Principal criação do italiano Hugo Pratt, a HQ de Corto Maltese tem referências históricas e literárias

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Corto Maltese nasceu em Malta, filho de uma cigana de Gibraltar e um britânico, mora em Antígua e está em viagem constante pelo mundo. Aventureiro, cético, irônico e seguidor de suas próprias leis, ele é um personagem do quadrinista italiano Hugo Pratt, que criou suas histórias de 1967 a 1989.
"As Célticas", um dos 12 álbuns que reúnem as HQs estreladas por Corto, está sendo relançado no Brasil e traz seis aventuras ambientadas de 1917 a 1918, durante período da Primeira Guerra Mundial.
Hugo Pratt (1927-95), o criador, foi homem de muitas pátrias: além de sua Itália natal, morou na Etiópia, na Argentina, no Reino Unido, na França e no Brasil, casou-se no México e morreu na Suíça. Levou a suas histórias em quadrinhos essa vivência, principalmente nas aventuras de Corto Maltese, sua principal criação.
Marinheiro com ar despreocupado e olhar atento, Corto Maltese não aparece como um homem acima do bem e do mal.
É humano e falho, mas autoconfiante. Não tem medo de morrer, pois "ainda não decidiu" a data de sua morte. Suas aventuras misturam suspense, misticismo e o forte gosto de viagens de Pratt. Nas seis histórias reunidas em "As Célticas", o personagem aparece em Veneza, Irlanda, Inglaterra e França. A Primeira Guerra Mundial está acontecendo, mas o personagem não participa diretamente dela: não consegue entender a razão de tanta morte e destruição.
Corto vive quase sempre como homem à parte, alguém que está só de passagem, uma espécie de observador bem informado. Há momentos, entretanto, em que ele entra em ação: para vingar um amigo morto ou para lutar pela sobrevivência, por exemplo.
Fã de literatura, Pratt prestou homenagens em "As Célticas". Um dos personagens se chama Hernestway, em alusão a Ernest Hemingway; em outro capítulo há citações de "Dom Quixote", de Miguel de Cervantes; e uma das histórias se chama "Sonho de uma Manhã de Inverno", com participação de personagens "emprestados" de "Sonho de uma Noite de Verão", de William Shakespeare.
Essas citações não existem para dar um ar "cult" às histórias de Corto. Elas estão nas páginas porque Pratt sempre valorizou os roteiros. E foi assim que cunhou seus quadrinhos: sabendo da importância do enredo. Os álbuns do aventureiro Corto Maltese, com suas viagens, referências históricas e literárias, dão vontade de conhecer não só mais lugares mas também novos livros.