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"Surfistinha é Paulo Coelho do sexo"
Para especialista, mago e ex-prostituta fazem literatura de auto-ajuda; enquanto ele banaliza o misticismo, ela, o erotismo
Psicanalista afirma que prostituição seduz leitores porque é uma forma de poder e hoje o "comércio"
de afetos é generalizado
Divulgação/Editora Planeta
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A espanhola Alejandra Duque, autora de "A Agenda de Virgínia" |
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é só o sucesso de vendas
que pode aproximar Bruna
Surfistinha de Paulo Coelho.
Nos dois casos, temos auto-ajuda, na opinião de Eliane Robert Moraes, professora de estética e literatura da PUC e autora de "Lições de Sade - Ensaios sobre a Imaginação Libertina" (editora Iluminuras).
"O livro de Bruna Surfistinha
e seus similares não são eróticos, porque a literatura erótica
mobiliza a fantasia, o que não
ocorre com esses diários das
ex-prostitutas. Esses livros são
moralistas, não têm nada de
transgressão, reafirmam os lugares sociais. O fato de todas
deixarem a prostituição segue o
modelo da auto-ajuda, de Paulo
Coelho, do herói que passa pelas provas e que no final é recompensado", avalia Moraes.
Para ela, enquanto Paulo
Coelho é a "banalização do misticismo", Surfistinha e cia. são
do erotismo. "O misticismo de
Paulo Coelho e o erotismo de
Surfistinha são "light", perdem
o que é mais importante: a capacidade de perturbar lugares
sociais, de transcender. Ao contrário, são normalizadores, reafirmam os lugares sociais."
O sucesso de vendas dos diários de ex-garotas de programa,
avalia, está ligado "à demanda
de voyeurismo da sociedade".
"E, no fundo, esses livros atendem a uma sociedade que deve
estar com sua sexualidade muito reprimida, não obstante o sexo e o erotismo presentes no
horário nobre da televisão."
Sobre o fascínio despertado
por esses livros, o psicanalista
Chaim Samuel Katz, membro
da Formação Freudiana e doutor em comunicação pela
UFRJ, afirma: "A prostituição
tem um lado fascinante, sedutor, que é tomar conta e dirigir
os desejos dos atos sexuais".
Ele acredita haver semelhanças entre a prostituição e o "comércio" de afetos a que muitos
estão submetidos hoje em dia:
"Talvez possamos tirar algumas ilações se tomarmos o que
se chama de "azarações" contemporâneas. São grupos -especialmente de mais jovens-
que se encontram em lugares
determinados ("points') e fazem concursos de "quem fica
mais". O pagamento é em acréscimo de poder", avalia.
Dupla personalidade
Joel Birman, professor do
Instituto de Psicologia da
UFRJ, avalia que esses diários
são utilizados pelas autoras para "matar" o lado da prostituta.
"É como se fosse um enterro. A
própria escrita deve servir como ritual de purificação. Tem
peso simbólico de retomada de
sua "verdadeira" condição."
Tanto em "O Doce Veneno",
de Bruna Surfistinha, como em
"O Diário de Marise" e "A
Agenda de Virgínia", as autoras
se dividem em duas personalidade, com nomes reais e "de
guerra". Birmam diz que isso
faz parte "do reconhecimento
da condição da prostituta na
sociedade". "É uma figura muito vilipendiada."
(RAFAEL CARIELLO E LAURA MATTOS)
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