São Paulo, sábado, 3 de outubro de 1998

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DANÇA
Partido francês acusa evento de estimular imigração clandestina por exibir grupos de países africanos e árabes
Bienal de Lyon sofre pressão política

Company (Israel), um dos destaques da Bienal da Dança de Lyon ANA FRANCISCA PONZIO
enviada especial a Lyon

As reações políticas à última Bienal da Dança de Lyon, que se encerrou na França na última quarta-feira, servem de termômetro para a animosidade social que está se disseminando na Europa.
Ao completar 16 anos de existência, a Bienal, dirigida por Guy Darmet, enfrenta atualmente a intolerância do Front National, partido francês de direita, que considerou perniciosa a programação de 1998.
Depois de exibir a dança de países como França, Alemanha e Estados Unidos em suas primeiras edições, a Bienal vem apresentando, desde 1994, as manifestações derivadas da mestiçagem cultural, geradas em regiões da África, América Latina e do mundo árabe.
Neste ano, sob o título "Mediterrânea", procurou revelar a produção proveniente de países como Itália, Espanha, Turquia, Grécia, Tunísia, Egito e Israel.
Para representar a Argélia, onde os conflitos civis provocaram o encerramento das atividades profissionais de dança, a Bienal convidou os artistas argelinos que vivem na França.
Foi o suficiente para o Front National ostentar oposição. "A Bienal está sendo acusada de estimular a imigração clandestina na França", disse Darmet à Folha, assegurando que manterá o evento aberto à livre manifestação.
Apesar das oposições políticas, a Bienal de Lyon de 1998 comemorou mais um sucesso. Sempre com teatros lotados, teve como ponto forte a dança de Israel, que vem conquistando projeção internacional.
Em torno da principal companhia israelense, a Batsheva Dance Company, que se apresentou no Brasil no Carlton Dance Festival de 1995, multiplicam-se hoje grupos de grande vitalidade, como os dirigidos por Barak Marshall, Inbal Pinto, Liat Dror e Nir Ben Gal.
Entre esses, Barak Marshall tem despertado especial interesse com sua linguagem contemporânea, fortemente vinculada às tradições do universo hebreu.
Mas o criador mais brilhante da dança israelense ainda é Ohad Naharin, diretor da Batsheva Dance Company. Um dos coreógrafos mais importantes da atualidade, Naharin já incluiu uma de suas obras, "Axioma 7", no repertório do Balé da Cidade de São Paulo.
"Anaphase", espetáculo de Naharin que o elenco da Batsheva apresentou em Lyon, mereceria ser trazido ao Brasil.
Dentro de um universo sem fronteiras, em que a dança se cruza com o teatro, a ópera, o cinema e o show de rock, "Anaphase" celebra as ilusões da beleza, do poder e do amor, ao som de uma trilha sonora que inclui sons de cuíca e ritmo de samba.



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