São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2004

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Woo Hoo

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA, EM LONDRES

E aí o show do Morrissey no Reading Festival ia começar...
Dado o panorama que envolvia a apresentação do veterano cantor, naquele momento, naquela hora, no sábado passado, espremido entre as performances dos barulhentos e urgentes Libertines e White Stripes, o show prometia ser bem curioso.
O Libertines, a banda da hora na Inglaterra, acabava de deixar o palco depois de tocar os já "clássicos" hits de um grupo de intensos dois, três anos de vida. Hits esses misturados às músicas do disco novo, homônimo, lançado na última segunda, e que deve ser colocado no topo das paradas britânicas quando os números forem divulgados, no final de semana.
Resumindo, o bastão do palco principal do glorioso sábado do Reading ia ser passado pelos furiosos garotos da novíssima geração do som britânico para o senhorzinho charmoso e algo rabugento que era velho amigo de quem tinha mais de 25, 30 anos.
A esperada migração do público do Libertines para os outros palcos, de atrações menos, hã, datadas, quase não ocorreu. A grande parte da molecada ficou para ver o tio Moz cantar suas coisas de coração dilacerado, pátria injusta com seus filhos e outras implicações adultas, sérias.
A gritaria que Morrissey recebeu quando apareceu em cena foi absurda. E retribuiu logo na primeira canção, com uma versão raríssima de "How Soon Is Now", uma das principais músicas de sua seminal ex-banda, The Smiths. Eu vi gente chorar.
Dos Smiths, Morrissey ainda mandou "Shoplifters of the World Unite" e "There Is a Light That Never Goes Out". E a meninada aplaudiu fervorosamente o cara que já foi considerado o "ser mais maravilhoso do mundo". A majestade se mostrava intacta.
O velho Morrissey encantava e se mostrava encantado ele mesmo. Falou entre todas as músicas, conversava, reclamava, contava histórias. Pediu uma vaia gigante para a Radio 1, uma das patrocinadoras do Reading Festival. "A Radio 1 se recusou a tocar meus últimos dois singles. Vamos dar um grande "boo" para a Radio 1." E tome "booooooo".
Em hora tal, falou que tomou uma multa absurda no condado de Caversham, só porque estava a 32 milhas por hora em uma estrada onde o limite permitido era 30. "Caversham, esta música NÃO é para você", bradou antes de começar "There Is a Light...".
"Vocês agüentam mais algumas canções", soltou tímido, antes de apresentar seu próximo single, a sexy "Let Me Kiss You".
A luz de Morrissey parece nunca se apagar. Mesmo.

Hum
Já que não vamos ver o Franz Ferdinand na festa do VMB, principal prêmio da MTV brasileira, como "compensação" parece que teremos David Byrne (ex-Talking Heads) fazendo show com Caetano Veloso.

Woo Hoo
O novo hino da cena britânica é... japonês. As meninas do 5678's, sub-banda japonesa tosca, mundialmente conhecida depois que tocaram meia hora durante cena sanguinária de "Kill Bill", do Tarantino, virou coqueluche inglesa.
Tudo porque a principal música delas, a peste "Woo Hoo", cuja assobiável letra traz a linha "Woo hoo (pausa) woo hoo hoo", foi escolhida também como trilha sonora de um comercial sobre futebol de uma das principais cervejas inglesas. Você por Londres e vai ter sempre alguém cantarolando "woo hoo woo hoo".

lucio@uol.com.br


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