São Paulo, quinta, 3 de setembro de 1998

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Artista evoca colonialismo

da Reportagem Local

Os trabalhos da artista plástica moçambicana radicada em Portugal Ângela Ferreira lidam com um tema que, segundo ela, ainda é incômodo para os portugueses: o passado colonial do país no continente africano.
A instalação da artista apresentada no "Navegar É Preciso" tenta resgatar essa incômoda memória. No trabalho, Ângela dispôs peças do mobiliário pertencente a seus pais em frente a um vídeo realizado nos anos 70, que traz imagens "filtradas" de Moçambique. Ou seja, omite a presença de negros, apresentando brancos em hotéis luxuosos e em praias paradisíacas.
"São imagens ainda vistas com saudosismo por muitos portugueses e por pessoas de formação lusófona, como meus pais, que são moçambicanos", diz a artista.
Atrás do televisor, se encontra uma prateleira com três peças de cerâmica retratando o personagem Gungunhama, o último chefe tribal de Moçambique, antes da chegada dos portugueses.
A dupla de videastas portugueses João Tabarra e João Louro também se propôs a incomodar. No vídeo "Read My Lips - All Guilty", a dupla critica a comercialização da produção artística e levanta suspeitas sobre as instituições que patrocinam exposições de arte.
O artista Pedro Aimorim se volta para um tema distinto: o seu próprio corpo. Aimorim apresenta uma instalação com três monitores de vídeo. Em um deles, exibe uma cena em que cose o próprio dedo com linha e agulha; em outro, enrola o rosto de uma mulher com linha, enquanto ela faz o mesmo em seu rosto.
"Optei por trabalhar com meu corpo porque é a única coisa que tenho de universal", diz Aimorim.
Já José Pedro Croft procura subverter a noção de espaço e "criar paradoxos", diz. O paradoxo a que refere o artista se faz presente em uma das obras apresentadas.
Croft apoiou três gigantescos blocos de gesso em um minúsculo banco de madeira, criando um triângulo equilátero em cima de uma base quadrada, o apoio do banco. O fotógrafo Jorge Molder, selecionado para a Bienal de Veneza deste ano, faz, em seus auto-retratos, um jogo de contrastes entre claro e escuro.


O quê: Exposições dos artistas José Pedro Croft, Jorge Molder, João Tabarra, Ângela Ferreira e Pedro Moitinho
Quanto: grátis
Quando: das 9h às 22h, até o dia 18 de outubro
Onde: Centro Cultural São Paulo (rua Vergueiro, 1.000, tel. 011/ 277-3611)



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