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Nação Zumbi lança DVD e faz comércio com o "anticomercial"
DA REPORTAGEM LOCAL
O grupo pernambucano Nação
Zumbi afronta mais uma vez os
cânones definidos pela grande indústria musical nacional. Lança
hoje, com show na casa paulistana
DirecTV Music Hall, um DVD
"de autor", que não se apóia em
CD ao vivo, programa de televisão
ou outras artimanhas parecidas.
"Propagando", o DVD, foi gravado em sessão única, sem maiores "correções" de edição, a partir
de um show que divulgava o CD
mais recente, mas integra temas
de todos os discos do grupo, mesmo os da fase inicial, liderada por
Chico Science (1966-97).
Daria um CD rememorativo,
mas não se trata disso, e sim de
um registro audiovisual inédito.
Um extenso documentário, videoclipes, making of do DVD e
uma curiosa faixa gravada sob a
ótica da guitarra de Lúcio Maia,
33, completam os 150 minutos
gravados de som e imagem.
O vocalista Jorge Du Peixe, 37,
explica a opção: "Gravadoras já
nos sugeriram que fizéssemos
disco ao vivo, mas nem passou
pela nossa cabeça. Queremos esticar nossa discografia, que só tem
dez anos. CD ao vivo vai chegar
uma hora, mas ainda estamos
muito no começo".
Outra regra industrial que a Nação tem quebrado é a de que seus
shows andam lotados, mesmo
sem apoio no tripé gravadora
multinacional-música comercial-divulgação em rádio e TV.
Mais espantoso, o mesmo se repete com a banda paralela Los Sebozos Postiços, que tem corrido
várias cidades do Brasil sem empresário, infra-estrutura ou propósitos de lucro. Ali, o repertório
quase sempre alegre de mestre
Jorge Ben é reformulado em versões soturnas, que Maia prefere
tratar como "de tom menor".
"A gente ficou de cara com as lotações do show dos Sebozos Postiços. Não costumamos trabalhar
músicas em tom maior, mas isso
não quer dizer que queremos vetar a alegria ou a possibilidade de
ser confundidos com uma coisa
mais comercial. É só não flertar,
não buscar demais a alegria", explica Maia, sem esclarecer o paradoxo do sucesso das canções em
"tom menor" da Nação Zumbi.
Du Peixe vai em outra direção.
"Nas músicas de Jorge Ben existe
também uma melancolia muito
grande, na métrica, nas melodias.
Mas levamos um pouco de Nação
Zumbi para suas músicas. É a coisa que a gente gosta, sempre ouvi
Television, Nick Cave, a eletrônica melancólica."
Sobre o DVD, Maia reconhece
nele uma "tentativa de superar a
problemática das vendas de CD".
"O disco de ouro no Brasil caiu de
100 mil para 50 mil cópias, isso é
uma demonstração de que a crise
está em vias de acabar com o comércio de CD. Mas queremos esse DVD como um filho, um trabalho autoral", afirma.
Du Peixe completa a explicação:
"Imagem e som estão muito próximos hoje em dia. São mídias
mortas, mídias vivas... Mexemos
no DVD como se estivéssemos
mexendo em disco, antes de qualquer coisa vem o som".
A logística da banda, com integrantes alocados em São Paulo e
Recife, tem sido garantida mais
pelos shows, inclusive em turnês
extensas e bem-sucedidas pelo
exterior. Ainda não deu para enriquecer, diz o guitarrista. "Outro
dia nos perguntam se temos carro
blindado, respondi que até agora
só deu para blindar a bicicleta", ri.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
NAÇÃO ZUMBI - show único no DirecTV
Music Hall (av. Jamaris, 213, Moema, tel.
0/xx/11/6846-6040). Quando: hoje, às
22h. Quanto: R$ 30 a R$ 70.
PROPAGANDO - DVD da Nação Zumbi.
Lançamento: Trama. Quanto: R$ 45,50
(preço sugerido pela gravadora).
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