São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2004

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MÚSICA

Divisão por palcos prejudica quem gostaria de assistir a muitas atrações e leva público a viajar para Buenos Aires

Estrutura de festival encarece ingressos

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

The Libertines: R$ 60. Primal Scream: R$ 80. Kraftwerk: R$ 80. Brian Wilson: R$ 120. 2ManyDJs: R$ 40. Pet Shop Boys: R$ 40. Para quem gosta de música pop, o Tim Festival é um prato bem servido -mas a conta vem salgada. Num roteiro simples, excluindo-se os jazzistas, quem quiser assistir aos artistas citados, em três dias de evento (entre sexta e domingo), terá que desembolsar R$ 420.
O valor é alto e conseqüência da estratégia de estruturação do festival: são quatro programas (Tim Stage, Tim Lab, Tim Club, Motomix) divididos em três palcos. Para cada programa, é preciso comprar ingresso separado.
Muitos que gostariam de assistir à maioria das atrações tiveram que se contentar com apenas um ou outro programa; outros encontraram solução um pouco mais além: em Buenos Aires.
Simultaneamente ao Tim, nos dias 5 e 6, acontece na capital argentina o Personal Fest, que receberá muitos dos artistas que passam pelo Brasil, como Primal Scream e PJ Harvey, e outros que estarão apenas lá, como Morrissey e Blondie (é bom ressaltar que Brian Wilson, Kraftwerk e Libertines estarão apenas por aqui...).
Dividido em cinco palcos, mas com um ingresso dando direito a todos eles, o evento portenho levará muitos brasileiros a Buenos Aires. "O preço aqui é muito alto. Lá paguei R$ 100 para assistir aos dois dias do festival. Por esse preço, no Brasil, eu conseguiria ir a apenas um ou dois palcos", diz o produtor fotográfico Douglas Cometti, 32, que embarca hoje para a Argentina. "Além de ter o Morrissey, a gente aproveita a oportunidade para comprar um pacote de viagem, e não sai caro", afirma André Fiori, 40, comerciante.
Com uma bagagem de quase 20 anos (desde 1985, antes como Free Jazz) de relativo sucesso tanto de crítica como de público, a organização do evento refuta a tese de que o Tim Festival seja caro.
"Outros festivais apostam muito mais no entretenimento do que na música. No Tim, nossa preocupação é outra. O maior palco tem capacidade para 4.000 lugares. Os artistas são caros, não podemos abrir mão da receita com bilheteria", diz Carlos Martins, 49, da produtora Dueto, responsável pela infra-estrutura do Tim Festival.
"Nesse festival de Buenos Aires, eles esperam 50 mil pessoas. Mas vem escrito no ingresso: "Sujeito a lotação". Quer dizer, você corre o risco de não conseguir assistir a um artista que queira ver. Teve artista, como Brian Wilson e Kraftwerk, que não gostaram dessa filosofia, por isso não vão tocar lá. Isso não acontece no Tim", afirma Martins. Segundo ele, o evento não recebe incentivo fiscal.
"Temos outra filosofia. Aqui temos três salas, com quatro programações. São em média de 13 mil pessoas por dia. Nós respeitamos o público, as pessoas que realmente querem ver o artista."
A estrutura do Tim Festival não deve mudar. Há planos de o evento, anual, acontecer simultaneamente no Rio de Janeiro e em São Paulo (atualmente a estratégia é alternar o festival como um todo entre as duas cidades). "Entendemos que estamos num tamanho limite. Se aumentarmos, descaracteriza o evento. Talvez façamos até mais um palco ou daremos espaço para outro gênero musical", afirma Martins.


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