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ARTES PLÁSTICAS
Van Gogh
domina
Washington
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington
Começa amanhã uma exposição
de 70 quadros de Van Gogh que,
provavelmente, será o maior sucesso, em termos de número de espectadores, da história das mostras de artes plásticas na capital
dos EUA.
"Van Gogh's Van Goghs" (Os
Van Gogh de Van Gogh) é uma
mera transferência de parte do
acervo permanente do Museu Van
Gogh, de Amsterdã, que está fechado para reformas desde o início
do mês passado até maio de 1999.
Em menos de duas semanas, 216
mil passes com data marcada para
a exposição na Galeria Nacional de
Arte foram requisitados (a galeria,
que faz parte da Instituição Smithsonian, não cobra ingressos porque a fundação foi criada sob a
condição de que as suas atividades
sempre fossem gratuitas).
Outros 378 mil passes serão distribuídos até 3 de janeiro. É muito
provável que não sobre nenhum, o
que garantirá uma audiência diária média de mais de 6 mil pessoas,
bem superior à das 4.679 que viram a retrospectiva de Vermeer
em 1995-1996.
Só que a exposição desse outro
artista holandês, que viveu 300
anos antes de Van Gogh, era muito
mais importante do que a mostra
que começa amanhã. Johannes
Vermeer (1632-1675) pintou muito
pouco, ao contrário de Van Gogh
(1853-1890). Enquanto só se conhecem 35 pinturas de Vermeer, as
de Van Gogh são 879.
A mostra de Vermeer reuniu dois
terços da produção total do pintor,
enquanto a de Van Gogh representa apenas 8%.
Mas não é a quantidade dos trabalhos de cada um que fez da retrospectiva de Vermeer uma mostra merecedora de mais crédito do
que a de Van Gogh que se inicia.
É que a de Vermeer representou,
de fato, um esforço de juntar obras
que nunca haviam sido vistas num
mesmo local -elas vieram da Irlanda, Escócia, Alemanha, França,
Holanda, Inglaterra, muitas das
quais jamais haviam deixado a Europa, e dos EUA; oito trabalhos foram restaurados para serem vistos
em Washington.
A de Van Gogh, não. Há 25 anos
que os quadros que a compõem
são exibidos no mesmo museu, em
Amsterdã, ao lado de outros 130, e
para lá voltarão no ano que vem.
Não que isso tire o mérito de cada trabalho em si. Nem que torne
menos atraente para o norte-americano que não possa viajar à Holanda a oportunidade de conhecer
um grupo de obras importantes
das artes do século 19. "Os Comedores de Batata", "O Quarto de
Dormir" e "O Campo de Trigo com
Corvos" são realmente pontos de
referência na vida artística desse
pintor.
O problema é que essa exposição
está sendo apresentada como se
fosse um marco na história da arte.
"Maior mostra da carreira de Van
Gogh fora da Holanda em 25 anos"
diz o cabeçalho do press release da
galeria, que é tão boa de marketing
que a notícia da exibição foi manchete do jornal "Washington
Post", quando surgiu, em maio.
Tanto exagero é sintoma e consequência do fenômeno da massificação das galerias de arte nos EUA,
que é um processo, ao mesmo tempo, admirável e aterrador.
É bom que mais e mais pessoas se
interessem e tenham acesso à arte.
Mas também dá medo que as exibições fiquem reduzidas aos nomes mais conhecidos, como o de
Van Gogh.
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