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SHOW
Morando em Los Angeles há nove anos, Dori Caymmi vem ao Brasil para lançar seu novo disco
Dori traz sua "música para pensar" a SP
Divulgação
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O músico Dori Caymmi, que apresenta em São Paulo músicas do CD "Cinema: a Romantic Vision" |
CARLOS BOZZO JUNIOR
especial para a Folha
Seu pai, Dorival Caymmi, deve
tê-lo alimentado com sopa de
acordes, em vez do costumeiro
macarrão de letrinhas que é dado
às crianças em fase de desenvolvimento.
Quem duvida que corra ao Supremo Musical, de hoje à sexta-feira, para conferir o que Dori
Caymmi é capaz de fazer com as
tradicionais harmonias dos temas
musicais de filmes como "A Pantera Cor-de-Rosa", "A Noviça Rebelde", "Space Jam", "James
Bond", "Cinema Paradiso",
"Amor Sublime Amor" e outros
clássicos.
O músico, que mora há nove
anos em Los Angeles, está no Brasil para lançar seu décimo CD,
"Cinema: a Romantic Vision", em
que homenageia grandes compositores e arranjadores do cinema.
Em 89, Dori recebeu um convite
da gravadora Qwest, que pertence
ao maestro Quincy Jones, para
gravar um disco. "O convite foi o
primeiro motivo para minha mudança para os Estados Unidos.
Mas eu já estava extremamente
aborrecido com o fato de, já naquela época, não ter condições de
gravar aqui. O mercado aqui é para a música de massa. Eu faço música para pensar. E a massa não
quer pensar", diz Dori.
Leia, a seguir, trechos da entrevista que o músico concedeu à Folha.
Folha - Você não estaria trilhando o mesmo caminho percorrido por Laurindo de Almeida (1917-1995) que, apesar de
ter sido reconhecido no exterior
por sua obra, no Brasil poucos
sabem quem foi?
Dori Caymmi - A gente trilha o
que está escrito para trilharmos.
As coisas em minha vida acontecem sempre de surpresa. Eu me
considero um herói de poucos.
São poucas as pessoas que gostam
de acordes. Não sei fazer pagode
ou axé, porque isso é uma deformação do miolo da música que
mostrou a Bahia para o mundo.
Folha - Como é seu relacionamento com Quincy Jones?
Caymmi - Ele é muito delicado e
gentil. Às vezes ele me liga em casa para conversarmos, mas é raro.
Folha - Há repercussão da música instrumental brasileira nos
Estados Unidos?
Caymmi - Raramente eles tocam. O jazz já está morto. Eles
acabaram com o jazz, então, não
vão tocar instrumental brasileiro.
Folha - Qual é a maior vantagem, em termos musicais, de estar morando em Los Angeles?
Caymmi - São muitas. Se eu estivesse aqui, estaria apagado pela
angústia. A saudade é minha melhor fonte. Dela produzo minha
música.
Folha - Em que você se sente
mais à vontade: arranjando,
produzindo, compondo ou interpretando?
Caymmi - Só não me sinto à
vontade com gente sem talento.
Não gosto de me envolver com
gente assim, porque me sinto limitado a um gosto que não me
permite criar. Eu não tenho saco
para harmonias convencionais.
Folha - Qual é o conceito desse
seu último CD?
Caymmi - O conceito sou eu.
Queriam música de cinema, fui lá
e fiz. Comecei cantando "The
Shadow of Your Smile", depois
"Pink Panther", e, aí, uma puxou
a outra. Foi uma produção rápida, de uma semana e pouco. É um
disco para músicos, assim como
minha música, que é para pessoas
mais sensíveis.
Folha - Como foi a receptividade do disco, quando lançado
nos Estados Unidos?
Caymmi - Não tem negócio de
lançamento lá, não. Isso só existe
para os caras muito quentes. Alguns músicos me telefonaram logo depois que ouviram o trabalho. Mas, lá, lançamento de disco
é subir no vigésimo andar de um
prédio e jogar o CD lá de cima.
Quem pegar pegou. Agora a distribuição é ótima. Você encontra
o CD em qualquer grande loja.
Folha - Como você escolhe os
músicos?
Caymmi - Depende do arranjo.
Tem um, que está em outro disco,
que costumo dizer que fiz com
Freud, para a música "Aquarela
do Brasil", porque você fica
olhando para o Brasil, e canta
aquela música com uma tristeza
indescritível... Vi uma "Aquarela
do Brasil" escura, com aquela coisa do sambista que toca surdo na
hora do enterro. Minha primeira
visão foi o Herbie Hancock tocando esse arranjo. Aí, o Quincy o
conseguiu para mim.
Folha - Como será o show?
Quem toca com você?
Caymmi - Confirmados, só o
Teco Cardoso e eu. O Michel Shapiro, baterista, que tocou no disco, e o John Left Witch vão dar
uma canja. Vou tocar o repertório
do disco e atender pedidos.
Folha - Como será o próximo
CD?
Caymmi - Será o "Contemporâneo", um disco em que cantarei
uma música de cada amigo meu
de minha geração. Vai ter Gil,
Caetano, Edu Lobo, Milton Nascimento, Toninho Horta, Ivan Lins,
Djavan e Chico Buarque. Ficamos
longe uns dos outros, mas nos admiramos. No fundo, é uma competição em que muitos me dizem:
"Eu sou rico. E você, tem o quê?".
Aí, eu digo: "Eu tenho os meus
acordes".
Disco: Cinema: a Romantic Vision
Artista: Dori Caymmi
Lançamento: Atração
Quanto: R$ 18, em média
Show: Dori Caymmi
Quando: hoje, amanhã e sexta, às 21h
Onde: Supremo Musical (r. Oscar Freire,
1.000, Jardins, São Paulo, tel. 0/xx/11/
852-0950)
Quanto: R$ 40
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