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São Paulo, sexta-feira, 03 de outubro de 2003

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TEATRO

ANIVERSÁRIO

Teatro comemora 1º década de seu ciclo atual com festa e ensaio aberto da terceira parte de "Os Sertões"

Zé Celso celebra ritos de dez anos do Oficina

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Dos ciclos que seus artistas-arquitetos de carne e osso tornam memória há 45 anos, o grupo Oficina distingue mais um. Hoje, faz uma década que o teatro do Bixiga abriu os portões da rua Barão de Jaceguai, 520.
Melhor, reabriu. Porque a história do Oficina é de subsistência, feita de contradições e rupturas. O grupo começa com o aluguel daquele "teatro espírita" dos Novos Comediantes, por estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em 1958, inaugurado Oficina em 1961.
Um incêndio destruiu o teatro em 1966. Foi reerguido no ano seguinte, conforme concepção dos arquitetos Flávio Império (1935-85) e Rodrigo Lefèvre (1938-84).
A repressão do regime militar, que já havia censurado montagens do grupo em 1968, bateu mais forte em 1974, invadindo o teatro e demarcando o exílio de oito anos do ator e encenador José Celso Martinez Corrêa, 66.
O 3 de outubro colocado em evidência agora, pelas novíssimas ou calejadas gerações de intérpretes, músicos, técnicos, produtores etc, na tetralogia de "Os Sertões", é aquele de 1993, quando se concluiu parte substancial do projeto arquitetônico da italiana Lina Bo Bardi (1914-92), conjugado por Edson Elito.
Para lembrar a década, será apresentado hoje um trecho de "O Homem 2 - Da Revolta ao Trans-Homem", espetáculo previsto para estrear até o final do ano, desmembramento da segunda parte da obra-prima de Euclydes da Cunha (1866-1909).
Em verdade, somam-se outros dez anos de demolição-reconstrução (1983-93), impulsionada pela volta de Zé Celso do exílio, em 1978 (ele rebatizaria o grupo como Oficina Uzyna Uzona em 1981, nome que se fixa nos anos 90), e ainda pelo tombamento do teatro pelo Condephaat, em 1982.
Esta noite, lua crescente, será de rito, quer dizer, de festa, avisa Zé Celso em texto-manifesto para o evento. "Festejamos os dez anos de epifania destes trabalhos subterrâneos", diz. "Rito de passagem para dez próximos anos de paz, prosperidade, realização do Teatro Urbano de Estádio."
O teatro-estádio é a extensão do que Bardi desenhou para o misto de palco e passarela que abraçaria ainda a área externa, à moda da Ágora grega também reforçada por arquitetos como Marcelo Suzuki e Paulo Mendes da Rocha.
"O Oficina não é o portal da Catedral de Colônia do fim do século 18, mas é o marco importante de um caminho difícil", já previa Bo Bardi, citando a igreja gótica da cidade alemã.
Os artistas envolvidos na montagem de "Os Sertões" conhecem a fundo o significado prático e simbólico da palavra "luta", também o título do terceiro capítulo do livro, a ser encenado em 2004.
"O Teatro é o lugar nada messiânico da Utopia presente aqui agora e da contradição; e "Os Sertões" nos une a todos como Mito Brasileiro de Negação do Massacre e afirmação de uma virada histórica", afirma Zé Celso-Conselheiro. Ele chama todas as gerações do Oficina, dos anos 60 ao Uzyna Uzona dos 90 ("Ham-Let", "Bacantes", "Cacilda!", "Boca de Ouro", peças gravadas em DVD, cujos trechos serão exibidos).
Também haverá espaço para a cena do batismo de Lírio, o bebê da atriz Ana Guilhermina, que quase nasceu no palco onde seu cordão umbilical está semeado.


OS SERTÕES - O HOMEM 2 - DA REVOLTA AO TRANS-HOMEM - ensaio aberto da adaptação de parte de "Os Sertões" pelo grupo Oficina e festa dos dez anos de reabertura do teatro. Direção: José Celso Martinez Corrêa. Onde: teatro Oficina (r. Jaceguai, 520, Bixiga, tel. 0/xx/11/3106-2818). Grátis.

OS SERTÕES - O HOMEM 1 - DO PRÉ-HOMEM À REVOLTA - Onde: teatro
Oficina. Quando: sáb. e dom., às 18h. Quanto: R$ 20. Até 9/11.



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