São Paulo, quarta-feira, 03 de outubro de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

Diretor do museu francês traça panorama da mostra que abre hoje para o público em SP

"Parade" é reflexo da utopia do Pompidou

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Parade", que é aberta hoje para o público, é a maior mostra realizada fora da França com obras do acervo do Museu de Arte Moderna do Centro Georges Pompidou.
Criado nos anos 70, o centro foi um espaço de vanguarda ao reunir música, artes plásticas, design e cinema sob um mesmo teto. Polêmico, o Pompidou inaugurou ainda a era das megaexposições. Por isso entrar na Oca, no parque Ibirapuera, é como adentrar um ambiente francês, de multidisciplinaridade e forte encenação.
Sobre esses temas, o diretor do museu, Alfred Pacquement, falou com exclusividade à Folha.

Folha - Como o senhor vê a mostra, agora que está pronta?
Alfred Pacquement -
Estou muito impressionado com a forma com que a exposição ficou no prédio de Niemeyer. É um espaço difícil para apresentar obras de arte, já que ele não tem paredes, por exemplo. Minha impressão é que a cenografia é muito eficiente para a circulação, não é entediante, está cheia de novas idéias, surpresas, relações interessantes entre as obras. Aí está o sucesso: um alto número de peças que, ao final, parecem muito bem posicionadas.

Folha - Há uma relação bastante estreita entre os artistas brasileiros e a França, Cícero Dias é só um exemplo. Mas não há representantes do Brasil em "Parade"...
Pacquement -
É uma deficiência de nosso acervo, não temos obras. Espero que esta mostra seja uma boa razão para que brasileiros passem a fazer parte da coleção.

Folha - Como um dos responsáveis pelas aquisições, o senhor já visitou galerias e o Projeto Leonilson, aqui no Brasil. Já se decidiu por algum artista?
Pacquement -
Com esta exposição conseguimos não apenas bons contatos, mas ótimos sentimentos sobre o Brasil. Temos já projetos de aquisição. Tunga e Cildo Meireles são artistas que devem entrar para nosso acervo.

Folha - Em 1999, quando o Pompidou estava fechado, museus de Nova York e Berlim organizaram mostras que sintetizaram a arte do século 20 nessas cidades. "Parade" é uma forma de fazer isso agora?
Pacquement -
Sim e não. Nosso objetivo não é resumir a arte do século 20. Queremos fazer um tipo de caminhada pelo século, com obras de artistas plásticos, arquitetos, diretores de cinema relacionados à França. Se quiséssemos fazer um panorama do século, seriam aqueles artistas que todos conhecem. Apresentamos vários que devem ser novidade.

Folha - Certamente uma dessas obras é "Dial H-I-S-T-O-R-Y", de Johan Grimonprez, um vídeo de 1997 sobre sequestros de aviões, que ganha dramática atualidade agora.
Pacquement -
Obviamente, essa tragédia que ocorreu em Nova York não é a primeira atitude terrorista nos últimos 20 anos. Há imagens e temas com os quais os artistas se confrontam e fazem parte de nosso tempo. É bastante fascinante ver o vídeo e a forma como os aviões são sequestrados. Ele foi uma produção do Pompidou, por isso está na mostra.

Folha - Inaugurado em 77, o Pompidou foi pioneiro ao misturar linguagens e polêmico ao organizar grandes mostras. O senhor está como diretor há um ano, como avalia o papel do espaço agora?
Pacquement -
Algumas coisas mudam e outras não. Somos uma instituição que é, ao mesmo tempo, museu de arte moderna e contemporânea. Não somos o único lugar a ser assim, mas somos um dos locais onde as pessoas sabem que vão ver o percurso da arte no século 20. De certa forma, é o que fizemos com "Parade". Por outro lado, isso nos limita, pois não temos como reorganizar o museu sempre. O que acho interessante é que, quando o museu foi criado, nos anos 70, ele tinha como utopia misturar disciplinas. Agora, essa idéia está mais acurada. As artes têm muito mais conexões do que tinham, são bastante relacionadas com cinema, música e coreografia, por exemplo. E nosso objetivo é radicalizar cada vez mais essa tendência. Incluímos arquitetura e design no acervo, o que não era usual. E tudo isso se reflete em "Parade".


PARADE - mostra com cerca de 260 obras do acervo do Museu de Arte Moderna do Centro Georges Pompidou. Curadoria: Nelson Aguilar e Laurent le Bon. Onde: pavilhão Lucas Nogueira Garcez - Oca (parque Ibirapuera, portão 2, tel. 0/xx/11/5081-2829). Quando: de ter. a sex., das 9h às 21h; sáb. e dom., das 10h às 21h. Até 15/1. Quanto: R$ 7.


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