São Paulo, sábado, 3 de outubro de 1998

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O SEQUESTRO
"Senhor Empresário' rende mais com desconhecidos

da Reportagem Local

O autor de "O Sequestro do Senhor Empresário", Levi Bucalem Ferrari, com seus vários personagens narradores, diz que gosta de complicar a vida do leitor.
Por causa disso, tentou fugir do esquema best-seller, mesmo estando disposto a contar uma história popular, que junta ficção e realidade e carrega nas passagens de sexo, violência e corrupção.
Ferrari partiu do sequestro do empresário Abílio Diniz, ocorrido na véspera da eleição disputada entre Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva, para mostrar outras vidas paralelas: a de pessoas tipicamente comuns, longe da política e bem perto da sacanagem glamourizada de Nelson Rodrigues.
O autor tem bons momentos quando constrói personagens exóticos, mas nem por isso mesmo irreais, como é o caso de Zé da Coca ou Dorisdete, uma menina de programa desdentada e a serviço da brutalidade de garimpeiros.
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"Arranca logo os dentes dela, madame, depois põe a menina pra chupar; os homens preferem, dá mais confiança."
Este conselho de Zé da Coca, por exemplo, revela falas cruas e bem acertadas.
No trato com os personagens supostamente reais, os anônimos que representam no livro Abílio Diniz, Collor, o tesoureiro de campanha eleitoral PC Farias, entre outros, falta carne e alma.
Não mantém a mesma pegada, não vai no baço, como diria o boxeador.
Nesse ponto, mesmos as pobres narrativas dos textos hoje guardados nos arquivos dos jornais parecem mais emocionantes.
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Feijão com arroz
O autor rende mais e melhor quanto mais parte para a simplicidade na narrativa.
Quando inventa muito, e sai do feijão com arroz, aborrece o leitor. Complica-se ao mostrar o desnecessário recurso da prosa poética. Proposital, segundo ele.
Nesse capítulo, tem um momento infeliz em que faz uma fila enorme de aliterações desnecessárias.
Fora da simplicidade narrativa, com sangue, sexo e muita safadeza política, um recurso que tem um bom efeito é a mudança brusca da voz do narrador da terceira para a primeira pessoa.
A trepidação no texto funciona muito bem. Como neste período:
"Uma gorduchinha se anima no momento em que é observada por três homens, apenas um segundo antes que um deles faça uma expressão de que não está contente, que saco!"
O recurso é usado sem aspas ou qualquer sinal gráfico, o que resulta em uma boa sacudida no leitor desavisado. (XS) ˛

Livro: O Sequestro do Senhor Empresário
Autor: Levi Bucalem Ferrari
Lançamento: Publisher
Quanto: R$ 16 (156 págs.)




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