São Paulo, Quarta-feira, 03 de Novembro de 1999
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Músico começou com trilhas para a TV

especial para a Folha

Dori, 56, compositor, arranjador, instrumentista e cantor, nasceu Dorival Tostes Caymmi, no Rio de Janeiro.
Começou aos 8 anos, estudando piano com Lúcia Branco, professora conceituada do Leblon, que ensinou, entre muitos, Arthur Moreira Lima, Nelson Freire, Jacques Klein (1930-1982) e Tom Jobim (1927-1994). Sua técnica teve um início de aperfeiçoamento com Paulo Silva que, segundo Dori, já o qualificava como um grande rebelde.
"Ele era um professor muito rígido e me encaminhou para seu assistente, o Moacir Santos, que foi mais generoso, compreendendo melhor meus 15 anos, e acabou, além da música, por me ensinar as coisas da vida", diz Dori.
Quando estava por completar 17 anos, já trabalhava para o Grupo dos Sete, na TV Tupi, fazendo trilha para peças apresentadas ao vivo na TV.
A primeira foi "Terras do Sem-Fim", de Jorge Amado: "Todas as músicas eram de papai com o Jorge. Eu ensinava os atores a cantar: "Vida de nêgo é difícil, é difícil", a música tema".
Os atores eram Fernanda Montenegro, Mário Lago, Sérgio Brito, Ítalo Rossi, Aldo de Maio, Fernando Torres, Labanca... "Lembro de ter visto atores que estavam começando, como o Francisco Cuoco", diz o compositor, que foi diretor musical da peça "Opinião", em 64, e da montagem carioca de "Arena Conta Zumbi", em 66.
"Considero o "Arena Conta Zumbi" o melhor musical do Brasil. Trabalhei em vários musicais mas, no Brasil, só existe esse para mim", afirma.
Entre 64 e 66, produziu discos de Edu Lobo, Eumir Deodato e Nara Leão. Nesta época, o músico já havia se aperfeiçoado -escreveu arranjos com o próprio Eumir Deodato, além de ter sido o copista de Luís Eça (1936-1992)- e acabou sendo chamado para fazer os arranjos musicas do primeiro disco de Caetano Veloso e Gal Costa, "Domingo", antes de "Procissão", de Gilberto Gil.

Festivais
Em 66, Dori foi classificado em segundo lugar no 1º FIC com a canção "Saveiros", defendida por Nana Caymmi. Em 67, com "Cantiga", interpretada pelo MPB-4, ganhou o nono lugar do 2º FIC e, com a música "O Cantador", defendida por Elis Regina, ficou entre os dez primeiros no 3º FMPB, da TV Record. "O Cantador" foi gravada por Sérgio Mendes e Carmen Mc Rae.
"Não conheci a Carmen nessa época, só mais tarde é que ficamos amigos. Ela era uma pessoa triste por ter sido muito agredida pelo racismo e pela segregação musical", conta Dori. "Gravadoras grandes são feitas por pessoas que querem vender um produto. A idéia é o faturamento, que faz com que os produtores façam carreira e virem presidentes, como o cara da Sony, dos Estados Unidos, que parece o rei do mundo. Ele fez a Mariah Carey, da noite para o dia, com uma propaganda maciça. Só que nos Estados Unidos existe um milhão de pessoas que cantam como ela. Na África, todo mundo dança e, nos Estados Unidos, todo mundo canta. A Carmen era muito triste com isso tudo", afirma o cantor.

Trilhas
Dori compôs sua primeira trilha sonora para cinema no filme "Tati, a Garota", estréia de Bruno Barreto, em 73. Antes disso, no entanto, o músico havia sido levado ao estúdio, por intermédio de Tom Jobim, para colaborar na trilha de "Casa Assassinada", de Paulo César Sarraceni, em 71.
Em 74, Tom Jobim, mais uma vez, convida Dori para realizar a trilha de "O Duelo", de Paulo Tiago, pois não havia gostado do que assistira. "O Tom viu o filme e pulou fora. Ele saiu um pouco chateado com essa versão cinematográfica de "Sagarana", e me passou a bola", diz Caymmi.
O músico ainda participou de "A Estrela Sobe" e de "Dona Flor e Seus Dois Maridos", ambos de Bruno Barreto. "Em "Dona Flor", minha participação não foi notada porque o que vale para o filme é a música do Chico, "O Que Será ". Acho essa música linda, só que o arranjo não combina com o filme e nem com a Bahia. Mas, como a intenção era vender o disco, fiquei quieto", diz o compositor.
Dori esteve em 97 no Brasil para compor a trilha de "Bella Donna", de Fábio Barreto. Seu último trabalho para o cinema foi para o filme de Ana Maria Magalhães, "Lara". Na TV, em 75, fez a trilha sonora de "Gabriela", entre inúmeras outras. (CBJ)


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