São Paulo, Quarta-feira, 03 de Novembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SHOW
Morando em Los Angeles há nove anos, Dori Caymmi vem ao Brasil para lançar seu novo disco
Dori traz sua "música para pensar" a SP

Divulgação
O músico Dori Caymmi, que apresenta em São Paulo músicas do CD "Cinema: a Romantic Vision"


CARLOS BOZZO JUNIOR
especial para a Folha

Seu pai, Dorival Caymmi, deve tê-lo alimentado com sopa de acordes, em vez do costumeiro macarrão de letrinhas que é dado às crianças em fase de desenvolvimento.
Quem duvida que corra ao Supremo Musical, de hoje à sexta-feira, para conferir o que Dori Caymmi é capaz de fazer com as tradicionais harmonias dos temas musicais de filmes como "A Pantera Cor-de-Rosa", "A Noviça Rebelde", "Space Jam", "James Bond", "Cinema Paradiso", "Amor Sublime Amor" e outros clássicos.
O músico, que mora há nove anos em Los Angeles, está no Brasil para lançar seu décimo CD, "Cinema: a Romantic Vision", em que homenageia grandes compositores e arranjadores do cinema.
Em 89, Dori recebeu um convite da gravadora Qwest, que pertence ao maestro Quincy Jones, para gravar um disco. "O convite foi o primeiro motivo para minha mudança para os Estados Unidos. Mas eu já estava extremamente aborrecido com o fato de, já naquela época, não ter condições de gravar aqui. O mercado aqui é para a música de massa. Eu faço música para pensar. E a massa não quer pensar", diz Dori.
Leia, a seguir, trechos da entrevista que o músico concedeu à Folha.

Folha - Você não estaria trilhando o mesmo caminho percorrido por Laurindo de Almeida (1917-1995) que, apesar de ter sido reconhecido no exterior por sua obra, no Brasil poucos sabem quem foi?
Dori Caymmi -
A gente trilha o que está escrito para trilharmos. As coisas em minha vida acontecem sempre de surpresa. Eu me considero um herói de poucos. São poucas as pessoas que gostam de acordes. Não sei fazer pagode ou axé, porque isso é uma deformação do miolo da música que mostrou a Bahia para o mundo.

Folha - Como é seu relacionamento com Quincy Jones?
Caymmi -
Ele é muito delicado e gentil. Às vezes ele me liga em casa para conversarmos, mas é raro.

Folha - Há repercussão da música instrumental brasileira nos Estados Unidos?
Caymmi -
Raramente eles tocam. O jazz já está morto. Eles acabaram com o jazz, então, não vão tocar instrumental brasileiro.

Folha - Qual é a maior vantagem, em termos musicais, de estar morando em Los Angeles?
Caymmi -
São muitas. Se eu estivesse aqui, estaria apagado pela angústia. A saudade é minha melhor fonte. Dela produzo minha música.

Folha - Em que você se sente mais à vontade: arranjando, produzindo, compondo ou interpretando?
Caymmi -
Só não me sinto à vontade com gente sem talento. Não gosto de me envolver com gente assim, porque me sinto limitado a um gosto que não me permite criar. Eu não tenho saco para harmonias convencionais.

Folha - Qual é o conceito desse seu último CD?
Caymmi -
O conceito sou eu. Queriam música de cinema, fui lá e fiz. Comecei cantando "The Shadow of Your Smile", depois "Pink Panther", e, aí, uma puxou a outra. Foi uma produção rápida, de uma semana e pouco. É um disco para músicos, assim como minha música, que é para pessoas mais sensíveis.

Folha - Como foi a receptividade do disco, quando lançado nos Estados Unidos?
Caymmi -
Não tem negócio de lançamento lá, não. Isso só existe para os caras muito quentes. Alguns músicos me telefonaram logo depois que ouviram o trabalho. Mas, lá, lançamento de disco é subir no vigésimo andar de um prédio e jogar o CD lá de cima. Quem pegar pegou. Agora a distribuição é ótima. Você encontra o CD em qualquer grande loja.

Folha - Como você escolhe os músicos?
Caymmi -
Depende do arranjo. Tem um, que está em outro disco, que costumo dizer que fiz com Freud, para a música "Aquarela do Brasil", porque você fica olhando para o Brasil, e canta aquela música com uma tristeza indescritível... Vi uma "Aquarela do Brasil" escura, com aquela coisa do sambista que toca surdo na hora do enterro. Minha primeira visão foi o Herbie Hancock tocando esse arranjo. Aí, o Quincy o conseguiu para mim.

Folha - Como será o show? Quem toca com você?
Caymmi -
Confirmados, só o Teco Cardoso e eu. O Michel Shapiro, baterista, que tocou no disco, e o John Left Witch vão dar uma canja. Vou tocar o repertório do disco e atender pedidos.

Folha - Como será o próximo CD?
Caymmi -
Será o "Contemporâneo", um disco em que cantarei uma música de cada amigo meu de minha geração. Vai ter Gil, Caetano, Edu Lobo, Milton Nascimento, Toninho Horta, Ivan Lins, Djavan e Chico Buarque. Ficamos longe uns dos outros, mas nos admiramos. No fundo, é uma competição em que muitos me dizem: "Eu sou rico. E você, tem o quê?". Aí, eu digo: "Eu tenho os meus acordes".


Disco: Cinema: a Romantic Vision Artista: Dori Caymmi Lançamento: Atração Quanto: R$ 18, em média

Show: Dori Caymmi Quando: hoje, amanhã e sexta, às 21h Onde: Supremo Musical (r. Oscar Freire, 1.000, Jardins, São Paulo, tel. 0/xx/11/ 852-0950) Quanto: R$ 40


Texto Anterior: Televisão: Canal São Paulo promove festival Astaire e Rogers
Próximo Texto: Músico começou com trilhas para a TV
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.