São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2004

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TEATRO

Peça mostra como o ator sempre quis se livrar da imagem de "palhaço"

Espetáculo comemora os 90 anos de Grande Othelo

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Grande no codinome e pequeno no tamanho, Grande Othelo (1915-1993) nunca se sentiu confortável dentro de sua estatura artística. Achava que o viam só como "palhaço" e ele era um ator completo. Esse desconforto perpassa o espetáculo "Grande Othelo - Eta Moleque Bamba!", que estréia hoje, no Teatro Sesi, no Rio.
"Mostramos como ele sempre quis se livrar dessa imagem de caricato. Mas o objetivo não é trabalhar de forma negativa a história dele. Apesar da vida difícil, Othelo foi grande como ator, cômico, compositor", ressalta o diretor André Paes Leme.
A peça, escrita por Douglas Tourinho, é o primeiro passo no projeto "Grande Othelo 90 Anos", da produtora Sarau. Até 18 de outubro de 2005, quando se completariam as nove décadas de vida, deverão ser lançados uma biografia (feita por Sérgio Cabral), um documentário (por Evaldo Mocarzel) e uma exposição.
"Estamos com 64 caixas de material e continuamos fazendo descobertas", diz Andréa Alves, dona da Sarau ao lado de Ana Luisa Lima e que tem o patrocínio da Petrobras para organizar o acervo.
O acervo de Sebastião Bernardes de Souza Prata pode estar desorganizado, mas revela sua preocupação com a própria posteridade: ele rascunhava cronologias e autobiografias e guardava poemas e letras de música, muitas delas ainda inéditas.
"Ele tinha um amor muito grande pela música e achava que, como compositor, também não era reconhecido como deveria", conta Andréa Alves, baseando-se nos escritos de Othelo. Parcerias com Herivelto Martins, "Praça Onze" e "Mangueira Não" são duas de suas muitas composições.
André Paes Leme não quis seguir o padrão dos musicais biográficos e escalou três atores para interpretar Othelo: Flávio Bauraqui, Maurício Tizumba e Vilma Melo, que vive o ator mais novo, na infância em Uberlândia (MG).
"É uma tentativa de evitar a caricatura, desfazer a expectativa de ver no palco o Othelo que já conhecemos", conta o diretor, que embaralha os tempos e chega a pôr os três intérpretes contracenando juntos. Ele também condensou os quatro filhos do ator em dois personagens.
O espetáculo reproduz momentos marcantes da carreira de Othelo, como a paródia da cena do balcão de "Romeu e Julieta", feita com Oscarito na chanchada "Carnaval no Fogo" (1949).
"Tudo indica que essa cena foi filmada no dia seguinte à grande tragédia da vida de Othelo: sua mulher matou o filho [que não era de Othelo] e se suicidou. Ele só teve coragem de ver a cena do balcão 25 anos depois", conta Douglas Tourinho.
Outras complicações de Othelo, como o alcoolismo e as brigas com a terceira mulher, Josephine Hélène, também estão na peça. Elas se alternam com boas histórias do ator, como sua amizade com Orson Welles durante a estada do cineasta no Brasil.
No palco, parte dessas histórias é contada por Roberto Moura, pesquisador (autor do livro "Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro") que conviveu muito com Othelo no fim de sua vida. Tornou-se seu primeiro biógrafo ("Grande Othelo: Um Artista") e preparava com ele "Saudade do Elite", filme sobre o clube-gafieira carioca que não foi realizado.
Marcelo Capobiango, que interpreta Moura, também vive Wilson Moreira, o compositor que homenageou o amigo Othelo com "Olokofé", samba que abre e, em grande estilo, fecha o espetáculo.


GRANDE OTHELO -ETA MOLEQUE BAMBA! Quando: De 3/9 a 19/12 (qui., sex. e dom., às 19h30; sáb., às 20h30). Onde: Teatro Sesi (av. Graça Aranha, 1, Centro, tel. 0/xx/21/2563-4163). Quanto: R$ 25.


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