São Paulo, segunda-feira, 03 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Diário de Sintra" reconstrói dias finais de Glauber em Portugal

Filme, feito por sua viúva Paula Gaitán, será exibido hoje, às 20h, no Itaú Cultural

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

A preservação da memória de perdas precoces que atingiram o cinema brasileiro nos anos 70 e 80 passa, em boa medida, por empreendimentos familiares. Foi assim com o projeto de restauração da obra de Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) pelos filhos Alice, Antonio e Maria, e com o recente documentário "Person", que Marina Person dedica ao pai, Luís Sérgio (1936-1976).
A passagem de Glauber Rocha (1939-1981) por Cuba, de novembro de 1971 a dezembro de 1972, já havia sido recuperada por seu filho Eryk em "Rocha que Voa" (2002). Agora, os últimos meses de vida do cineasta, em Portugal, são reconstituídos com intensa poesia por sua viúva, a fotógrafa e artista plástica Paula Gaitán, em "Diário de Sintra".
Premiado na quinta edição do Rumos Cinema e Vídeo do Itaú Cultural, o longa será exibido hoje, às 20h, na abertura da exposição "Imagem da Imagem", e será reprisado sábado e domingo, às 19h30, no próprio Itaú Cultural (av. Paulista, 149, tel. 0/xx/11/ 2168-1776). Ele integra ainda a mostra competitiva de documentários da Première Brasil do Festival do Rio, que começa no dia 20.
Mais do que complementares, exposição (em cartaz até o dia 23) e filme são indissociáveis. As fotos do acervo pessoal de Paula, sobre o cotidiano da família em Sintra, mostram Glauber, Eryk e Ava, filhos do casal, em uma espécie de refúgio caloroso que se tornaria premonitório de um tempo que se esgotava rapidamente -eles se instalaram em Portugal em fevereiro de 1981, e Glauber morreria em agosto, no Rio.
No documentário, essas imagens constituem literalmente as folhas da árvore a partir da qual Paula funde passado e presente. Além das fotos, ela usa filmes caseiros e gravações em áudio do período. Em uma delas, Glauber fala da morte e, ao resumir vida e obra, orgulha-se do que fez ("nunca enganei ninguém"), mas diz querer mais.
"Diário de Sintra" retorna ainda a Portugal em busca de vestígios da passagem da família, na memória de lugares e de pessoas. Com a montagem, cria espaços e emoções atemporais, na busca por traduzir em imagens e sons o que fica dos que se vão dentro de cada um de nós.


Texto Anterior: Venezianas
Próximo Texto: Perfil: Versatilidade é marca de Julianne Moore
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.