São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LIVRO FASHION

Brasileiros comentam "O Diabo Veste Prada", que narra a difícil vida da assistente de uma poderosa editora

Best-seller põe tiranos da moda na frente do espelho

ALVARO LEME
DA REPORTAGEM LOCAL

Um milhão de pessoas daria a vida para escrever este texto.
É um argumento parecido -o de que todo mundo adoraria trabalhar para a diretora da maior revista americana de moda- que convence a jovem jornalista Andrea Sachs a aceitar ser assistente de Miranda Priestly, manda-chuva da "Runway Magazine".
Andrea e a revista existem somente nas páginas de "O Diabo Veste Prada", de Lauren Weisberger, que figura entre os mais vendidos dos Estados Unidos e acaba de chegar às livrarias brasileiras.
As semelhanças com a vida real explicam o sucesso: o primeiro emprego da autora foi como assistente de uma das mulheres mais poderosas do mundo da moda: Anna Wintour, diretora da "Vogue" americana.
Anna é personagem de histórias contadas nas rodinhas fashion de Nova York em tom de lenda urbana. Uma delas dá conta de que, quando ela entra no elevador da revista, os outros saem para não incomodar. Outra: uma funcionária da "Vogue", ao testemunhar um tombo da diretora, ficou em dúvida se devia ajudá-la. Não ajudou e, soube depois, fez o certo: estender a mão seria evidenciar um momento de fraqueza.
Miranda, a capeta elegante do título, submete seus funcionários a tarefas duras 24 horas por dia: comprar absorventes íntimos e enviar livros de Harry Potter para suas filhas na Europa via jatinho, por exemplo. É descrita como alguém que pode erguer ou derrubar uma carreira. "O que a Anna Wintour seleciona implica grandes compras e vendas toda estação", compara a editora de moda Gloria Kalil.
"Muita gente vem me dizer que faria de tudo para trabalhar com a Gloria Kalil", conta a jornalista Alexandra Farah que trabalha há quatro anos com a editora no site Chic. Alexandra devorou o livro assim que saiu nos Estados Unidos e conta que a relação com Gloria não lembra em nada a de Andrea e Miranda. Na história, a sofrida assistente tem de encomendar cada refeição da chefe. "Já a Glória é quem traz o próprio almoço", entrega.
O consultor Carlos Ferreirinha leu em 2003 e explica que gostou porque mostra "como o mundo da moda é feroz por trás das cortinas". Ele traça um paralelo entre o mercado brasileiro e o americano: lá é comum ser assistente por mais tempo. "Aqui há estilistas que se formam e já querem ir para a SP Fashion Week", diz.
Não é o caso, por exemplo, de Marcelo Sommer. Hoje estrela do primeiro time de estilistas brasileiros, seu primeiro emprego em moda foi como assistente de estilo numa camisaria. Sem nunca ter comido o pão que o diabo (vestido de Prada ou não) amassou. "Tinha que, no máximo, fazer umas pesquisas na [rua] 25 de Março, coisa que eu adorava", lembra. Sommer tem somente uma assistente, mas poderia ter muitos mais. A oferta de profissionais é enorme. "Ninguém nunca trabalhou de graça para mim, mas se eu quisesse acharia sem dificuldade", diz ele, que recebe até 40 currículos por mês.
Organizadora do Fashion Rio, semana de moda carioca, a jornalista Eloysa Simão passou os últimos 16 anos no mundo fashion e conta que neste período já viu, sim, assistentes como a do livro. "Conheci gente que arrumava o guarda-roupa e pagava contas pessoais do patrão. E até ia à casa dele no meio da madrugada para ouvir desabafos sentimentais", diz ela. Mas faz uma ressalva: "Não é só no mundo da moda que há quem se sujeite a qualquer coisa para ser bem-sucedido."


O DIABO VESTE PRADA. Autora: Lauren Weisberger. Editora: Record. Quanto: R$ 45 (400 págs.)

Texto Anterior: Fashion: Mistura de cores aponta para busca de individualidade
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.