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POLICIAL ESTRANGEIRO
"O Dia em Que o Rabino Foi Embora' se perde em excesso de detalhes
RODOLFO LUCENA
Editor de Informática
Quem procura
emoção, ação vibrante e tensões
crescentes em
um livro de mistério deve ficar
longe de "O Dia
em Que o Rabino Foi Embora". O livro de Harry
Kemelman, quarto estrelado pelo
rabino David Small que a Companhia das Letras lança, é bem chatinho. Mas não deixa de ter seu valor.
Esse volume é o último da série,
que começou com muito sucesso
em 1964. O primeiro título, "Sexta-Feira o Rabino Acordou Tarde",
deu a Kemelman o prestigioso Prêmio Edgar, da associação de escritores Mistery Writers of America.
A receita da série combina a vidinha pacata de uma cidadezinha no
subúrbio da sofisticada Boston
(nordeste dos EUA) com uma boa
pitada de discussão religiosa e proselitismo judaico. A morte misteriosa do turno é esclarecida pela
percepção da condição humana
que o rabino desenvolveu ao longo
dos anos, muitas vezes com a ajuda
do sexto sentido de sua dedicada
mulher.
Agora, as linhas gerais parecem
que vão começar a mudar. Depois
de 25 anos de rabinato em Barnard's Crossing, Small está se aposentando da função, saindo do subúrbio e montando casa em Boston, mais próximo a seu novo emprego -professor no Windermere
College.
A comunidade precisa escolher
um novo rabino. O escolhido é
bem mais jovem e adepto do jogging -usa as manhãs, antes do
culto, para correr pelas ruas em
shorts ou abrigo esportivo, o que
não é exatamente a vestimenta que
a comunidade considera adequada
para seu rabino.
Para complicar as coisas, a mulher do novato não só não professa
a mesma fé, mas também trabalha
fora. E para complicar mais ainda a
situação, um professor da universidade, colega de Small, é encontrado morto no jardim da casa do
novo rabino.
Mas tudo isso acontece aos poucos, beeeem aos poucos.
Nos primeiros capítulos, as discussões mais emocionantes, que
envolvem diversos grupos de personagens, são sobre os meios de
transporte que o rabino deve usar
para se deslocar de Barnard's
Crossing a Boston.
Um exemplo é o seguinte diálogo, em que um colega pergunta a
Small: "O senhor vai continuar
morando em Barnard's Crossing?
Eu o vi saindo do metrô, então
imagino que o senhor hoje veio de
trem ou de ônibus. São esses os
seus planos? Utilizar transporte
público todos os dias?".
Ao que o rabino detalhisticamente responde: "Não, estava pensando em vir de carro a maioria
das vezes; mas hoje decidi tomar o
trem para evitar o trânsito da hora
do rush. Nos outros dias não vou
chegar tão cedo; minha aula só começa às onze".
E por aí vai. Só não é tão chato
porque o leitor acaba entrando
num espírito meio condescendente, pensando: "Ê, vidinha murrinha". E vai acompanhando a história que, afinal de contas, é bem escrita.
O melhor, nessa parte, são as discussões religiosas. Chefe do recém-criado Departamento de Estudos Judaicos do Windermere
College, ele entabula com seus alunos -e uma colega-aluna- conversações sobre práticas religiosas
e modos de ver a culpa e o prazer,
entre outros temas palpitantes,
que incluem também os problemas do casamento inter-religiões.
O morto, mesmo, só aparece no
capítulo 25 (são 42 no total). Ele é
encontrado por acaso, porque um
policial precisou parar sua ronda
motorizada para urinar. E o policial teve de urinar porque vinha tomando remédio contra a pressão
alta -tudo é explicado em detalhes, durante as profundas conversações entre esses personagens secundários.
Já que há mistério, é a vez do rabino brilhar. Os elementos vão
aparecendo, os indícios são desvendados. Cabe a Small juntar as
peças e resolver o quebra-cabeça.
Como era esperado desde o início.
Completando a diversão, um
glossário traz explicações de alguns termos judaicos usados ao
longo da história. Interessante.
˛
Livro: O Dia em Que o Rabino Foi Embora
Autor: Harry Kemelman
Lançamento: Cia das Letras
Quanto: R$ 19,50 (272 págs.)
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