São Paulo, sábado, 03 de novembro de 2001

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PALESTRA

Conhecido como o Voltaire espanhol, o filósofo coordena hoje o seminário "O Que Será da Ética?", na Faap

Fernando Savater fala sobre ética, política e cultura

JUAN ARIAS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Aos 50 anos, o escritor e pedagogo basco Fernando Savater, que coordena um seminário hoje em São Paulo, é uma peça-chave no debate cultural e ético atual, na Espanha e no resto do mundo.
Muito empenhado na luta para devolver ao País Basco a paz perdida, mesmo tendo a vida constantemente ameaçada pelos terroristas do ETA, o catedrático em ética da universidade Complutense, de Madri, é um intelectual atípico, considerado o filósofo do possível contra o provável, espécie de chicote contra os estúpidos, inconformista, iconoclasta e, sobretudo, um eterno provocador.
No futuro, será difícil escrever a história da nova democracia espanhola pós-franquismo sem estudar a obra desse filósofo que nunca militou em partidos políticos e que, no entanto, tem papel fundamental na política, tendo dedicado a ela um de seus livros mais famosos: "Política para Meu Filho", que junto com "Ética para Meu Filho" (ambos publicados pela Martins Fontes) o tornou mundialmente conhecido.
Savater desempenha hoje no debate cultural, filosófico e político da Espanha e da Europa, e cada vez mais na América Latina, um papel de consciência crítica da sociedade, como foi na Itália o falecido escritor siciliano e combatedor da Máfia Leonardo Sciascia.
Você pode ficar contra ou a favor de Savater, de seus escritos, de suas posturas radicais contra a intransigência e a barbárie e da coerência ética de suas atitudes, mas nunca indiferente, porque é um intelectual que obriga cada um a confrontar-se consigo mesmo.
Totalmente anti-herói, com uma dose de humor e de autocrítica, homem de bom senso, conversador admirável, o filósofo basco costuma tirar a dramaticidade da vida e das coisas.
Um dia eu perguntei se ele se preocupava por não entender certos mistérios da vida e ele respondeu: "Como vou me preocupar se não entendo nem a luz elétrica!".
Savater defende o direito à felicidade, embora acredite mais na alegria. Não é catastrófico, não dá sequer importância às ameaças de morte feitas pelos terroristas do ETA, que o vêem como traidor.
Apelidado de Voltaire espanhol, é visto pelas igrejas como fustigador dos deuses. É, sem dúvida, um agnóstico que sempre analisou com extremo senso crítico o que as religiões têm de fundamentalismo e de intolerância.
Meigo como um menino, cultuador da amizade e alérgico às cerimônias oficiais, dedica grande parte de seu tempo à leitura, teorizando que quem ama ler nunca sofrerá de solidão.
É um intelectual sem luxos, pouco amante do poder, mas que desfruta as pequenas satisfações da vida. Quando lhe entrevistei para meu livro "Fernando Savater: El Arte de Vivir", lhe perguntei com o que mais se diverte. Ele respondeu: "Devo ser bobo, porque quase tudo me faz rir, pois vejo o lado ridículo das coisas".
Se o que mais lhe repugna na vida é "a crueldade", o que mais ama "são os livros, o mar, alguns vinhos, a companhia de algumas pessoas e o galope dos cavalos" (tema de livro recente do filósofo).
Savater possui uma qualidade que até seus inimigos reconhecem: sua enorme generosidade, com uma simpatia envolvente e vocação para dizer o que pensa, sem nunca morder a língua.


Juan Arias, correspondente do jornal espanhol "El País" no Brasil, é autor de "Fernando Savater: El Arte de Vivir" (ed. Planeta, Espanha), entre outros livros



O QUE SERÁ DA ÉTICA? - seminário com Fernando Savater. Quando: hoje, das 8h40 às 17h. Onde: auditório da Fundação Armando Álvares Penteado (r. Itatiara, portão G3, Pacaembu). Quanto: R$ 200. Informações: Centro de Estudos da Escola da Vila (tel. 0/xx/11/ 3726-3384).



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