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ARTES PLÁSTICAS
Diretor do museu francês traça panorama da mostra que abre hoje para o público em SP
"Parade" é reflexo da utopia do Pompidou
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Parade", que é aberta hoje para
o público, é a maior mostra realizada fora da França com obras do
acervo do Museu de Arte Moderna do Centro Georges Pompidou.
Criado nos anos 70, o centro foi
um espaço de vanguarda ao reunir música, artes plásticas, design
e cinema sob um mesmo teto. Polêmico, o Pompidou inaugurou
ainda a era das megaexposições.
Por isso entrar na Oca, no parque
Ibirapuera, é como adentrar um
ambiente francês, de multidisciplinaridade e forte encenação.
Sobre esses temas, o diretor do
museu, Alfred Pacquement, falou
com exclusividade à Folha.
Folha - Como o senhor vê a mostra, agora que está pronta?
Alfred Pacquement - Estou muito impressionado com a forma
com que a exposição ficou no prédio de Niemeyer. É um espaço difícil para apresentar obras de arte,
já que ele não tem paredes, por
exemplo. Minha impressão é que
a cenografia é muito eficiente para a circulação, não é entediante,
está cheia de novas idéias, surpresas, relações interessantes entre as
obras. Aí está o sucesso: um alto
número de peças que, ao final, parecem muito bem posicionadas.
Folha - Há uma relação bastante
estreita entre os artistas brasileiros e a França, Cícero Dias é só um
exemplo. Mas não há representantes do Brasil em "Parade"...
Pacquement - É uma deficiência
de nosso acervo, não temos obras.
Espero que esta mostra seja uma
boa razão para que brasileiros
passem a fazer parte da coleção.
Folha - Como um dos responsáveis pelas aquisições, o senhor já
visitou galerias e o Projeto Leonilson, aqui no Brasil. Já se decidiu
por algum artista?
Pacquement - Com esta exposição conseguimos não apenas
bons contatos, mas ótimos sentimentos sobre o Brasil. Temos já
projetos de aquisição. Tunga e
Cildo Meireles são artistas que devem entrar para nosso acervo.
Folha - Em 1999, quando o Pompidou estava fechado, museus de
Nova York e Berlim organizaram
mostras que sintetizaram a arte do
século 20 nessas cidades. "Parade"
é uma forma de fazer isso agora?
Pacquement - Sim e não. Nosso
objetivo não é resumir a arte do
século 20. Queremos fazer um tipo de caminhada pelo século,
com obras de artistas plásticos,
arquitetos, diretores de cinema
relacionados à França. Se quiséssemos fazer um panorama do século, seriam aqueles artistas que
todos conhecem. Apresentamos
vários que devem ser novidade.
Folha - Certamente uma dessas
obras é "Dial H-I-S-T-O-R-Y", de Johan Grimonprez, um vídeo de 1997
sobre sequestros de aviões, que ganha dramática atualidade agora.
Pacquement - Obviamente, essa
tragédia que ocorreu em Nova
York não é a primeira atitude terrorista nos últimos 20 anos. Há
imagens e temas com os quais os
artistas se confrontam e fazem
parte de nosso tempo. É bastante
fascinante ver o vídeo e a forma
como os aviões são sequestrados.
Ele foi uma produção do Pompidou, por isso está na mostra.
Folha - Inaugurado em 77, o Pompidou foi pioneiro ao misturar linguagens e polêmico ao organizar
grandes mostras. O senhor está como diretor há um ano, como avalia
o papel do espaço agora?
Pacquement - Algumas coisas
mudam e outras não. Somos uma
instituição que é, ao mesmo tempo, museu de arte moderna e contemporânea. Não somos o único
lugar a ser assim, mas somos um
dos locais onde as pessoas sabem
que vão ver o percurso da arte no
século 20. De certa forma, é o que
fizemos com "Parade". Por outro
lado, isso nos limita, pois não temos como reorganizar o museu
sempre. O que acho interessante é
que, quando o museu foi criado,
nos anos 70, ele tinha como utopia misturar disciplinas. Agora,
essa idéia está mais acurada. As
artes têm muito mais conexões do
que tinham, são bastante relacionadas com cinema, música e coreografia, por exemplo. E nosso
objetivo é radicalizar cada vez
mais essa tendência. Incluímos
arquitetura e design no acervo, o
que não era usual. E tudo isso se
reflete em "Parade".
PARADE - mostra com cerca de 260 obras do acervo do Museu de Arte
Moderna do Centro Georges Pompidou.
Curadoria: Nelson Aguilar e Laurent le
Bon. Onde: pavilhão Lucas Nogueira
Garcez - Oca (parque Ibirapuera, portão
2, tel. 0/xx/11/5081-2829). Quando: de
ter. a sex., das 9h às 21h; sáb. e dom., das
10h às 21h. Até 15/1. Quanto: R$ 7.
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