ana Luisa Lima e que tem o patrocínio da Petrobras para organizar o acervo.
O acervo de Sebastião Bernardes de Souza Prata pode estar desorganizado, mas revela sua preocupação com a própria posteridade: ele rascunhava cronologias e
autobiografias e guardava poemas e letras de música, muitas delas ainda inéditas.
"Ele tinha um amor muito grande pela música e achava que, como compositor, também não era
reconhecido como deveria", conta Andréa Alves, baseando-se nos
escritos de Othelo. Parcerias com
Herivelto Martins, "Praça Onze" e
"Mangueira Não" são duas de
suas muitas composições.
André Paes Leme não quis seguir o padrão dos musicais biográficos e escalou três atores para
interpretar Othelo: Flávio Bauraqui, Maurício Tizumba e Vilma
Melo, que vive o ator mais novo,
na infância em Uberlândia (MG).
"É uma tentativa de evitar a caricatura, desfazer a expectativa de
ver no palco o Othelo que já conhecemos", conta o diretor, que
embaralha os tempos e chega a
pôr os três intérpretes contracenando juntos. Ele também condensou os quatro filhos do ator
em dois personagens.
O espetáculo reproduz momentos marcantes da carreira de
Othelo, como a paródia da cena
do balcão de "Romeu e Julieta",
feita com Oscarito na chanchada
"Carnaval no Fogo" (1949).
"Tudo indica que essa cena foi
filmada no dia seguinte à grande
tragédia da vida de Othelo: sua
mulher matou o filho [que não
era de Othelo] e se suicidou. Ele só
teve coragem de ver a cena do balcão 25 anos depois", conta Douglas Tourinho.
Outras complicações de Othelo,
como o alcoolismo e as brigas
com a terceira mulher, Josephine
Hélène, também estão na peça.
Elas se alternam com boas histórias do ator, como sua amizade
com Orson Welles durante a estada do cineasta no Brasil.
No palco, parte dessas histórias
é contada por Roberto Moura,
pesquisador (autor do livro "Tia
Ciata e a Pequena África no Rio de
Janeiro") que conviveu muito
com Othelo no fim de sua vida.
Tornou-se seu primeiro biógrafo
("Grande Othelo: Um Artista") e
preparava com ele "Saudade do
Elite", filme sobre o clube-gafieira
carioca que não foi realizado.
Marcelo Capobiango, que interpreta Moura, também vive Wilson Moreira, o compositor que
homenageou o amigo Othelo com
"Olokofé", samba que abre e, em
grande estilo, fecha o espetáculo.
GRANDE OTHELO -ETA MOLEQUE
BAMBA! Quando: De 3/9 a 19/12 (qui.,
sex. e dom., às 19h30; sáb., às 20h30).
Onde: Teatro Sesi (av. Graça Aranha, 1,
Centro, tel. 0/xx/21/2563-4163). Quanto:
R$ 25.
Texto Anterior: Popload: Woo Hoo Próximo Texto: Festival de Veneza tem protestos e nova geração do cinema argentino Índice
|