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INTÉRPRETES X ALTO-FALANTES
Eletroacústica refaz o som
free lance para a Folha
Aparentemente "futurística",
como a trilha sonora de um filme de ficção científica em que
alto-falantes tomam o lugar de
músicos franzinos e indefesos,
a história da música eletroacústica, apesar da sofisticação
do nome, está ligada às experiências mais básicas da percepção e criação musical.
Em 1935, foi exposto em Berlim o primeiro gravador de fita
magnética. Para a música erudita, essa máquina era um meio
capaz de transformar todas as
coisas em instrumentos em potencial.
Experiências com instrumentos alternativos já haviam
sido feitas anteriormente pelo
compositor francês Olivier
Messieaen, que escreveu peças
para serem executadas por um
aparelho elétrico usado pelos
telégrafos, o Ondas Martenot.
Tratam-se de obras já bastante abstratas, em que transparece uma certa artificialidade. O
Ondas Martenot era tocado à
distância, sensível à proximidade e ao calor das mãos do
instrumentistas e capaz de
criar sons incomuns a partir de
oscilações sutis.
Em 1948, o francês Pierre
Scheaffer iniciou pesquisas
musicais com sons concretos,
naturais, como o da água, do
atrito entre objetos, da voz humana ou de latidos de cachorros. Na mesma época, em Colônia, Alemanha, acontecia um
esforço contrário para a criação de uma música feita totalmente a partir de sons eletrônicos que pudessem manipular e
sintetizar ondas sonoras.
Ou seja, mais do que uma
busca pelo "extraterrestre", a
música eletroacústica -fusão
da música concreta e eletrônica- se voltava para as propriedades materiais, para a essência física de sua linguagem.
Para o ouvinte, isso implica
um conceito diferenciado do
que seja ouvir música. Um
exemplo é a "partitura auditiva", feita para o público e não
mais para o intérprete (veja reprodução nesta página).
Ela traduz algo que é experimental do ponto de vista de
quem houve. Sem os seus referenciais mais básicos do que
conhecia como música clássica
-a melodia, o instrumentista,
o regente ou mesmo as imperfeições da performance ao vivo-, o ouvinte está diante de
uma arte que transgride seus
conceitos de tempo, ritmo, harmonia, pausa.
O som da voz humana e das
palavras, por exemplo, um dos
principais assuntos do compositor Luciano Berio (que terá a
obra "Chants Paralléles" apresentada na Bienal) passa a ser
ouvido como se estivesse sendo
pronunciado pela primeira vez
e de uma maneira que relativisa
seu significado.
Por outro lado toda a tecnologia não esconde as virtudes e
limitações do compositor. Sua
concepção musical e sua capacidade de efetivá-las estão expostas do modo mais explícito.
E, mais do que o arrebatamento diante do novo, o espectador poderá encontrar um
meio de apreciar uma música
pouco marcada por padrões já
definidos, pela crítica ou virtuosismo do intérprete.
(RVMR)
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