|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O MALDITO
Diretor deve vencer pelo talento
INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema
"O poder dos diretores acabou
com "O Portal do Paraíso'", queixava-se Martin Scorsese ainda no
ano passado.
Cimino vinha do sucesso de "O
Franco-Atirador", que lhe dera o
Oscar de melhor filme e direção
em 1978. Três anos depois, seu
"Portal', um caríssimo, magnífico,
originalíssimo faroeste foi retirado
de cartaz às pressas e, mais depressa ainda, responsabilizado pela falência da United Artists.
A operação lembra um pouco o
massacre promovido por Irving
Thalberg nos anos 20, quando desfigurou "Ouro e Maldição", de
Erich von Stroheim, reduzindo-o
de 42 para 10 rolos. A operação tinha por objetivo mostrar que, em
definitivo, quem dava as cartas na
Hollywood de Thalberg eram os
produtores.
A diferença com o início dos
anos 80, é que, nos anos 20, os produtores entendiam de cinema. Os
mais novos entendem de negócios.
Com isso, os anos 80 marcaram o
início de um período de prosperidade descomunal para o cinema
americano, mas um retrocesso em
termos de criatividade e diversidade (dele, quem dá conta é Robert
Altman, em "O Jogador").
Assim como Stroheim, Cimino
tornou-se um maldito e, se conseguiu impor seu talento em alguns
momentos, sobretudo "O Ano do
Dragão" (1985), seu prestígio e
seus orçamentos foram seriamente afetados.
Cimino continuou a trabalhar
seu gosto pelos extremos, a opor
racionalidade e desrazão, modernidade e mitologia.
Na baixa, é possível (provável)
que o tempo trabalhe a seu favor e
lhe devolva o prestígio que ganhou
com um pensamento inquieto e
um talento exuberante, virtudes
insuficientes para que seu recente
"Na Trilha do Sol" sequer chegasse
aos cinemas no Brasil (foi lançado
em vídeo, em 1997).
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|