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PALESTRA
Conhecido como o Voltaire espanhol, o filósofo coordena hoje o seminário "O Que Será da Ética?", na Faap
Fernando Savater fala sobre ética, política e cultura
JUAN ARIAS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Aos 50 anos, o escritor e pedagogo basco Fernando Savater, que
coordena um seminário hoje em
São Paulo, é uma peça-chave no
debate cultural e ético atual, na
Espanha e no resto do mundo.
Muito empenhado na luta para
devolver ao País Basco a paz perdida, mesmo tendo a vida constantemente ameaçada pelos terroristas do ETA, o catedrático em
ética da universidade Complutense, de Madri, é um intelectual atípico, considerado o filósofo do
possível contra o provável, espécie de chicote contra os estúpidos,
inconformista, iconoclasta e, sobretudo, um eterno provocador.
No futuro, será difícil escrever a
história da nova democracia espanhola pós-franquismo sem estudar a obra desse filósofo que
nunca militou em partidos políticos e que, no entanto, tem papel
fundamental na política, tendo
dedicado a ela um de seus livros
mais famosos: "Política para Meu
Filho", que junto com "Ética para
Meu Filho" (ambos publicados
pela Martins Fontes) o tornou
mundialmente conhecido.
Savater desempenha hoje no
debate cultural, filosófico e político da Espanha e da Europa, e cada
vez mais na América Latina, um
papel de consciência crítica da sociedade, como foi na Itália o falecido escritor siciliano e combatedor da Máfia Leonardo Sciascia.
Você pode ficar contra ou a favor de Savater, de seus escritos, de
suas posturas radicais contra a intransigência e a barbárie e da coerência ética de suas atitudes, mas
nunca indiferente, porque é um
intelectual que obriga cada um a
confrontar-se consigo mesmo.
Totalmente anti-herói, com
uma dose de humor e de autocrítica, homem de bom senso, conversador admirável, o filósofo
basco costuma tirar a dramaticidade da vida e das coisas.
Um dia eu perguntei se ele se
preocupava por não entender certos mistérios da vida e ele respondeu: "Como vou me preocupar se
não entendo nem a luz elétrica!".
Savater defende o direito à felicidade, embora acredite mais na
alegria. Não é catastrófico, não dá
sequer importância às ameaças de
morte feitas pelos terroristas do
ETA, que o vêem como traidor.
Apelidado de Voltaire espanhol,
é visto pelas igrejas como fustigador dos deuses. É, sem dúvida,
um agnóstico que sempre analisou com extremo senso crítico o
que as religiões têm de fundamentalismo e de intolerância.
Meigo como um menino, cultuador da amizade e alérgico às
cerimônias oficiais, dedica grande
parte de seu tempo à leitura, teorizando que quem ama ler nunca
sofrerá de solidão.
É um intelectual sem luxos,
pouco amante do poder, mas que
desfruta as pequenas satisfações
da vida. Quando lhe entrevistei
para meu livro "Fernando Savater: El Arte de Vivir", lhe perguntei com o que mais se diverte. Ele
respondeu: "Devo ser bobo, porque quase tudo me faz rir, pois vejo o lado ridículo das coisas".
Se o que mais lhe repugna na vida é "a crueldade", o que mais
ama "são os livros, o mar, alguns
vinhos, a companhia de algumas
pessoas e o galope dos cavalos"
(tema de livro recente do filósofo).
Savater possui uma qualidade
que até seus inimigos reconhecem: sua enorme generosidade,
com uma simpatia envolvente e
vocação para dizer o que pensa,
sem nunca morder a língua.
Juan Arias, correspondente do jornal
espanhol "El País" no Brasil, é autor de
"Fernando Savater: El Arte de Vivir" (ed.
Planeta, Espanha), entre outros livros
O QUE SERÁ DA ÉTICA? - seminário com
Fernando Savater. Quando: hoje, das
8h40 às 17h. Onde: auditório da
Fundação Armando Álvares Penteado (r.
Itatiara, portão G3, Pacaembu). Quanto:
R$ 200. Informações: Centro de Estudos
da Escola da Vila (tel. 0/xx/11/ 3726-3384).
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