São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2004

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Nação Zumbi lança DVD e faz comércio com o "anticomercial"

DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo pernambucano Nação Zumbi afronta mais uma vez os cânones definidos pela grande indústria musical nacional. Lança hoje, com show na casa paulistana DirecTV Music Hall, um DVD "de autor", que não se apóia em CD ao vivo, programa de televisão ou outras artimanhas parecidas.
"Propagando", o DVD, foi gravado em sessão única, sem maiores "correções" de edição, a partir de um show que divulgava o CD mais recente, mas integra temas de todos os discos do grupo, mesmo os da fase inicial, liderada por Chico Science (1966-97).
Daria um CD rememorativo, mas não se trata disso, e sim de um registro audiovisual inédito. Um extenso documentário, videoclipes, making of do DVD e uma curiosa faixa gravada sob a ótica da guitarra de Lúcio Maia, 33, completam os 150 minutos gravados de som e imagem.
O vocalista Jorge Du Peixe, 37, explica a opção: "Gravadoras já nos sugeriram que fizéssemos disco ao vivo, mas nem passou pela nossa cabeça. Queremos esticar nossa discografia, que só tem dez anos. CD ao vivo vai chegar uma hora, mas ainda estamos muito no começo".
Outra regra industrial que a Nação tem quebrado é a de que seus shows andam lotados, mesmo sem apoio no tripé gravadora multinacional-música comercial-divulgação em rádio e TV.
Mais espantoso, o mesmo se repete com a banda paralela Los Sebozos Postiços, que tem corrido várias cidades do Brasil sem empresário, infra-estrutura ou propósitos de lucro. Ali, o repertório quase sempre alegre de mestre Jorge Ben é reformulado em versões soturnas, que Maia prefere tratar como "de tom menor".
"A gente ficou de cara com as lotações do show dos Sebozos Postiços. Não costumamos trabalhar músicas em tom maior, mas isso não quer dizer que queremos vetar a alegria ou a possibilidade de ser confundidos com uma coisa mais comercial. É só não flertar, não buscar demais a alegria", explica Maia, sem esclarecer o paradoxo do sucesso das canções em "tom menor" da Nação Zumbi.
Du Peixe vai em outra direção. "Nas músicas de Jorge Ben existe também uma melancolia muito grande, na métrica, nas melodias. Mas levamos um pouco de Nação Zumbi para suas músicas. É a coisa que a gente gosta, sempre ouvi Television, Nick Cave, a eletrônica melancólica."
Sobre o DVD, Maia reconhece nele uma "tentativa de superar a problemática das vendas de CD". "O disco de ouro no Brasil caiu de 100 mil para 50 mil cópias, isso é uma demonstração de que a crise está em vias de acabar com o comércio de CD. Mas queremos esse DVD como um filho, um trabalho autoral", afirma.
Du Peixe completa a explicação: "Imagem e som estão muito próximos hoje em dia. São mídias mortas, mídias vivas... Mexemos no DVD como se estivéssemos mexendo em disco, antes de qualquer coisa vem o som".
A logística da banda, com integrantes alocados em São Paulo e Recife, tem sido garantida mais pelos shows, inclusive em turnês extensas e bem-sucedidas pelo exterior. Ainda não deu para enriquecer, diz o guitarrista. "Outro dia nos perguntam se temos carro blindado, respondi que até agora só deu para blindar a bicicleta", ri.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


NAÇÃO ZUMBI - show único no DirecTV Music Hall (av. Jamaris, 213, Moema, tel. 0/xx/11/6846-6040). Quando: hoje, às 22h. Quanto: R$ 30 a R$ 70.

PROPAGANDO - DVD da Nação Zumbi. Lançamento: Trama. Quanto: R$ 45,50 (preço sugerido pela gravadora).



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