|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Músico começou com trilhas para a TV
especial para a Folha
Dori, 56, compositor, arranjador, instrumentista e cantor, nasceu Dorival Tostes Caymmi, no
Rio de Janeiro.
Começou aos 8 anos, estudando
piano com Lúcia Branco, professora conceituada do Leblon, que
ensinou, entre muitos, Arthur
Moreira Lima, Nelson Freire, Jacques Klein (1930-1982) e Tom Jobim (1927-1994). Sua técnica teve
um início de aperfeiçoamento
com Paulo Silva que, segundo
Dori, já o qualificava como um
grande rebelde.
"Ele era um professor muito rígido e me encaminhou para seu
assistente, o Moacir Santos, que
foi mais generoso, compreendendo melhor meus 15 anos, e acabou, além da música, por me ensinar as coisas da vida", diz Dori.
Quando estava por completar
17 anos, já trabalhava para o Grupo dos Sete, na TV Tupi, fazendo
trilha para peças apresentadas ao
vivo na TV.
A primeira foi "Terras do Sem-Fim", de Jorge Amado: "Todas as
músicas eram de papai com o Jorge. Eu ensinava os atores a cantar:
"Vida de nêgo é difícil, é difícil", a
música tema".
Os atores eram Fernanda Montenegro, Mário Lago, Sérgio Brito,
Ítalo Rossi, Aldo de Maio, Fernando Torres, Labanca... "Lembro de ter visto atores que estavam começando, como o Francisco Cuoco", diz o compositor, que
foi diretor musical da peça "Opinião", em 64, e da montagem carioca de "Arena Conta Zumbi",
em 66.
"Considero o "Arena Conta
Zumbi" o melhor musical do Brasil. Trabalhei em vários musicais
mas, no Brasil, só existe esse para
mim", afirma.
Entre 64 e 66, produziu discos
de Edu Lobo, Eumir Deodato e
Nara Leão. Nesta época, o músico
já havia se aperfeiçoado -escreveu arranjos com o próprio Eumir Deodato, além de ter sido o
copista de Luís Eça (1936-1992)-
e acabou sendo chamado para fazer os arranjos musicas do primeiro disco de Caetano Veloso e
Gal Costa, "Domingo", antes de
"Procissão", de Gilberto Gil.
Festivais
Em 66, Dori foi classificado em
segundo lugar no 1º FIC com a
canção "Saveiros", defendida por
Nana Caymmi. Em 67, com "Cantiga", interpretada pelo MPB-4,
ganhou o nono lugar do 2º FIC e,
com a música "O Cantador", defendida por Elis Regina, ficou entre os dez primeiros no 3º FMPB,
da TV Record. "O Cantador" foi
gravada por Sérgio Mendes e Carmen Mc Rae.
"Não conheci a Carmen nessa
época, só mais tarde é que ficamos amigos. Ela era uma pessoa
triste por ter sido muito agredida
pelo racismo e pela segregação
musical", conta Dori. "Gravadoras grandes são feitas por pessoas
que querem vender um produto.
A idéia é o faturamento, que faz
com que os produtores façam
carreira e virem presidentes, como o cara da Sony, dos Estados
Unidos, que parece o rei do mundo. Ele fez a Mariah Carey, da noite para o dia, com uma propaganda maciça. Só que nos Estados
Unidos existe um milhão de pessoas que cantam como ela. Na
África, todo mundo dança e, nos
Estados Unidos, todo mundo
canta. A Carmen era muito triste
com isso tudo", afirma o cantor.
Trilhas
Dori compôs sua primeira trilha
sonora para cinema no filme "Tati, a Garota", estréia de Bruno
Barreto, em 73. Antes disso, no
entanto, o músico havia sido levado ao estúdio, por intermédio de
Tom Jobim, para colaborar na trilha de "Casa Assassinada", de
Paulo César Sarraceni, em 71.
Em 74, Tom Jobim, mais uma
vez, convida Dori para realizar a
trilha de "O Duelo", de Paulo Tiago, pois não havia gostado do que
assistira. "O Tom viu o filme e pulou fora. Ele saiu um pouco chateado com essa versão cinematográfica de "Sagarana", e me passou
a bola", diz Caymmi.
O músico ainda participou de
"A Estrela Sobe" e de "Dona Flor e
Seus Dois Maridos", ambos de
Bruno Barreto. "Em "Dona Flor",
minha participação não foi notada porque o que vale para o filme
é a música do Chico, "O Que Será ".
Acho essa música linda, só que o
arranjo não combina com o filme
e nem com a Bahia. Mas, como a
intenção era vender o disco, fiquei
quieto", diz o compositor.
Dori esteve em 97 no Brasil para
compor a trilha de "Bella Donna",
de Fábio Barreto. Seu último trabalho para o cinema foi para o filme de Ana Maria Magalhães, "Lara". Na TV, em 75, fez a trilha sonora de "Gabriela", entre inúmeras outras.
(CBJ)
Texto Anterior: Show: Dori traz sua "música para pensar" a SP Próximo Texto: "Não fui afetado pela Tropicália" Índice
|