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"NAVEGAR É PRECISO"
Portugueses criam arte transgressora
BRUNO GARCEZ
da Reportagem Local
Filmes que tratam de fetichismo e canibalismo, e obras de
artes plásticas que cutucam, com ironia, as chagas do passado
colonial de Portugal. Esses são temas de trabalhos de artistas
portugueses contemporâneos exibidos na mostra "Navegar É
Preciso", organizada pelo Centro Cultural São Paulo. O megaevento, aberto ao público na última terça, pretende gerar
um diálogo entre a arte dos países que falam português. A
mostra exibe hoje o filme "A Comédia de Deus", de João César
Monteiro, que trata de um sorveteiro que coleciona pêlos pubianos de ninfetas. No dia 15, será a vez do também português
Manoel de Oliveira, com seu filme "Os Canibais".
"Inquietude", título do filme
mais recente do cineasta português Manoel de Oliveira, cai como
uma luva para descrever a intensa
produtividade do diretor.
Oliveira, 90, realiza um filme por
ano e já prepara mais um, a ser rodado em 99. Na ativa desde a década de 30, o cineasta só foi ganhar
notoriedade a partir dos anos 70,
devido ao reconhecimento da crítica internacional.
Na última segunda-feira, o diretor recebeu um prêmio por sua
obra no Festival Mundial de Cinema de Montreal, no Canadá. "Inquietude", exibido "hors-concours" no Festival de Cannes deste
ano, passou também fora da mostra competitiva de Montreal.
Em setembro, São Paulo abriga
duas mostras dedicadas ao cineasta português. O "Navegar É Preciso" promove um ciclo com 11 filmes do cineasta, exibidos dentro
da mostra de cinema português
contemporâneo.
Haverá, ainda, entre os dias 8 e 11
deste mês, um miniciclo com seis
filmes do cineasta, entre eles "Aniki-Bobó", de 42, seu primeiro longa-metragem.
As obras de Oliveira giram em
torno de temas como a memória, a
perda da tradição e a nostalgia por
um passado que se perdeu ou que
sobrevive em lugares remotos. O
olhar do cineasta é lírico e carregado de melancolia.
Seus filmes são lentos e trazem
planos longos, nos quais a câmera
costuma permanecer imóvel.
Por vezes, como em "Os Canibais", de 87, Oliveira aposta em temas incômodos e faz uso de um
peculiar senso de humor.
"Os Canibais" é uma ópera satírica que ridiculariza os poderosos
de Portugal. O filme fala de um
aristocrata que morre assado ao
cair dentro de uma lareira e acaba
sendo "servido" em um banquete
de outros aristocratas. Aqueles que
desfrutam de sua carne, no entanto, desconhecerão, por um bom
tempo, a sua real procedência.
A irreverência também marca
outro trabalho do diretor, o filme
"O Convento", que fala de um escritor que vai para Portugal a fim
de comprovar seus estudos que
atestam que Shakespeare era, na
verdade, de ascendência espanhola, e não inglês.
A busca pelo passado remoto de
Portugal é o tema de "Non ou a Vã
Glória de Comandar", de 90.
No filme, um oficial português
relata a seus companheiros, durante o caminho para uma frente
de batalha na África, histórias do
passado colonial português, desde
o século 16.
Outros cineastas
A mostra de novos cineastas contemporâneos portugueses do "Navegar É Preciso" traz outras curiosidades além do ciclo dedicado a
Manoel de Oliveira.
Um dos destaques é a exibição,
hoje, do filme "A Comédia de
Deus", do cineasta João César
Monteiro.
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