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A HISTÓRIA DA ESTATAL
Negociatas pelo "ouro negro" fluem em ritmo noir
da Reportagem Local
Depois de 30
anos no subsolo
dos quiproquós
jurídicos da Petrobrás, o advogado Ilmar Penna Marinho Júnior, 59, se aposentou e emerge com uma ficção
sobre as politicagens e negociatas
do "nosso" ("deles") petróleo.
"Águas Profundas" começa, para
situar o leitor e servir de reflexão a
um dos personagens, com um resumo da "Mani Pulite", a famosa
operação "Mãos Limpas" realizada pelos promotores italianos para
combater a corrupção no país.
Daí por diante, conhecemos, em
ritmo de aventura noir, o submundo da estatal e as relações do seu alto escalão com parlamentares e
executivos nacionais e estrangeiros interessados no "ouro negro".
Na ficção, a Petrobrás chama-se
Enerbras. E o livro mostra, com
gente de carne e osso por trás das
ações, todo o processo político que
nasce na Constituição de 1988,
quando é derrubado o monopólio
de exploração de petróleo, até os
negócios futuros da estatal.
O livro é absolutamente minucioso. Do lobby movido a muito
sexo (garotas, como se sabe em
Brasília, são decisivas em concorrências públicas) ao funcionamento do mercado internacional dos
combustíveis. O autor domina a
cultura "business", o que transmite autenticidade nos diálogos.
Outra vantagem do livro é que
Marinho Jr. não teve vergonha de
tentar mesmo escrever um best-seller, com tudo a que tem direito,
sobre um mundo em que viveu.
Com mais apuração na técnica,
vai juntar-se, logo mais, a Ivan
Sant'Anna, autor de "Rapina" e
"Os Mercadores da Noite" (editora
Rocco), que faz sucesso ao romancear as falcatruas e labirintos do
mercado financeiro. Assim como
Sant'Anna, Marinho Jr. não escreve para ficar na galeria dos grandes
escritores brasileiros, como Graciliano Ramos, mas enriquece a pobre fileira nacional dos ficcionistas
de entretenimento.
Faz, de um tema aparentemente
chato, um livro que diverte. Tem
até receita de um "penne al Giardino del Paradiso". Livro sobre máfia sem macarrão não vale a pena,
mesmo na terra da feijoada.
O autor de "Águas Profundas"
poderia, no entanto, ser mais inventivo no subtítulo do livro: "O
Petróleo É Nosso?" pode apontar,
de imediato, para a leitura de um
panfleto nacionalista, o que não é o
objetivo do livro -dedicado apenas a contar uma história.
Por falar em grande história,
qualquer pretendente a escrever
ficção a partir de fatos reais tem
um novo modelo: "Dinheiro Queimado", do argentino Ricardo Piglia (Companhia das Letras).
O escritor transformou a banalidade policial de um assalto a banco, ocorrido em 1965 nos arredores
de Buenos Aires, em uma tragédia
que faz de "Cães de Aluguel" um
filme para crianças.
(XS)
˛
Livro: Águas Profundas
Autor: Ilmar Penna Marinho Jr.
Lançamento: Revan
Quanto: R$ 24 (224 págs.)
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