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RELÂMPAGOS
O sono flagelado
JOÃO GILBERTO NOLL
Ele dizia sempre para eu
ficar bem quieto, ouvindo
as orações matutinas e vespertinas, que depois voltaria para me arrumar, para aí
sim ouvirmos só nós dois as
orações noturnas, as mais
intensas, porque nelas a
gente podia alisar a pele do
Verbo; mas quando ele vinha à noite eu invariavelmente já adormecera e sonhava com uns parasitas
em mentes flageladas. Eu
amanhecia chorando, e ao
meu lado ele dizendo que ficasse bem quieto, que voltaria para a despedida. Que
veio: noto que não choro ao
contemplar sua mancha sucinta, longe, partindo para
sua morna mansidão.
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