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O SEQUESTRO
"Senhor Empresário' rende mais com desconhecidos
da Reportagem Local
O autor de "O Sequestro do Senhor Empresário", Levi Bucalem
Ferrari, com seus vários personagens narradores, diz que gosta de
complicar a vida do leitor.
Por causa disso, tentou fugir do
esquema best-seller, mesmo estando disposto a contar uma história
popular, que junta ficção e realidade e carrega nas passagens de sexo,
violência e corrupção.
Ferrari partiu do sequestro do
empresário Abílio Diniz, ocorrido
na véspera da eleição disputada
entre Fernando Collor de Mello e
Luiz Inácio Lula da Silva, para
mostrar outras vidas paralelas: a
de pessoas tipicamente comuns,
longe da política e bem perto da sacanagem glamourizada de Nelson
Rodrigues.
O autor tem bons momentos
quando constrói personagens exóticos, mas nem por isso mesmo irreais, como é o caso de Zé da Coca
ou Dorisdete, uma menina de programa desdentada e a serviço da
brutalidade de garimpeiros.
˛
"Arranca logo os dentes dela,
madame, depois põe a menina pra
chupar; os homens preferem, dá
mais confiança."
Este conselho de Zé da Coca, por
exemplo, revela falas cruas e bem
acertadas.
No trato com os personagens supostamente reais, os anônimos
que representam no livro Abílio
Diniz, Collor, o tesoureiro de campanha eleitoral PC Farias, entre
outros, falta carne e alma.
Não mantém a mesma pegada,
não vai no baço, como diria o boxeador.
Nesse ponto, mesmos as pobres
narrativas dos textos hoje guardados nos arquivos dos jornais parecem mais emocionantes.
˛
Feijão com arroz
O autor rende mais e melhor
quanto mais parte para a simplicidade na narrativa.
Quando inventa muito, e sai do
feijão com arroz, aborrece o leitor.
Complica-se ao mostrar o desnecessário recurso da prosa poética.
Proposital, segundo ele.
Nesse capítulo, tem um momento infeliz em que faz uma fila enorme de aliterações desnecessárias.
Fora da simplicidade narrativa,
com sangue, sexo e muita safadeza
política, um recurso que tem um
bom efeito é a mudança brusca da
voz do narrador da terceira para a
primeira pessoa.
A trepidação no texto funciona
muito bem. Como neste período:
"Uma gorduchinha se anima no
momento em que é observada por
três homens, apenas um segundo
antes que um deles faça uma expressão de que não está contente,
que saco!"
O recurso é usado sem aspas ou
qualquer sinal gráfico, o que resulta em uma boa sacudida no leitor
desavisado.
(XS)
˛
Livro: O Sequestro do Senhor Empresário
Autor: Levi Bucalem Ferrari
Lançamento: Publisher
Quanto: R$ 16 (156 págs.)
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