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"Acho triste a explosão do tecno'
free lance para a Folha
O compositor Flo Menezes, 36,
organizador da Bimesp e diretor
do Studio PANaroma, falou à Folha sobre o conservadorismo do
meio musical brasileiro e a má
aceitação da música contemporânea pelos intérpretes nacionais.
Menezes morou seis anos em
Colônia, Alemanha, onde complementou sua formação como compositor. Lançou em 1996 o livro
"Música Eletroacústica - História
e Estéticas" (Edusp). Suas "Sinfonias" para grupo de 8 alto-falantes
estréiam no último dia da Bimesp.
(RVMR)
Folha - Como compositor brasileiro, você se sente herdeiro de Villa-Lobos?
Flo Menezes - Não. A música que
faço está mais relacionada à de
Schoenberg, Stravinsky, Luciano
Berio e Stockhausen do que com a
dele.
Folha - O Brasil é um país conservador em termos musicais?
Menezes - Sim, basta ver o espaço que a geração nacionalista teve
por aqui. Isso atrasou a música
brasileira em pelo menos 50 anos.
Penso que existe um problema
quando um compositor tenta forjar um estilo a qualquer custo. Um
bom compositor consegue fazer
brotar um estilo dentro da diversidade. Com a ilusão de que se está
sendo leal às nossas raízes, o nacionalismo se trai quando, por exemplo, não percebe que, no caso da
música popular brasileira, as raízes rítmicas vieram principalmente da África. As influências vêm
sempre de muitos lugares. O mundo é misto, miscigenado, ao contrário do querem os "puristas" e
racistas.
Folha - Ao aderir à música eletroacústica, o compositor brasileiro não está simplesmente importando uma vanguarda européia?
Menezes - Por que você pode importar melodias folclóricas da Península Ibérica, por exemplo, e
não pode importar da Alemanha e
da França o serialismo ou a música
eletrônica? É a velha questão da
antropofagia. Nós devemos deglutir tudo! Ninguém precisa manter
e querer que a nossa música tenha
uma "cor nacional".
Folha - Qual é o impacto da música eletroacústica no público?
Menezes - Há um mito de que
existe um público único na história da música e que ele se perdeu
com a música contemporânea.
Sempre existiram vários públicos.
Esse público no singular é uma
abstração criada pela indústria
cultural, pela era mercadológica da
música do nosso século. Agora, se
considerarmos as pessoas que têm
ido a eventos de música de vanguarda, o impacto é extremamente
positivo e permanente.
Folha - Como você vê a explosão
da música tecno nas grandes cidades, levando em conta que ela é
produzida e difundida por meios
muito semelhantes aos da música
eletroacústica?
Menezes - Acho triste. Desde o
início da música eletroacústica,
sempre esteve claro que a principal
conquista dessa estética estaria sobretudo na revolução que os meios
tecnológicos permitiriam à idéia
musical. A tecnologia por si só não
garante nada em termos de qualidade.
Ela não permite superar um
eventual desnível técnico entre o
intérprete de música erudita brasileiro e o europeu?
Menezes - O desnível não é necessariamente técnico e, se existe,
está mais ligado à dificuldade de
reconhecer uma limitação em relação a um novo repertório.
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