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TEATRO
ANIVERSÁRIO
Teatro comemora 1º década de seu ciclo atual com festa e ensaio aberto da terceira parte de "Os Sertões"
Zé Celso celebra ritos de dez anos do Oficina
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Dos ciclos que seus artistas-arquitetos de carne e osso tornam
memória há 45 anos, o grupo Oficina distingue mais um. Hoje, faz
uma década que o teatro do Bixiga abriu os portões da rua Barão
de Jaceguai, 520.
Melhor, reabriu. Porque a história do Oficina é de subsistência,
feita de contradições e rupturas. O
grupo começa com o aluguel daquele "teatro espírita" dos Novos
Comediantes, por estudantes da
Faculdade de Direito do Largo
São Francisco, em 1958, inaugurado Oficina em 1961.
Um incêndio destruiu o teatro
em 1966. Foi reerguido no ano seguinte, conforme concepção dos
arquitetos Flávio Império (1935-85) e Rodrigo Lefèvre (1938-84).
A repressão do regime militar,
que já havia censurado montagens do grupo em 1968, bateu
mais forte em 1974, invadindo o
teatro e demarcando o exílio de
oito anos do ator e encenador José
Celso Martinez Corrêa, 66.
O 3 de outubro colocado em
evidência agora, pelas novíssimas
ou calejadas gerações de intérpretes, músicos, técnicos, produtores
etc, na tetralogia de "Os Sertões",
é aquele de 1993, quando se concluiu parte substancial do projeto
arquitetônico da italiana Lina Bo
Bardi (1914-92), conjugado por
Edson Elito.
Para lembrar a década, será
apresentado hoje um trecho de
"O Homem 2 - Da Revolta ao
Trans-Homem", espetáculo previsto para estrear até o final do
ano, desmembramento da segunda parte da obra-prima de Euclydes da Cunha (1866-1909).
Em verdade, somam-se outros
dez anos de demolição-reconstrução (1983-93), impulsionada
pela volta de Zé Celso do exílio,
em 1978 (ele rebatizaria o grupo
como Oficina Uzyna Uzona em
1981, nome que se fixa nos anos
90), e ainda pelo tombamento do
teatro pelo Condephaat, em 1982.
Esta noite, lua crescente, será de
rito, quer dizer, de festa, avisa Zé
Celso em texto-manifesto para o
evento. "Festejamos os dez anos
de epifania destes trabalhos subterrâneos", diz. "Rito de passagem para dez próximos anos de
paz, prosperidade, realização do
Teatro Urbano de Estádio."
O teatro-estádio é a extensão do
que Bardi desenhou para o misto
de palco e passarela que abraçaria
ainda a área externa, à moda da
Ágora grega também reforçada
por arquitetos como Marcelo Suzuki e Paulo Mendes da Rocha.
"O Oficina não é o portal da Catedral de Colônia do fim do século
18, mas é o marco importante de
um caminho difícil", já previa Bo
Bardi, citando a igreja gótica da
cidade alemã.
Os artistas envolvidos na montagem de "Os Sertões" conhecem
a fundo o significado prático e
simbólico da palavra "luta", também o título do terceiro capítulo
do livro, a ser encenado em 2004.
"O Teatro é o lugar nada messiânico da Utopia presente aqui
agora e da contradição; e "Os Sertões" nos une a todos como Mito
Brasileiro de Negação do Massacre e afirmação de uma virada histórica", afirma Zé Celso-Conselheiro. Ele chama todas as gerações do Oficina, dos anos 60 ao
Uzyna Uzona dos 90 ("Ham-Let",
"Bacantes", "Cacilda!", "Boca de
Ouro", peças gravadas em DVD,
cujos trechos serão exibidos).
Também haverá espaço para a
cena do batismo de Lírio, o bebê
da atriz Ana Guilhermina, que
quase nasceu no palco onde seu
cordão umbilical está semeado.
OS SERTÕES - O HOMEM 2 - DA
REVOLTA AO TRANS-HOMEM - ensaio
aberto da adaptação de parte de "Os
Sertões" pelo grupo Oficina e festa dos
dez anos de reabertura do teatro.
Direção: José Celso Martinez Corrêa.
Onde: teatro Oficina (r. Jaceguai, 520,
Bixiga, tel. 0/xx/11/3106-2818). Grátis.
OS SERTÕES - O HOMEM 1 - DO PRÉ-HOMEM À REVOLTA - Onde: teatro
Oficina. Quando: sáb. e dom., às 18h.
Quanto: R$ 20. Até 9/11.
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