São Paulo, quinta, 3 de setembro de 1998

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RELÂMPAGOS

O sono flagelado

JOÃO GILBERTO NOLL

Ele dizia sempre para eu ficar bem quieto, ouvindo as orações matutinas e vespertinas, que depois voltaria para me arrumar, para aí sim ouvirmos só nós dois as orações noturnas, as mais intensas, porque nelas a gente podia alisar a pele do Verbo; mas quando ele vinha à noite eu invariavelmente já adormecera e sonhava com uns parasitas em mentes flageladas. Eu amanhecia chorando, e ao meu lado ele dizendo que ficasse bem quieto, que voltaria para a despedida. Que veio: noto que não choro ao contemplar sua mancha sucinta, longe, partindo para sua morna mansidão.



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